O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participou nesta sexta-feira (15) do Encontro dos movimentos do campo, das florestas e das águas: pela Vida e Contra a Fome, na Casa de Portugal, no centro de São Paulo. Ele reafirmou que a volta da fome ao país “é resultado da mentalidade escravista” das elites brasileiras, combinada com as reformas neoliberais aplicadas desde o governo golpista de Michel Temer, agora aprofundadas com Bolsonaro. “A gente pode produzir o que quiser, mas se o povo não tiver dinheiro, não come”, afirmou.
Não se trata apenas de fome de alimentos, segundo o ex-presidente, mas da ânsia por uma série de direitos básicos que foram desmontados nos últimos anos. “Estamos falando apenas de fome de comida. Mas temos muitas outras fomes. Nós temos fome de desenvolvimento, fome de emprego, fome de saúde, fome de fraternidade, fome de saneamento básico, fome de paz, fome de democracia. E, sobretudo, a fome de dignidade”, disse Lula.
O ex-presidente disse que atualmente a situação do emprego é mais
grave do que no passado. “Hoje a gente não sabe o que vai acontecer
e a ‘grande oportunidade’ é o emprego de aplicativo”, ironizou.
Também disse que “conseguiram convencer parte da população a abrir
mão da CLT e das garantias da carteira de trabalho, em nome do
sonho do empreendedorismo”. Como resultado, no Brasil e no mundo,
as desigualdades aumentaram. Os empresários ficaram ainda mais
ricos, mesmo durante a pandemia.
“O dono da Amazon comprou um iate de US$ 400 milhões. Certamente, para esse cara, melhorou pra caramba. Mas e para os funcionários dele, será que melhorou? E para os entregadores de aplicativo? Para a população mundial como um todo, será que melhorou?”, questionou.
Lula anunciou ainda que alimentos oferecidos pelos movimentos no
evento serão doados à Pastoral do Povo de Rua de São Paulo, aos
cuidados do padre Júlio Lancelloti, para aplacar em parte a fome da
população vulnerável de São Paulo neste sábado (16), marcando o Dia
Mundial da Alimentação.
Fome é submissão
Lula disse que sua experiência política lhe ensinou que “a fome não
leva ninguém à revolução”. “A fome leva o ser humano à submissão”,
ressaltou. Por isso, ele afirmou que os que comem têm que dar as
mãos aos que não comem. “Depende de nós, que temos consciência
política e espírito de solidariedade. Que somos socializantes, que
acreditamos que a fraternidade tem que permear os passos da
humanidade daqui para frente”.
O ex-presidente destacou que é apontado como “indesejado” por parte do empresariado brasileiro. “Quero continuar sendo indesejável. Não quero governar o Brasil para eles. Quero governar o Brasil para o povo pobre, que trabalha e leva comida para casa”, declarou.
“Sou velho, estou falando do passado. Deveria estar falando do futuro. Mas essa gente que cassou a Dilma falando em fazer a ‘ponte para o futuro‘, olha a ponte que nos deram: um purgatório. Essa gente faz autocrítica? Não, eles querem a continuidade disso”, ressaltou.
Comida, educação e trabalho
O ex-ministro da Educação Fernando Haddad destacou que Lula quer
que o brasileiro “volte a comer, a trabalhar e estudar”. É o novo
trinômio que substitui a ambição das campanhas anteriores, que era
garantir café da amanhã, almoço e janta para toda a população. Esse
objetivo foi alcançado, entre 2003 e 2016, lembrou. “Não ouvíamos
falar mais em insegurança alimentar e subnutrição”.
“O senhor vai ser eleito ano que vem. Porque não é possível que alguém consiga conviver com o que se vê nas ruas da cidade mais rica do país. Visitem o centro de São Paulo e vejam a condição das famílias, a petição de miséria na cidade mais rica do país”, disse Haddad dirigindo-se a Lula. O ex-ministro ainda criticou oscortes de 92% dos recursos voltados para Ciência e Tecnologia, conforme consta na proposta do Orçamento para o ano que vem. “Sem ciência, não teríamos nem vacina para a gente se proteger dessa pandemia”.
O líder do PT na Câmara, deputado Elvino Bohn Gass (PT-RS), destacou que o povo sofre com a alta dos alimentos, com salário mínimo defasado, com o fim da política de valorização. Além disso, também destacou que parcela importantes dos empregos foram destruídos com os impactos da Operação Lava Jato, que acabou afetando grandes empresas da construção civil e do setor de petróleo.
Por outro lado, o deputado federal Pedro Uczai (PT-SC), coordenador do Núcleo Agrário do PT, disse que o neoliberalismo avança também no campo, com a destruição de políticas públicas voltadas à agricultura familiar, responsável por 70% dos alimentos que chegam à mesa dos brasileiros. O desafio, segundo ele, é convencer o agricultor a plantar alimentos para o mercado interno, enquanto os preços de culturas de exportação estão nas alturas. Contudo, disse que a hora é de “esperançar”, citando o educador Paulo Freire.
Movimentos
Alexandre Conceição, dirigente da Coordenação Nacional do Movimento
dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) afirmou que é preciso ir
além, operando mudanças na estrutura fundiária do país. Além de
combater a grilagem de terras públicas, que vem sendo estimulada
pelo atual governo “É preciso mexer na estrutura, com a retomada da
reforma agrária. O atual presidente levou para o Congresso e para o
ministério os velhos latifundiários, que estão roubando as terras
públicas”.
Nesse sentido, Saiane Ferreira, representando o Movimento dos Pequenos Agricultores e Agricultoras (MPA), também sugeriu a criação de uma empresa pública, aos moldes da Petrobras, para garantir o abastecimento e a distribuição de alimentos no país. “É importante retomar a Conab (Companhia Nacional de Abastecimento), transformando-a numa Conabras”, sugeriu. Também denunciou o desmonte em políticas públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Representante da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contraf), Josana Lima disse que Bolsonaro, “genocida que não respeita a vida”, é o principal fator que leva preocupação às famílias camponesas. Além disso, faltam também políticas de combate à crise hídrica, que ameaça a produção. “É necessário pensar na reconstrução desse país. E não dá para falar em reconstrução sem pensar em alimento na mesa do povo brasileiro”.
Indígenas e quilombolas ressaltaram que são as terras por eles ocupadas que servem de “proteção” ao avanço do agronegócio, resguardando a biodiversidade dessas regiões. Contudo, também denunciaram a paralisação nos processos de demarcação. Além disso, pescadores e extrativistas também afirmaram que estão sendo atacados, com suas terras ameaçadas por grandes grupos econômicos.
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