O caráter essencialmente nazista da política de Israel
O Portal CNTT-CUT divulga artigo de Leonardo Wexell Severo, assessor de Comunicação da CUT Nacional.
Publicação: 08/06/2010
Nem bem
terminei de ler “A linguagem do Império – Léxico da ideologia
estadunidense”, de Domenico Losurdo (Boitempo, 306 páginas), o
terrorismo de Estado de Israel ceifa a vida de dezenas de ativistas
na madrugada dentro de um barco, alveja muitos e prende como
criminosos centenas de homens e mulheres que, navegando em águas
internacionais, insistiam em levar ajuda humanitária à Faixa de
Gaza, mantida sob bloqueio criminoso, ilegal e imoral pelos
sionistas. Como se tivesse feito um livro sob
encomenda para explicar o ocorrido, o autor questiona: “o caráter
essencialmente ‘fascista’ e até mesmo ‘nazista’ da política de
Israel explica tudo isso?”. Se “a ideologia da guerra que se desenvolve
nos nossos dias é a linguagem do império”, a manipulação dos meios
de comunicação tem sido historicamente uma arma dos que procuram
justificar suas práticas genocidas. “Essa inversão dos lados de
agredidos e agressores, oprimidos e opressores, não deve espantar,
é parte integrante da ideologia colonial. Enquanto grassa o
escravismo, seus beneficiários e apologistas classificam os
abolicionistas de ‘avessos aos brancos e assassinos’
”. Hoje, o país que se arvora campeão da
liberdade coonesta os crimes de Israel, perpetua o criminoso
bloqueio a Cuba, bombardeia e assassina centenas de milhares no
Iraque e no Afeganistão, investe contra o acordo de paz com o Irã,
cultua prisões como a de Guantánamo e de Abu Ghraib, da mesma forma
como transformava o suplício dos negros pela Ku Klux Klan em cruel
espetáculo de massa, anunciado pela imprensa. Da mesma forma que
financiou, armou e sustentou Somoza, Pinochet e Papa Doc, entre
outros sangrentos marionetes. Agora, “o uso terrorista da categoria
terrorismo chega a seu auge na Palestina” e todos os que são
movidos pelo “desejo de resistir à invasão estrangeira”, “de lutar
contra os que oprimem e humilham seu país” – ou apenas se
solidarizam, como foi o caso dos integrantes da “Frota da
Liberdade” - viram “terroristas hostis”. A desinformação é
acompanhada pelo rótulo depreciativo, endereçada aos que lutam
contra a agressão, seja no Iraque, no Afeganistão ou na Palestina,
transformada em “gueto mundial”. “Se o garoto palestino que
protesta contra a ocupação jogando pedras é ‘terrorista’, devemos
considerar campeão da luta contra o terrorismo o soldado israelense
que o mata a tiros?”. Infelizmente, não é um exemplo imaginário,
mas de “um traço essencial da tradição colonial”. Talvez isso
explique ser o sionismo “a única filosofia política autônoma
permitida pelo Terceiro Reich”. Pelo
tratamento dispensado aos integrantes da “Frota da Liberdade”, dá
para ter uma ideia do que padecem os milhares de palestinos
encarcerados por Israel, inclusive crianças. Na descrição do
escritor Ghassan Abdallah, internado na prisão de Ansar-3, no
deserto, “a antecâmara do inferno”. Nem mesmo os oficiais
israelenses suportavam o seu papel de carcereiros e tinham
“necessidade de recorrer aos tranqüilizantes”. Para os palestinos,
a “tortura”, o “inferno cotidiano”: “de dia, no verão, chega-se aos
40º, enquanto de noite se pode chegar a 0º”. Enquanto era obrigado a esconder-se nas
ruas de Dresden para escapar da “solução final” que os nazistas
reservaram aos judeus, o professor e filólogo Victor Klemperer
denunciava o “extraordinário parentesco” e os “profundos pontos em
comum” entre o sionismo, fundado por Theodor Herzl e o nazismo. Não
por acaso, Herzl é o israelense a quem os vestais da mídia (anti)
brasileira queriam que o presidente Lula colocasse flores no túmulo
