A
candidatura Serra assumiu de vez e irreversivelmente a feição de
uma direita anacrônica, reacionária e intolerante. Cada vez mais,
atrai o que há de pior na política nacional: fundamentalistas
religiosos, membros da TFP e da Opus Dei e até mesmo nos ataques do
submundo da internet indivíduos que pertenceram à juventude nazista
e aos órgãos de repressão da ditadura. Virou uma espécie de Tea
Party tupiniquim, uma UDN paulista, que julga ser sua missão salvar
o país daqueles que vêm mudando a injusta ordem política e social
do Brasil. É uma candidatura que exala o ressentimento de uma velha
elite que vê alarmada a ascensão de novas forças sociais, que
perdeu o poder e tenta reconquistá-lo a qualquer custo. A
candidatura Serra é a candidatura do ódio.
Não adianta apelar para a biografia da juventude do candidato. Uma
candidatura é uma construção coletiva. O que interessa é o quê e
quem ela representa. E a candidatura Serra representa os interesses
dos setores mais conservadores e reacionários do espectro político
brasileiro, bem como de parcelas antigas da classe média que não
absorveram bem a ascensão de milhões de pobres ao mercado de
consumo e à cidadania. Ela também tem um forte componente regional,
pois é muito centrada no Sudeste, especialmente em São Paulo,
estado que vem perdendo hegemonia política e econômica, exatamente
pela falta de sincronia com as mudanças estruturais que deram um
novo dinamismo ao Brasil a partir do governo Lula.
A candidatura Serra representa retrocessos significativos na vida
política do país.
Em primeiro lugar, haveria retrocessos substanciais na política
externa. Serra nunca escondeu sua aversão ao que ele chama
desdenhosamente de “integração cucaracha”. Há poucos meses, chegou
a dar agressivas e desastrosas declarações qualificando o Mercosul
de “farsa”e “desastre” para os interesses nacionais. A sua equipe
de embaixadores conservadores de pijama recomenda o fechamento de
embaixadas em países do chamado Terceiro Mundo, esterilizando o
esforço de expansão da representação brasileira no planeta, e a
concentração da nossa política externa nos países “que importam”,
isto é, EUA, UE, Japão, etc. Ainda não chegou aos ouvidos e às
mentes da candidatura Serra, saudosos do projeto ALCA, que houve
notáveis mudanças na geoeconomia e geopolítica mundiais. Nos
últimos anos, os países emergentes vêm exibindo dinamismo econômico
e comercial superior ao das nações mais avançadas, muito afetadas
pela crise. Assim, a ênfase do governo Lula na cooperação Sul-Sul,
que foi conceituada preconceituosamente de “ideológica, revelou-se,
na realidade, pragmaticamente muito bem-sucedida. Seus alentados
superávits, que não podem ser explicados apenas pelos preços das
commodities, foram de fundamental importância para a superação da
vulnerabilidade externa da nossa economia, que predominava no
governo FHC/Serra. O enorme avanço do protagonismo internacional do
Brasil, construído ao longo do governo Lula, se deve, em grande
parte, à ênfase na integração regional e a essa aposta estratégica
na articulação com os demais países emergentes. A candidatura
Serra, defende a volta a era FHC e ao alinhamento com os interesses
da única superpotência, com graves prejuízos à integração Sul
Americana e a nossa inserção soberana no cenário mundial.
Outro campo no qual teríamos retrocessos é o social. Obviamente,
Serra não encontra espaço político para defender a extinção de
programas como o Bolsa Família, o Prouni, o Luz para Todos e outros
programas sociais de alto impacto na distribuição de renda e na
expansão das oportunidades. Contudo, não há compromisso da
candidatura PSDB/DEM para que a distribuição de renda e a
eliminação da pobreza tenham centralidade, como tiveram no governo
Lula e como teriam num Governo Dilma. As forças conservadoras que
apóiam Serra sempre foram muito críticas, em relação a esses
programas. Por interesses objetivos no gasto e investimentos
públicos e por ideologia, esses setores consideram que a eliminação
da pobreza e a distribuição de renda são fundamentalmente variáveis
dependentes do crescimento econômico. São problemas que caberia
essencialmente ao “mercado” resolver. Quaisquer desvios
relativamente a esse ideário liberal são encarados, por tais
setores, como “populistas”. Portanto, é altamente provável que
esses programas sejam, de algum modo, “revistos”, ao sabor das
exigências “orçamentárias” e das conveniências econômicas e fiscais
dos interesses estratégicos das grandes empresas privadas.
Alguns programas poderiam ser mais afetados. Um deles seria o da
Reforma Agrária, pois a candidatura Serra está umbilicalmente
associada aos setores mais retrógrados do campo, que resistem a
reconhecer a relevância dos programas de apoio a agricultura
familiar, como o fortalecido PRONAF, e as políticas comprometidas
com os assentamentos agrários. Outro seria o programa de quotas
para afro-descendentes nas universidades, que faz parte de uma
política maior de afirmação dos direitos dos afro-descendentes
brasileiros. Esse programa foi duramente bombardeado pela direita
que apóia Serra. Os setores conservadores que apóiam a candidatura
PSDB/DEM confundem raça com racismo e ressuscitaram o velho mito da
“democracia racial” brasileira. Para eles, não há racismo no
Brasil. Portanto, políticas de combate ao racismo seriam, nessa
visão distorcida, inúteis e até mesmo contraproducentes, já que
introduzem “valores racistas numa sociedade não-racista”. Serra
está abertamente comprometido com a continuidade do silêncio
institucional e político em relação ao racismo.
