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No embalo da aprovação da reforma trabalhista, a bancada ruralista tenta engatar a mudanças nas leis que tratam da proteção dos direitos do trabalhador rural. O objetivo segue o padrão da reforma de Michel Temer: restringir o poder da Justiça do Trabalho e do Ministério Público do Trabalho e alterar normas para permitir, por exemplo, que o empregador deixe de pagar salário ao empregado do campo, podendo remunerar em “qualquer espécie”, como alimentação e moradia.
A proposta foi retirada da reforma trabalhista que foi aprovada
pela Câmara na semana passada para não aumentar ainda mais a
resistência ao projeto. Agora, 192 itens serão reaproveitados em um
projeto do deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), coordenador da frente
parlamentar.
De acordo com matéria publicada pelo jornal Valor, o
texto aumenta para até 12 horas a jornada diária por “motivos de
força maior” e permite a substituição do repouso semanal dos
funcionários por um período contínuo, com até 18 dias de trabalho
seguidos. Autoriza, ainda, a venda integral das férias dos
empregados.
“Existe preconceito muito grande da Justiça do Trabalho com o
trabalhador rural”, afirma o tucano Nilson Leitão, que argumenta
tal absurdo com a teses de que as leis trabalhistas e os
regulamentos expedidos pelo Ministério do Trabalho são elaborados
com base nos conhecimentos adquiridos no meio urbano, desprezando
“usos, costumes e a cultura do campo”.
O parlamentar disse ainda que a articulação política do governo e a
Casa Civil foram consultadas e apoiaram a proposta que deverá ser
debatida numa comissão especial da Câmara que deve ser instalada
nas próximas semanas.
Conhecido como um dos principais porta-vozes dos ruralistas no
Congresso, Leitão foi um dos autores do pedido de criação da CPI da
Funai, comissão que relatou. Também foi o presidente da comissão
especial que aprovou a proposta de emenda à Constituição (PEC 215)
que transfere, do Executivo para o Legislativo, a palavra final
sobre o reconhecimento das terras indígenas.
A oposição, que em protesto não indicou os integrantes, classifica
a proposta como "mais perversa que a própria reforma trabalhista".
Entidades de defesa dos trabalhadores rurais, como a Confederação
Nacional dos Trabalhadores Rurais (Contag) e a Confederação
Nacional dos Trabalhadores Assalariados (Contar), em nota técnica
afirmam que o projeto "fere de morte normas constitucionais e
infraconstitucionais relativas à saúde e segurança".
O tucano defende que as alterações vão modernizar a relação no
campo, com aumento dos lucros, redução de custos e geração de novos
postos de trabalho.
Mas o projeto revoga leis elementares de segurança e saúde para os
trabalhadores rurais. Uma delas é a norma do Ministério do Trabalho
sobre as regras de segurança e saúde no campo (NR-31), que de
acordo com o projeto liberaria as empresas da obrigação de manter
equipamentos de primeiros socorros no local e com o exame
demissional caso o funcionário tenha realizado exame médico
ocupacional ou perícia no INSS nos últimos 90 dias.
A proposta também deixa exclusivamente com o Ministério da
Agricultura a fixação de regras sobre a manipulação de agrotóxicos,
excluindo os Ministérios da Saúde e do Trabalho, acaba com a
obrigação de descontaminar os equipamentos de segurança ao fim de
cada jornada e permite que maiores de 60 anos utilizem os chamados
defensivos agrícolas.
Volta à escravidão
E não fica por ai. O texto evidencia que se trata da volta à
escravidão quando autoriza que, sempre que a jornada normal for
interrompida por "motivo de força maior ou resultante de causas
acidentais" - com uma máquina quebrada-, o trabalhador poderá ser
obrigado a trabalhar até quatro horas a mais para "recuperação do
tempo perdido".
O trabalho aos domingos e feriados, hoje limitado por portaria do
Ministério do Trabalho a laudos técnicos que indiquem a necessidade
de execução de serviços nesses dias, também estará liberado ao
desejo do patrão.
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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