durante sua visita a Jerusalém, tentando imputar inclusive ao
governo brasileiro uma suposta “gafe diplomática” por deixar de
fazer o que sequer estava agendado. “A doutrina da raça de Herzl é a fonte dos
nazistas, são eles que copiam o sionismo, não o contrário”,
sublinhou Klemperer, mostrando simpatia pela população árabe que se
insurge “contra o processo de expropriação e colonização e o
‘destino de índios’ a ela reservado pelos colonos sionistas”. Com
efeito, é o próprio Herz que se refere de modo explícito ao modelo
estadunidense de expansão do Far West, e ao extermínio dos
peles-vermelhas, a quem literalmente se arrancava o couro
para fazer “rédeas”. “Caracteriza o sionismo uma palavra
inequívoca – “uma terra sem povo para um povo sem terra”. Nas
palavras de Herzl: “queremos levar limpeza, ordem e costumes
iluminados do Ocidente a esse canto agora infecto e desolado do
Oriente, a esse canto doente”. “Ao estabelecer-se na Palestina, os
judeus podem ‘sanar aquela chaga do Oriente’. Concluindo: ‘os
judeus são o único elemento civilizador que pode colonizar a
Palestina”. Folheando os diários de Herzl, nos encontraremos
“diante de um álbum de família do colonialismo e do imperialismo
entre os séculos XIX e XX”. Não por acaso, a Assembleia Geral da ONU
decretou em 1975 que “o sionismo é uma forma de racismo e de
discriminação racial”. Afirmava a declaração que “a cooperação e a
paz internacionais requerem a realização da liberação e da
independência nacional, a eliminação do colonialismo e do
neocolonialismo, da ocupação estrangeira, do Sionismo, da
segregação e da discriminação racial sob todas as suas formas, bem
como o reconhecimento da dignidade dos povos e de seu direito à
autodeterminação”. Contra esta interpretação se perfilavam os
governos dos EUA, Israel e... da África do Sul, do apartheid, que
mantinha encarcerado a Mandela. Com a desaparição do campo
socialista, em 1991, esta declaração foi
revogada. É sabido e reconhecido o recurso
sistemático de Israel à eliminação física ou ao assassinato de
palestinos acusados ou mesmo suspeitos de realizar ações
“terroristas”, prática que “recorda os esquadrões da morte aos
quais recorreram certos regimes da América Latina”, financiados e
treinados pelo governo estadunidense. “Só se pode falar em justiça
quando quem julga é um órgão imparcial, que julga a partir não de
impressões ou certezas subjetivas, mas de provas obtidas e
confirmadas durante um debate com a defesa. Nada disso se verifica
quando os aviões e os helicópteros israelenses lançam seus mísseis
contra as vítimas designadas”. Na prática, uma “limpeza étnica” na
Palestina, “acrescentada às injustiças e humilhações ligadas ao
processo de colonização que vem ocorrendo há
décadas”. Quanto ao “caráter escrupulosamente
planejado das execuções ou dos assassinatos orquestrados pelo
exército israelense”, vale lembrar uma citação de Henry Siegman,
ex-chefe executivo do Congresso Judaico Americano: “Foi perguntado
ao general Dan Halutz, chefe do Estado Maior de Israel, em 2002,
quando dirigia a aviação israelense, o que sentiu quando soube que
a bomba de uma tonelada lançada sobre um líder do Hamas tinha
matado também nove crianças palestinas – um resultado bastante
previsível, dado que a bomba fora lançada sobre um prédio cujos
apartamentos eram habitados por civis. Como se sabe, ele respondeu
ter sentido em seu avião ‘um leve choque’ no momento em que a bomba
caía. (Essa foi a única perturbação que sentiu). Ele acrescentou
que, naquela noite, dormiu muito bem”. Resultado: foi promovido a
chefe do Estado maior. Conforme artigo publicado no International
Herald Tribune, para “desacreditar” o governo nacionalista de
Nasser, em 1954, “agentes recrutados por Israel colocaram bombas
