Um novo prazo para um possível acordo foi marcado para o dia 31.
Publicação: 23/08/2010
De acordo
com a Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil da CUT,
a audiência de sexta, 20, no Ministério Público do Trabalho de São
Paulo, os sindicatos de aeroviários e aeronautas e representantes
da Gol não chegaram a um consenso sobre as reivindicações dos
trabalhadores. Um novo prazo foi dado pela procuradora Laura
Martins de Andrade, até o dia 31, para análise da documentação
encaminhada pelas partes e de um possível acordo. O MPT propôs à Gol um acordo no qual a
companhia comprometa-se a elaborar escalas de voo com as
informações completas, garantir 12 horas de intervalo entre as
programações, observar folgas e jornada máxima regulamentar, não
escalar tripulantes para atuar em madrugadas seguidas, permitir que
o trabalhador acesse a escala e possa aceitá-la ou não, destinar a
limpeza das aeronaves exclusivamente a empresas terceirizadas, e a
acrescentar um ou dois comissários para atuar na venda de itens a
bordo, evitando prejuízo à segurança de voo. A Gol apresentou ao órgão documentação de
defesa, e os sindicatos reuniram documentos sobre as
irregularidades e reivindicações. As partes terão até o dia 31 para
a análise desses contrapontos, da proposta do MPT, e tomar posição
sobre um possível acordo, ou não. "A Gol se complica nas explicações e aos
poucos conseguimos mostrar para a sociedade como a empresa
desrespeita seus trabalhadores e coloca em risco seus clientes,
sócios e funcionários", afirma um dos dirigentes sindicais
presentes na audiência. Os sindicatos pediram que o MPT mantenha
sua mediação no caso, após solicitação da Gol para que as
negociações se dessem entre empresa e sindicalistas. As entidades
também denunciaram coação da empresa para que trabalhadores não
participassem das assembleias chamadas pelos sindicatos. E
reafirmaram a pauta de reivindicação dos trabalhadores, destacando
o alto custo do plano de saúde e a importância da contribuição da
empresa no seu custeio. Participaram da audiência dirigentes do
Sindicato Nacional dos Aeronautas, Sindicato Nacional dos
Aeroviários, Sindicato dos Aeroviários de Guarulhos e Sindicato dos
Aeroviários de Porto Alegre.
Gol pode ser acionada por credores da Varig Sem opções
diante da decretação da falência da "Varig velha" (hoje Flex) na
sexta pela Justiça do Rio de Janeiro, os credores da empresa podem
voltar novamente seus esforços para a Gol Linhas Aéreas - que
adquiriu parte da companhia em 2007. Segundo representantes de
credores, boa parte deles deve continuar a bater na tecla, perante
o Judiciário, da responsabilidade da Gol pelas dívidas da Varig. A
companhia teria adquirido praticamente a totalidade do negócio e
não apenas uma unidade produtiva isolada, como prevê a Lei de
Falências. "Se há consistência jurídica ou não, é algo a se
avaliar. Mas, com certeza, a Gol continuará a sofrer dor de cabeça
com os credores da Varig", afirma um advogado da área que prefere
não se identificar.
Ainda que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha julgado no ano
passado que não ocorre sucessão de dívidas trabalhistas na compra
de ativos de empresas em recuperação judicial ou em processo de
falência, especialistas da área afirmam que há inúmeros pontos e
possíveis irregularidades do processo de recuperação da Flex que
podem ser questionados, assim como a própria aplicação do
julgamento do STF em casos concretos. "A quebra da Varig significa
que a discussão sobre a responsabilidade da Gol vai continuar e
aumentar, pois as pessoas querem receber", afirma outro
advogado.
A falência da Flex foi decretada na sexta pela juíza Márcia Cunha
de Carvalho, em exercício na 1ª Vara Empresarial do Rio, e de duas
outras empresas do grupo: Rio Sul Linhas Aéreas e Nordeste Linhas
Aéreas. Segundo a Justiça do Rio, a decisão foi tomada em razão de
pedido do próprio administrador e gestor judicial da companhia, que
informou que as companhias em recuperação judicial desde 2005 não
teriam como quitar seus débitos. A Varig, primeira a pedir
recuperação judicial no país, saiu do procedimento em setembro do
ano passado, sem ter solucionado suas dívidas, que no início do
processo correspondiam a cerca de R$ 7 bilhões.
A Fundação Ruben Berta, dona de 87% dos papéis da Flex, discute com
seus advogados a possibilidade de contestar judicialmente a
falência. "Foi um crime a destruição do maior patrimônio desse país
relacionado ao setor aéreo", afirma o presidente do conselho de
curadores da entidade, Cesar Curi. Em 15 de dezembro de 2006, a
Fundação Ruben Berta foi afastada judicialmente do comando da
empresa ao tentar retirar a companhia do processo de recuperação
judicial.
No ano passado, quando foi decretado o fim da recuperação judicial
da Flex, a Fundação Ruben Berta poderia ter retomado o comando da
empresa, mas não o fez. "Não houve recuperação judicial", justifica
Curi. Ele afirma que a Gol, que comprou a "parte boa" da Varig, sem
dívidas, por US$ 320 milhões em março de 2007, deveria ser
responsabilizada pelo pagamento dos débitos aos credores.
Já o advogado de acionistas minoritários da empresa, Fabrício
Scalzilli, afirma que a falência da Flex deveria ter sido decretada
há pelo menos dois anos. De acordo com ele, a demora da Justiça
para tomar a medida elevou a dívida da companhia para algo como R$
10 bilhões. "Foi uma medida extremamente positiva. Agora, serão
destravados os procedimentos para a venda de bens que possibilitem
o pagamento aos credores", afirma ele, representante de acionistas
que reúnem em torno de 10% do capital da antiga Varig.
Scalzilli afirma que vai recorrer a um dispositivo da lei de
recuperação judicial para tentar obter mais recursos para os
credores. Ele confirmará o período que a Justiça fixará como termo
legal da falência. O advogado diz que se trata de um intervalo de
tempo retroativo à decretação da falência, com o objetivo de apurar
atos ou negócios realizados durante a reestruturação da Flex que
podem ser anulados, caso fique comprovado prejuízos aos
credores.
O presidente da FENTAC-CUT, Celso Klafke
(foto), diz que não ficou surpreso. "A
falência era mais do que esperada." A empresa aérea regional Trip Linhas Aéreas
confirmou interesse em assumir a operação de rádio da Flex de cinco
aeródromos, mas que a decisão final só será anunciada até a próxima
semana. "No presente momento, a TRIP Linhas Aéreas analisa o
equilíbrio econômico e compatibilidade do negócio dentro de suas
operações, que pode ocorrer tanto com a incorporação das estações
de rádio já habilitadas, quanto por meio da solicitação de estações
próprias", afirma em nota.
Procurada pelo Valor, a Gol informou que "não tem vínculo, ligação
societária ou relação de qualquer natureza com as empresas Viação
Aérea Rio-Grandense S.A. (Varig), a Rio-Sul Linhas Aéreas S.A. ou a
Nordeste Linhas Aéreas S.A".