“Brasil deve ser construtor da paz e não se meter em briga externa”, diz Lula sobre conflito entre EUA e Irã

Lula acredita que há interesses político-eleitorais no ataque promovido pelo governo Trump.

Por: Rede Brasil Atual
Publicação: 08/01/2020
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divulgação

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou nesta quarta-feira (8) sobre o envolvimento do governo brasileiro no conflito entre Estados Unidos e Irã. Ao Diário do Centro do Mundo, Lula afirmou que o país deveria exercer um papel de pacificador. “O momento não é adequado para o Brasil se meter em uma briga externa. O Brasil não tem contencioso com o mundo, sempre manteve uma política diplomática harmoniosa. Devemos ser um construtor de paz”.

Lula da Silva falou a respeito da atual crise desencadeada após o ataque dos Estados Unidos que matou o general iraniano Qassem Soleimaini. E alertou: “A época não é própria para uma país como o Brasil se meter em confusão, em uma briga externa”.

“Na relação internacional sempre são dois interesses: o seu e o do outro. Você tem que sempre equilibrar o deles com o seu”, pontuou. “Bolsonaro não tem medido esforços para provar que é um lambe-botas dos Estados Unidos”, criticou.

“O Brasil é um país que não tem contencioso, o último foi com a Guerra no Paraguai. O país pode ser considerado um construtor de harmonia, de paz”, disse Lula. “Diferentemente dos Estados Unidos, que vivem procurando confusão, e quanto mais longe do seu território, melhor.”

O ex-presidente lembrou ainda da tentativa do Brasil costurar um primeiro acordo nuclear com o Irã, delimitando a diferença de postura diplomática entre seu governo e o atual. “Lembro que em 2009 fui com o (ministro das Relações Exteriores) Celso Amorim ao Irã para negociar a questão das armas nucleares e o enriquecimento de urânio. E aquilo que era impossível, dito pelo Obama, pelo (Nicolas) Sarkozy, pelo Gordon Brown, pela Angela Merkel, se tornou possível na medida em que o Brasil foi corajoso. Eu e o Celso fomos conversar com o (Mahmoud) Ahmadinejad, com o Ali Khamenei, fizemos uma parceria com o Erdogan, da Turquia, e nos dois dias em que ficamos em Teerã conseguimos um acordo, que também era do interesse dos Estados Unidos e da Europa.”

No entanto, segundo ele, o acordo acabou não sendo sacramentado em parte por conta do incômodo causado pelo Brasil ter tido uma posição de protagonismo nas negociações. “Quando construímos o acordo em Teerã, o Obama traiu o bom senso e decidiu aumentar as punições contra o Irã para, dois anos depois, construir um acordo infinitamente pior do que o que nós fizemos.”

Interesses eleitorais de Trump
Lula acredita que há interesses político-eleitorais no ataque promovido pelo governo Trump. “Os Estados Unidos precisam de inimigo sempre. Isso está me cheirando à campanha eleitoral”, destacou.

“Uma vez encontrei com o (Bill) Clinton em Davos, mais ou menos em 2003, e perguntei a ele se o Bush iria invadir o Iraque. E o Clinton me disse: olha, Lula, nos Estados Unidos a gente não costuma dar palpite no governo. Mas queria te dizer uma coisa: o Bush é um animal político, tem pesquisa. Se as pesquisas forem favoráveis a uma invasão no Iraque, ele vai fazer. Ele fez e ganhou a reeleição.”

O ex-presidente alertou, contudo, que se aventurar em um conflito bélico contra os iranianos não é tão simples. “O Irã não é um país qualquer, tem uma tradição cultural milenar, tem vizinhos poderosos, a China e a Rússia têm interesses no Irã. E qual o papel de um país como o Brasil nisso? Não se meter.”

Lula chamou a atenção para os riscos comerciais envolvidos. “O Brasil tem um superávit comercial com o Irã de US$ 2,2 bilhões, pode exportar muito e ser parceiro tanto do Irã como dos Estados Unidos”, destacou. “O Brasil não tinha que cair de joelhos nos pés do Trump e logo concordar que o ataque ao general era um ataque a um terrorista. Até porque o cidadão era oficialmente um general, conhecido por todo mundo na região.”



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