O Portal CNTT-CUT divulga artigo de Maria Júlia Nogueira (foto), Secretária Nacional de Combate ao Racismo da CUT.
Publicação: 05/07/2010
As elites
brancas e racistas do Brasil, inconformadas com as atuações do
governo Lula em favor da população pobre brasileira,
majoritariamente negra, se articulou sob a liderança do senador
Demóstenes Torres (DEM-GO) para impedir qualquer avanço
social ou perspectiva de ascensão do negro. Após oito anos de intensos debates, o
Estatuto da Igualdade Racial, de autoria do senador Paulo Paim
(PT-RS), sofreu vergonhosos cortes e alterações que o
descaracterizaram completamente, retirando todo o impacto positivo
que a sua implementação provocaria na sociedade brasileira e,
principalmente, na parcela auto declarada negra. O projeto original do senador Paulo Paim
prevê um conjunto de ações afirmativas para promover a igualdade
racial no país e compensar os descendentes de africanos pelos quase
quatro séculos de escravidão e 120 anos de toda sorte de
discriminações. O texto, que apenas buscava reparar injustiças
históricas, foi alvo da ação dos setores conservadores e racistas,
sendo mutilado pelo relator no Senado. O parlamentar Demóstenes
Torres já é conhecido por culpar os africanos pela escravidão e por
afirmar, sem meios termos, que os estupros das mulheres negras
pelos seus senhores eram relações
consensuais. É surpreendente que uma agremiação política
auto-denominada Democrática se permita atuar de forma tão
retrógrada num período pré-eleitoral, quando milhões de eleitores
negros estão atentos às notícias veiculadas sobre os seus
representantes no Congresso. O DEM assumiu o papel inequívoco de
agremiação racista, pautada por uma política reacionária de negação
de direitos e tentativas constantes de impedir qualquer melhora na
condição econômica e social da parcela da população brasileira que
têm nos seus ancestrais os responsáveis por toda a produção da
riqueza nos primeiros trezentos e cinqüenta anos da história desse
pais. Prova disso é que além de retirar a menção sobre raça, privou
a negritude do sistema de cotas nas universidades e no mercado de
trabalho, além de barrar a possibilidade de uma assistência
nacional de saúde específica. Ao votar o texto de Demóstenes no dia 16 de
junho, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado virou
Comissão de Injustiça ao achincalhar e depreciar o Estatuto da
Igualdade Racial. Ao ser totalmente descaracterizado, o
projeto ficou praticamente sem qualquer efeito prático no sentido
de mudar a situação dos negros brasileiros. Diante disso, este é o momento de pressão da
militância sindical, do movimento negro e do conjunto das
organizações democráticas e populares da sociedade brasileira para
que, após a sanção presidencial, seja reparada a injustiça com
projetos de lei capazes de recompor os objetivos iniciais propostos
pelo senador Paim. Certamente a Secretaria Nacional de Combate
ao Racismo, cuja criação deixa claro o comprometimento da CUT
com a causa, permanecerá mobilizada e na linha de frente desta
luta, que é de todos e todas, pois é inegável que a maioria da
população deste pais tem o sangue negro correndo em suas
veias. Diante dos que buscam transformar esta
nação, sob a força da chibata e da mordaça em um imenso navio
negreiro, reiteramos a intransigente defesa do Estatuto da
Igualdade Racial a partir dos moldes em que foi concebido e,
portanto, da sua implementação integral. Zumbi está conosco, os
feitores com eles.
Maria Júlia Nogueira é Secretária Nacional de Combate ao Racismo da
CUT.