“Nós, mulheres, avançamos nos direitos, mas ainda há muito para se que conquistar”

A afirmação é da Secretária da Mulher da CNTTL, Mara Meiry Tavares


Publicação: 06/03/2015
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Mara participa da fundação da CNTTL, em Brasilia - Foto: Viviane Barbosa/Mídia Consulte

Em homenagem ao Dia Internacional das Mulheres, a redação do Sindicato Nacional dos Aeroportuários (SINA) entrevistou a delegada sindical de Uberlândia (MG), Mara Meiry Tavares, secretária da Mulher da CNTTL e representante do Sindicato no Comitê de Mulheres da ITF. Mara integra o grupo de aeroportuárias que participa ativamente do Sindicato, na luta pelos direitos da categoria e por avanços nas relações de gênero.

As mulheres vêm conquistando direitos e espaços na sociedade, mas ainda há muito o que mudar culturalmente para que haja igualdade de fato. Como você vê essa questão nos dias atuais e quais são, no seu ponto de vista, os principais desafios nessa luta?

Acompanhamos um grande avanço nos direitos das mulheres ao longo da história, mas isso se deu a passos muito lentos se considerarmos que o “movimento feminista” teve início com a Revolução Industrial ainda no século XVIII. Ainda há muito o que se fazer. Sem dúvida nenhuma, os trabalhos das entidades representativas da sociedade, como a CUT, os sindicatos e as federações e confederações nacionais e internacionais, tem sido fundamental neste processo. De uma forma geral, o principal desafio a ser vencido ainda é o mesmo desde o início dos tempos: o machismo. Precisamos desconstruir o pré-conceito de que a mulher é o sexo frágil e que ainda tem que ser comandada pelo homem. O outro desafio que considero mais complexo é fazer com que todas as mulheres se conscientizem da sua capacidade, da sua força, do seu potencial e da importância do seu papel na sociedade, pois infelizmente ainda temos muitas mulheres machistas. A meu ver, pior do que enfrentar o machismo dos homens é enfrentar o machismo das mulheres contra as próprias mulheres.
E, por último, porém não menos importante, é preciso que o movimento em torno dos direitos das mulheres se torne homogêneo e deixe de ter uma visão classista.

No setor aéreo, você considera que essa igualdade foi conquistada? O que ainda é preciso avançar?

O setor aéreo compreende três categorias: aeroportuários, aeroviários e aeronautas. As contratações de aeroportuários nas empresas públicas são feitas através de concurso público, e os editais não promovem distinção por sexo. O que ocorre é que em alguns cargos, por uma questão de cultura e escolha, as mulheres têm uma ocupação mínima. A distinção se dá posteriormente na ocupação dos cargos de chefia. Já nas empresas privadas, para os aeroportuários, os critérios de seleção são os mesmos utilizados em todo o mercado, ou seja, estão de acordo com os interesses e os perfis definidos pela empresa contratante. Muitas vezes, a avaliação da competência é o que menos importa. Também encontramos essa situação na seleção de aeroviários e aeronautas, já que se trata do setor privado. A única mudança, que a meu ver está apenas começando, se dá junto aos aeronautas: houve um avanço nos cargos de pilotos e copilotos que eram ocupados somente por homens e hoje já têm uma presença, ainda que muito tímida, de mulheres. Já entre os comissários de bordo o movimento tem sido o contrário: as vagas eram ocupadas somente por mulheres e hoje já existe uma ocupação masculina significativa. Mas precisamos avançar muito, pois a igualdade ainda está longe de ser alcançada.

Em 2014, uma aeroviária da Azul foi demitida após ser eleita delegada sindical do Sindicato Nacional dos Aeroviários. Ela foi reintegrada três meses depois, por decisão judicial. No Equador, a aeronauta Jimena López, secretária geral do SITA (Sindicato de Trabajadores de Aerolane), também foi demitida por ser dirigente sindical. A Federação Internacional dos Trabalhadores em Transportes (ITF) lançou uma campanha em apoio à sindicalista. Diante desses fatos, como você vê a atuação das mulheres no movimento sindical e as dificuldades que elas enfrentam como sindicalistas?

A participação das mulheres no movimento sindical vem crescendo visivelmente. Mas talvez numa proporção ainda maior vêm crescendo os problemas para exercermos nosso papel de sindicalistas, a julgar por estas duas situações que não são fatos únicos e isolados. Elas são apenas exemplos de uma das formas de perseguição que sofremos por parte das empresas e o seu poder capitalista e machista. A demissão da companheira Jimena López trata-se claramente de um ato antissindical que não pode ser tolerado. Ela é uma líder que luta incansavelmente pelos direitos dos seus colegas, sejam eles homens ou mulheres. Ela é um exemplo do papel extensivo que nós mulheres podemos desempenhar em nossos sindicatos quando temos os meios e a oportunidade. Não podemos também deixar de destacar a importância da ITF para o setor aéreo, pois ao longo de toda sua existência, sempre deu apoio e orientação para garantirmos os nossos direitos e conquistarmos novos. Contudo, as nossas dificuldades começam dentro de nossas próprias casas. Temos que enfrentar pais, maridos, filhos, uma vez que o movimento sindical, de uma maneira geral, principalmente no nosso ramo dos Transportes, é um ambiente constituído em sua grande maioria por homens, e isso os deixa inseguros.
Depois de vencermos esta situação, precisamos conquistar nosso espaço e o respeito dos próprios colegas homens dentro das entidades que representamos. Somado a tudo isso ainda enfrentamos o preconceito, inclusive da própria categoria, com o movimento sindical de uma forma geral. Não é fácil.

