É tempo de conceder ganho real para os trabalhadores
O Portal CNTT-CUT divulga artigo de Lizeu Mazzioni, Secretário de Comunicação da CUT-SC.
Publicação: 16/04/2010
O Brasil não
caiu diante da crise internacional gerada pela ciranda financeira
impulsionada pelas políticas neoliberais implantadas mundo a fora
nos anos oitenta e noventa, inclusive no nosso. A tese do Estado
mínimo e do mercado máximo faliu juntamente com alguns dos seus
formuladores. O neoliberalismo enquanto política econômica e de
Estado gerou crises proporcionais ao grau de implementação adotada
em cada país.
No Brasil, com o governo Lula e a retomada do papel do Estado na
gestão da economia, com o fortalecimento do BNDES, da Caixa, do
Banco do Brasil, da Petrobras, do Sistema Eletrobrás, com a redução
do endividamento público e ampliação das reservas cambiais,
juntamente com as políticas de ampliação do crédito produtivo,
inclusive subsidiado, a industria, agricultura, construção civil,
construção naval, às obras de infra-estrutura com expansão das
obras públicas, combinado com a simplificação e redução da carga
tributária, crédito facilitado e mercado público para as micros e
pequenas empresas e empreendedores individuais, somado ainda com a
valorização do salário mínimo e o fortalecimento das políticas
públicas, alcançamos um período de crescimento econômico com
distribuição de renda, onde cresce o emprego e o empreendedorismo
formal.
Excluindo 2009 que apresentou uma leve retração de 0,2%, o PIB
brasileiro vem crescendo em média de 5% ao ano desde 2004 e este
ano pode chegar a 6%. De 2004 a 2010 o PIB cresceu 30%, uma média
de 4,3% ao ano. O PIB per capita que registra o crescimento da
riqueza dividido pelo número de habitantes, ou seja, o ganho real
da economia por habitante, cresceu nesse período 20,5%, média anual
de 3%.
O rendimento médio real da população ocupada cresceu 14,3% em seis
anos, crescendo de R$ 1.181,90 em 2003 para R$ 1.350,33 em 2009. Os
dados demonstram que o crescimento real do rendimento médio dos
trabalhadores (14,3%) foi 6 pontos percentuais menor do crescimento
do PIB per capita (20,5%) no período até 2009; considerando que o
período do PIB per capita projetado refere-se de 2004 a 2010,
constata-se que para o rendimento médio real acompanhar o
crescimento do PIB per capita, o salário médio dos trabalhadores
precisaria crescer – ter ganho real, de 6% em 2010; o aumento do
salário mínimo chegou perto, com ganho real de 5,44% neste ano,
passando de R$ 465,00 para R$ 510,00 – totalizando 9,68% de
aumento, incluindo o IPCA acumulado de 4,02% dos meses de
março/2009 a janeiro/2010.
No caso do Estado e dos serviços públicos, além do crescimento do
PIB per capita, o crescimento da receita pública e a redução da
Despesa Total de Pessoal - DTP em relação ao percentual da Receita
Corrente Líquida - RCL, criam condições, “nunca tidas na história
dos últimos trinta anos desse País” para aumento real vigoroso nos
salários dos trabalhadores do serviço público.
A RCL da União, dos Estados e dos Municípios - disponível no site
do Tesouro Nacional, cresceu de forma real em média anual de 6 a 7%
nos últimos anos. Com o crescimento da receita muito acima das
despesas com pessoal, o percentual da RCL gasto com DTP vem caindo
nos últimos anos. Os Municípios reduziram de uma média de 45% em
2006 para 43% em 2009. Os Estados reduziram de uma média de 43% em
2006 para 41% em 2009. A União, segundo dados do DIEESE, a média de
48% de 95 a98, foi reduzida para 36% de 99 a 02 e para 30% de 2003
a 2008.
Estamos vivendo o terceiro ajuste fiscal do setor público nos
últimos vinte anos.
A partir da Constituição de 1988, no início dos anos 90, com o
Regime Jurídico Único- RJU e o Regime Próprio de Previdência dos
Servidores Públicos - RPPS com a redução drástica da contribuição
previdenciária patronal de 22% para zero no fluxo de caixa ou para
4 ,5 ou 8% nos fundos de previdência, juntamente com o parcelamento
em 240 meses das dívidas com o INSS, tivemos um ajuste fiscal
irresponsável com o futuro, herança que estamos enfrentando com a
problemática previdenciária atual com tendência de agravamento.
Em 2000, na onda do Estado mínimo, o ajuste fiscal foi efetivado
com a Lei de Responsabilidade Fiscal – LRF e a imposição de limites
para o gasto de pessoal diante do baixo crescimento econômico e a
asfixia das finanças públicas, fixando o gasto máximo da RCL com
DTP do poder executivo em 54% para os Municípios, 49% para os
Estados e 40,9% para a União. Agora estamos vivendo o ajuste fiscal
pelo crescimento da receita pública, em parte pelo crescimento da
carga tributária - de 30,3% do PIB em 2000 para 34,42% em 2008 e
parte pelo crescimento da economia.
Entre os limites da LRF e a realidade atual cresce um espaço
significativo para o crescimento das políticas públicas com a
contratação de novos servidores – professores, médicos, técnicos,
serviços operacionais..., e para o ganho real aos salários dos
trabalhadores(as) do serviço público. Nos Municípios, entre o
limite de 54% da LRF e o percentual médio de 43% em DTP, sobra uma
margem de 11% da RCL; Nos Estados, entre o limite de 49% da LRF e o
percentual médio de 41% em DTP, sobra uma margem de 8% da RCL; Na
União, entre o limite de 40,9% da LRF e o percentual de 30% em DTP,
sobra uma margem de 10,9% da RCL.
Considerando que a RCL real crescerá em pelo menos mais 6% em 2010,
a margem de crescimento da DTP na administração pública, entre o
permitido pela LRF e o valor praticado é de pelos 30% sobre o valor
de 2009, tendo em vista que para implicar em aumento de 1% na RCL,
a DTP precisa crescer mais de 2%, porque a DTP representa menos da
metade da RCL.
É por isso que não é exagerado defender e lutar por um ganho real
de 10% nos salários dos (as) trabalhadores (as) em
2010.