Uma nova ordem
mundial começa a alterar a geopolítica do petróleo e, mais do que
nunca, precisamos tratar o pré-sal como uma riqueza extremamente
estratégica. O acidente nuclear no Japão, as mudanças políticas no
Norte da África e no Oriente Médio e a visita de Barack Obama ao
Brasil são fatos correlatos que colocam em alerta os movimentos
sociais na defesa da nossa soberania energética.
O tsunami japonês varreu, pelo menos
temporariamente, os planos de expansão nuclear dos países que
apostam nesta fonte de energia como principal alternativa para
reduzir a dependência de hidrocarbonetos (óleo e gás). A tendência
é que esses recursos se tornem cada vez mais estratégicos para
saciar a fome de energia do planeta. Hoje os combustíveis fósseis
(petróleo, carvão e gás) já são responsáveis por mais de 80% da
matriz global. As estimativas da Agência Internacional de Energia
são de que o consumo de petróleo continue aumentando, ultrapassando
nos próximos dez anos a marca de 100 milhões de barris por
dia.
Em função disso, já estamos assistindo
à corrida das principais nações em busca por novas fronteiras
produtoras de petróleo e gás para garantir suas necessidades de
abastecimento. Não por acaso, o Brasil foi o primeiro pouso de
Barack Obama na América Latina. Por trás de sua "cordial" visita,
estão intenções nada amistosas. Os Estados Unidos são o maior
consumidor de petróleo do planeta e também o país mais vulnerável
em meio à onda de revoltas que assola o Norte da África e o Oriente
Médio.
Em troca de petróleo, o império
norte-americano tem apoiado e sustentado ditaduras e governos
autoritários, intervindo militarmente nesses países sempre que seus
interesses são confrontados. É o que está acontecendo agora na
Líbia, da mesma forma como aconteceu no Irã, no Iraque e no
Afeganistão. Mas as movimentações de peças no tabuleiro de xadrez
do mundo árabe levam os analistas políticos a acreditarem que uma
nova coalizão de forças colocará em xeque a posição confortável que
os Estados Unidos usufruíam na região até então.
Para que Washington diminua sua
dependência do Oriente Médio e do Norte da África, o Brasil é a
bola da vez. Com o pré-sal, nosso país será um dos três maiores
produtores de petróleo do planeta e é de olho nesta riqueza que os
Estados Unidos vêm tentando fechar acordos e parcerias com o
governo brasileiro e a Petrobrás. A FUP e os movimentos sociais são
contrários à tese de que o pré-sal deve fazer do Brasil um grande
exportador de petróleo. Queremos que este estratégico recurso seja
explorado e investido de forma sustentável para desenvolver toda a
sua cadeia produtiva. Desde a construção de navios e plataformas
até a indústria petroquímica e plástica.
É desta forma que o país irá gerar
emprego e renda e não exportando petróleo cru para abastecer países
ricos, como os Estados Unidos, que durante décadas exploram e
usufruem de recursos energéticos alheios para sustentar seus
absurdos níveis de consumo. O pré-sal, como disse a presidenta
Dilma, é o passaporte para que as gerações futuras tenham um país
desenvolvido, com oportunidades para todos. Mas isso só será
possível investindo na cadeia produtiva do petróleo aqui no Brasil,
fomentando a indústria nacional, gerando emprego e renda para
milhões de brasileiros.
Por João Antônio de Moraes, coordenador da Federação Única dos Petroleiros (FUP)
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