Você participa da luta em prol da igualdade de direitos para as mulheres no setor aéreo através da ITF, CNTTL e Sina. Como tem sido essa atuação e quais ações as entidades têm realizado por essa luta?

Em primeiro lugar, o Sindicato Nacional dos Aeroportuários, o Sina, mudou radicalmente o tratamento dispensado às mulheres desde o início da primeira gestão do presidente Francisco Lemos, em 2008. Várias delegadas foram eleitas nos vários aeroportos que representamos, surgiram mais oportunidades de atuação e capacitação. Foi com esta nova política de gestão que alcançamos representação na Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) e também na ITF. Pela CNTTL, como secretária da mulher, estou participando do curso de fortalecimento político para mulheres, promovido em parceria com a CUT Nacional e a Unicamp. Ele tem por objetivo repassar informações sobre a ocupação das mulheres no mercado de trabalho e também na sociedade e, através de uma pesquisa que está sendo realizada, atualizar estas informações. A partir disso, identificamos os pontos críticos e desenvolvemos ações em parceria com as entidades para minimizar as dificuldades enfrentadas pelas mulheres. Também através de uma ação conjunta entre o Sina e a ITF estamos participando de um curso sobre educação sindical e formação. A capacitação é extremamente necessária para fortalecer nossa atuação no movimento sindical. Neste quesito, entendo que a CNTTL ainda tem que avançar muito, por se tratar de uma entidade onde mais de 80% de seus filiados são do ramo Rodoviário e, portanto, com uma participação majoritariamente masculina. Nessa entidade ainda não temos um trabalho efetivo voltado para as mulheres.

Como está a discussão pela criação da Secretaria da Mulher no Sina?

Além de todo apoio e espaço que conquistamos dentro do Sina nos últimos anos, para marcar o Dia Internacional das Mulheres deste ano está sendo criada a Secretaria da Mulher. A informação que tenho é que estão sendo tomadas todas as providências jurídicas necessárias para viabilizar este sonho e transformá-lo em realidade. Para nós, mulheres aeroportuárias, a criação desta secretaria é o reconhecimento e a valorização do nosso trabalho. Ela significa muito para nós.

Que mensagem você daria para as mulheres aeroportuárias, aeroviárias e aeronautas do Brasil e do mundo?

No Brasil, o que eu vejo é que, apesar de muitas conquistas, principalmente na questão da paridade, a igualdade ainda é fictícia sob muitos aspectos. Na questão dos cargos eletivos, por exemplo, a lei garante a participação das mulheres. No entanto, as condições de disputa entre candidatos homens e mulheres, nas eleições, não são as mesmas. A maioria dos partidos “convoca” mulheres a se candidatar somente para cumprir a cota. Sem dúvida temos um avanço histórico: temos uma mulher na Presidência da República por dois mandatos. Mas quando analisamos a taxa de ocupação destes cargos, num país em que 50% da população é de mulheres, o cenário político demonstra uma falta de consciência das próprias mulheres. Se déssemos mais oportunidade às candidatas mulheres, esta realidade seria bem diferente. Nas entidades que tive a oportunidade de conhecer de perto, esse cenário também se faz presente: mulheres ocupando cargos meramente para cumprir a lei e passar uma imagem de “politicamente correto”, o que é lamentável. A análise que faço desta situação dentro das entidades de classe é que não somos excluídas por sermos consideradas incompetentes. Muito pelo contrário, nossa presença ainda é considerada ameaçadora à perda de espaços e disputa de ideias. Apesar de todo este quadro de dificuldades, eu entendo que o que tem que ser realmente valorizado são os avanços. São neles que todas nós, mulheres, independente de categoria ou nacionalidade, temos que focar para construirmos cada vez mais meios de nos unir e fortalecer nossa luta. Faz parte da essência feminina enfrentar e superar desafios. Todas as mulheres são guerreiras por natureza. Além disso, é extremamente importante que as mulheres jovens participem e ocupem cada vez mais espaços. É através delas, da sua vitalidade e juventude, que podemos avançar. Temos que pensar que, historicamente, as mulheres que marcaram nossa luta estão envelhecendo, precisam de outras para dar continuidade à luta. Nenhum dos direitos que desfrutamos hoje foi conseguido sem luta, sem pessoas que se doaram por anos, sacrificando muitas vezes suas próprias vidas. Não podemos esquecer isso.

Do SINA



Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran

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