nas bibliotecas estadunidenses de Alexandria e do Cairo, fazendo
com que os egípcios parecessem culpados”. O mais difundido jornal israelense noticiou
episódios e fotos que esclarecem bem como pensam – e agem – as
tropas sionistas: “Uma mostra um soldado israelense com a bota
sobre o tórax de um palestino que acabara de ser morto em um campo
de pimentões no Gush Katif, ao sul de Gaza. O militar parece imitar
um caçador que acabara de abater um animal”. No Canadá, um desertor
do exército estadunidense relata que seus “companheiros de arma
jogavam futebol com a cabeça de um iraquiano
decapitado”. “O Estado de Israel ampliou suas fronteiras
em mais de 50% além das áreas atribuídas ao Estado judeu pela ONU
em 1947, enquanto a área destinada aos palestinos já foi reduzida
em cerca de 60%, e tudo isso sem contar as colônias e as outras
expropriações realizadas por Israel na Cisjordânia”, conforme
análise de “conceituados” órgãos de imprensa estadunidense, judeus
israelenses ou norte-americanos. E não é tudo: “o furto da terra,
que anda ao lado do muro, chega a aproximadamente 12% da
Cisjordânia”. Uma realidade “cada vez mais semelhante à da África
do Sul do apartheid”, bantustões, formalmente “Estados
independentes”, mas de fato sem qualquer autonomia no plano
econômico e militar. “A aplicação de tal modelo à Faixa de Gaza e à
Cisjordânia permitiria que Israel se mantivesse como ‘Estado judeu’
evitando a ameaça representada pelo rápido crescimento demográfico
dos ‘negros’ palestinos e perpetuando a subjugação destes de
diferentes formas... Não obstante o ‘desempenho’, Israel continua a
ter total controle sobre a Faixa de Gaza e arredores, o espaço
aéreo, o fornecimento de água e energia elétrica, a vida e a morte
– como demonstram as recorrentes incursões de carros armados e
blindados -, os bombardeios, as ‘execuções extrajudiciais’ com seu
séquito de ‘danos colaterais’ mais ou menos amplos, tudo decidido
de forma soberana por Tel Aviv”. O entranhamento desta ideologia fascista é
visível, estampada no “culto reservado a Baruch Goldstein, ‘o
médico colono que em fevereiro de 1994 invadiu a Mesquita de
Abraão, em Hebron, e disparou sobre os crentes ajoelhados para
rezar’. Morreram 29, enquanto os feridos passaram de uma centena.
Em 1997, em honra deste ‘santo’, é publicado um livro: O homem
bendito”. Como jornalista do HP visitei em 2001 os
territórios palestinos ocupados. Lembro dos olhos das crianças como
o alvo principal das balas de aço israelenses, revestidas de
borracha para não matar, “apenas” para servir de alerta aos jovens
braços que jogavam pedras contra os tanques nazi-israelenses na
segunda Intifada. Da fila de crianças nos hospitais no aguardo de
um visto dos sionistas para poderem viajar e serem operadas na
Alemanha, já que a pista de seu aeroporto havia sido tomada por
crateras após os bombardeios. De um senhor baleado na cabeça
enquanto conversava a meu lado na cidade de Hebron, dos hospitais
repletos de mutilados pela covardia, do esgoto correndo a céu
aberto em Gaza, das estradas bloqueadas na Cisjordânia, do roubo da
água, do assalto às terras. De lá para cá, a segregação, como o
muro do apartheid, só cresceu... Como a consciência e o repúdio
internacional à ocupação. Encerro com as palavras de Ho Chi Minh. Em
1924, quando era tão somente mais um jovem indochinês, de nome
Nguyen Sinh Cung, chegando à República estadunidense em busca de
trabalho, assistindo horrorizado a um linchamento: “No chão,
cercada de um cheiro de gordura e de fumaça, uma cabeça negra,
mutilada, assada, deformada, faz uma careta horrível e parece
perguntar ao sol que se põe: ‘Isto é civilização?’ “. Leonardo Wexell Severo é assessor de Comunicação da CUT
Nacional