Caminhoneiros autônomos são as primeiras vítimas do aumento do preço do diesel

Diretor da Confederação dos Transportes e Logística da CUT afirma que os autônomos serão os mais impactados e que o efeito cascata do reajuste do diesel está contribuindo para o país chegar a uma hiperinflação

Por: Andre Accarini | Editado por: Marize Muniz
Publicação: 12/05/2022
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MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL

A escalada de aumentos de preços dos combustíveis no Brasil, resultado da Política de Paridade de Importação (PPI), adotada pela Petrobras em 2016 e mantida pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), está empurrando o país para o abismo da hiperinflação e tornando insustentável o trabalho e a sobrevivência financeira de milhares de caminhoneiros e da população em geral que nem comida consegue comprar.

O último reajuste foi no diesel - 40 centavos por litros nas refinarias a partir da terça-feira (10). Em 12 meses, até abril, o óleo diesel acumula alta de 53,58%, segundo o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nesta quarta-feira (11).

 “Todos pagam o preço dessa política absurda [PPI] a começar pelos caminhoneiros autônomos, que bancam do próprio bolso os custos com os caminhões”, diz Carlos Alberto Litti Dahmer, diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística da CUT (CNTTL).

Segundo ele, a maioria dos caminhoneiros têm veículos velhos, com idade média de 21 anos, que consomem 20% a mais de óleo diesel se comparados a caminhões novos, com tecnologia mais avançada. “Esse [trabalhador] é o que primeiro de uma lista que vai ser atacado por mais um aumento”, diz o dirigente.  

No total, entre veículos de autônomos e de transportadoras, segundo Litti Dahmer, rodam pelas estradas brasileiras hoje cerca de um milhão de veículos mais velhos. Por isso, ressalta, as pequenas e médias empresas de transporte também terão dificuldades. E a ‘lista de impactados’, explica, é maior porque o aumento afeta todos os outros preços de produtos consumidos no Brasil.

 Cerca de 90% do que é transportado no país é por caminhões, portanto, a grande maioria do que se comercializa hoje no país, passa por esse tipo de transporte e também sofrerá impactos.

“Vai bater diretamente na prateleira, diretamente no prato de cada cidadão e não será mais uma inflação. Será o retorno da hiperinflação”, diz Litti Dahmer.

“A total responsabilidade por essa situação é o presidente da República, que não toma nenhuma atitude para mudar a política de preços da Petrobras, para beneficiar os acionistas”, afirma o dirigente.

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“Mesmo o governo sendo acionista majoritário da estatal e tendo poder decisão sobre que rumo a empresa deve tomar para controlar os preços e proteger tanto a economia como o povo brasileiro, o verdadeiro dono da Petrobras não faz nada”, diz o diretor da CNTTL.

É uma a ladainha do Bolsonaro dizer que não é dele a responsabilidade. É total. É 100% dele. Tem que parar de transferir responsabilidade para os outros e tomar decisão não favorável aos acionistas estrangeiros e sim à população brasileira
- Carlos Alberto Litti Dahmer


Outro ponto apontado pelo sindicalista é que o Brasil é autossuficiente na produção de petróleo. O Brasil, hoje, extrai o petróleo cru e envia para outros países para o refino e, então compra os derivados com preços internacionais.

“Produzimos mais de 1,6 milhão de barris por dia quando a demanda é de 1,4 milhão. No entanto, mandamos esse barril cru para fora, para ser refinado em Cingapura, nos EUA, na Inglaterra, ao invés de usarmos nossas refinarias que estão com 60% da capacidade ociosa”, diz o diretor da CNTTL.

Autônomos

A categoria vem sofrendo as consequências desde 2016 quando a PPI foi implantada pelo então presidente da estatal, Pedro Parente, no governo do ilegítimo Michel Temer (MDB). De acordo com dados da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), em 2017, o Brasil tinha cerca de 919 mil transportadores autônomos. O número caiu para 696 mil em 2021. O motivo é que esses profissionais, conforme diz Litti, não tem como ‘bancar’ o próprio trabalho. “Ou ele come ou ele abastece e dá manutenção”, diz o dirigente.

E quem roda nas estradas facilmente identifica vários desses veículos rodando sem condições. A falta de manutenção coloca em risco a segurança não só do caminhoneiro mas da sociedade.

“Ficou insustentável. Muitos já venderam o caminhão por não conseguir manter, mas aí veio outro, que comprou esse caminhão, recebeu o fundo de garantia, juntou um dinheiro e foi tentar a vida na estrada, mas ele vai sofrer também”, diz o dirigente reforçando que “são famílias que estão passando por aperto”.

Mobilização

Há uma certa dificuldade de organização da categoria no que diz respeito a realizar greves. Em 2018, ainda durante o governo Temer, caminhoneiros paralisaram durante dez dias, também tendo como reivindicação os preços dos combustíveis e a fixação de uma tabela mínima para os valores de frete.

“Os caminhoneiros são parte de uma sociedade que é explorada cada vez mais por um desgoverno que retira direitos e que não dá margem nenhuma para negociação. E quando se faz mobilização a primeira resposta do Estado é o aparelhamento e a repressão com interditos proibitório e multas milionárias aos trabalhadores”.

Mas o dirigente dá um recado de ânimo aos trabalhadores para se mobilizem. “O aparato do estado fascista é para opressão, mas a sociedade tem que mostrar quem tem o comando da nação. Os caminhoneiros têm que ter uma atitude, ir à luta para mostrar quem move o país”, conclui.



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