Por tudo isso, é razoável afirmar que a candidatura Serra,
representa, a passividade frente a desigualdade social e a condição
de pobreza que historicamente atingiu vastas parcelas da população,
ou pelo menos a ausência de novos progressos mais significativos e
pró-ativos na eliminação da pobreza e distribuição de renda. Num
governo PSDB/DEM, a centralidade caberia ao capital e às
conveniências do “mercado”. Em contraste, a vitória de Dilma
asseguraria a continuidade, a intensificação e a expansão do
esforço distributivo realizado pelo governo Lula, que foi de
fundamental importância para o enfrentamento da crise e a
dinamização do novo mercado interno de consumo de massas. O governo
Lula retirou 28 milhões de pessoas da pobreza, o governo Dilma tem
o compromisso fundamental de retirar as 21 milhões que ainda
faltam.
O campo no qual teríamos o maior retrocesso seria o relativo à
reconstrução do Estado brasileiro e do seu papel estratégico no
desenvolvimento nacional. O antigo governo PSDB/DEM
privatizou o que pôde do patrimônio público, muitas vezes a preços
aviltados, abriu a economia sem o contexto balizador de uma
política industrial, humilhou e arrochou os funcionários públicos,
sucateou as universidades federais, “terceirizou” funções próprias
a servidores federais e extinguiu mecanismos estatais de apoio ao
desenvolvimento. Deu impulso ao chamado “Consenso de Washington”
que inspirou o governo FHC e o governo Serra em São Paulo. O
governo FHC/Serra sucumbiu ideologicamente ao receituário
neoliberal, que contribuiu decisivamente, com suas diretrizes
antiestatais e antireguladoras, para a crise mundial, e que hoje é
duramente criticado até mesmo nas nações avançadas que nos
impuseram esse modelo. Serra, que em plena crise aumentou a carga
tributária e vendeu o único banco que restava no Estado de São
Paulo, ainda acredita nesse receituário desastroso. Se eleito, com
certeza estudará novas formas de transferir patrimônio público para
o setor privado e de limitar a “intervenção do Estado na economia”.
O “desenvolvimentismo” juvenil de Serra é apenas uma pálida e
envergonhada lembrança porque sua candidatura começa e termina no
apoio irrestrito ao livre funcionamento das forças de
“mercado”.
Um setor está particularmente ameaçado. O pré-sal e a Petrobrás.
Sem dúvida alguma, a candidatura Serra fará tudo, se vitoriosa,
para fazer com que o pré-sal seja explorado com base no modelo de
concessão. Nesse modelo, fazem-se leilões dos campos de petróleo e
a empresa ganhadora torna-se proprietária do óleo assim que a broca
atinge as reservas. Com isso, a União perde o controle estratégico
dos mega campos de petróleo do pré-sal. No modelo de partilha,
proposto pelo governo Lula, o Estado mantém a propriedade e o
controle do petróleo, mesmo após a sua retirada dos campos, e a
empresa é remunerada pelos serviços de exploração e extração. Além
disso, no modelo proposto por Lula/Dilma a Petrobrás se mantém como
a maior operadora. A reversão ao modelo de concessão, implementado
pelo governo FHC/Serra é completamente inadequado para os novos
mega campos de petróleo e permitiria a venda do pré-sal às grandes
multinacionais do petróleo, que estão de olho numa das últimas
grandes reservas de hidrocarbonetos do planeta. Entretanto,
tal decisão seria uma tristeza para aqueles que, como Dilma, querem
que os recursos do pré-sal sirvam para alavancar os investimentos
nacionais e a inovação na cadeia produtiva de gás e petróleo, bem
como novas condições de financiamento para as políticas sociais de
combate a pobreza, as políticas educacionais e de sustentabilidade
ambiental no Brasil.
Esses são alguns dos riscos concretos que a Candidatura do Ódio
acarreta. A população precisa ficar a eles atenta. A candidatura
Serra é um projeto que representa o aborto do futuro de um Brasil
mais justo, solidário e soberano, que começou a ser construído por
Lula/Dilma. Em 2002, a candidatura Serra teve o medo como
centro tático, porque era muito difícil defender a continuidade do
governo FHC. Seu discurso na época foi amparado pela grave crise
cambial, pelas políticas recessivas do FMI, pelo ambiente de forte
especulação financeira e pelo apoio militante dos analistas de
mercado que difundiam o medo frente a ameaça de perda completa da
estabilidade econômica e risco de instabilidade institucional com
um eventual governo Lula. Hoje, Serra repete o mesmo roteiro, tenta
se dissociar do governo FHC que foi um dos principais formuladores
e que serviu por oito anos. Não tem argumentos para comparar o
governo FHC com o Governo Lula e fez muito pouco e para poucos no
governo tucano de São Paulo. E assim, recorre ao ódio como eixo de
sua campanha eleitoral. Mas a nossa convicção é que a esperança,
que em 2002 derrotou o medo, agora irá derrotar o ódio. O Brasil
que deu certo caminha para eleger a primeira mulher presidenta da
República: Dilma.
Aloizio Mercadante, é economista e Senador pelo Estado de São Paulo desde 2002. Nestas eleições ele concorreu ao Governo do Estado.
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