Roberto Parizotti
Com bandeiras, cartazes, apitos, rostos e corpos pintados, cerca de oito mil mulheres saíram em marcha no domingo (8), da Avenida Paulista até a Praça Roosevelt, centro paulistano. A pauta do tradicional ato do Dia Internacional de Luta da Mulher celebrado foi liberdade, igualdade e autonomia e teve relação direta com um dos eixos que a CUT e parceiros dos movimentos social e sindical levarão às ruas de todo o país nas mobilizações do próximo dia 13 de março.
A defesa da democracia engloba os três pontos do Dia 8 de Março deste ano e é fundamental para garantir a maior participação feminina em espaços de decisão, a base das transformações, conforme destacou a secretária da Mulher Trabalhadora da CUT, Rosane Silva.
“Para fazer avançar a democracia no nosso país, queremos que as mulheres estejam no cotidiano do Parlamento, do Executivo, do movimento sindical e dos partidos políticos como estão no cotidiano dos lares. Só assim garantiremos mais recursos para políticas públicas de saúde e educação, fundamental para nós porque ainda somos as únicas responsáveis pelo cuidado da família e queremos ter mais tempo para participar das instâncias de poder”, disse.
Para a dirigente, a política depende de uma reforma que altera especialmente a forma como os candidatos participam das eleições. “Queremos o fim do financiamento empresarial e defendemos o voto em lista com alternância de gênero para que tenhamos as mesmas condições de sermos eleitas que os homens. Esse é o caminho para garantir uma sociedade justa e igualitária”, acrescentou.
Mesmo sob chuva, elas não arredam pé. E é com essa garra e persistência, que têm conquistado avanços, que as mulheres devem lutar pela reforma política, pontua Sônia Auxiliadora Vasconcelos Silva, secretária da Mulher Trabalhadora da CUT São Paulo. " Não queremos esse financiamento que beneficia quem já é favorecido, relegando às mulheres 10% de participação no Parlamento. Também não queremos um Congresso onde é preciso fazer acordo com banqueiros e empresários, que não representam a classe trabalhadora".
Rosane
lembrou ainda que a presidenta Dilma Rousseff deve
sancionar nesta segunda (9) o Projeto de Lei que típica
o feminicídio no
Código Penal (crimes contra a mulher por razões de gênero como a
violência doméstica e familiar).
“Essa é mais uma conquista nossa, mas temos muito a avançar,
especialmente na estrutura para atender as mulheres vitimas de
violência e o combate ao machismo no Poder Judiciário que aplica as
penas”, lembrou.
Apesar de ter tumultuado a saída da caminhada, a chuva forte que caiu na Avenida Paulista gerou um sentimento de alívio diante da crise hídrica no Estado comandado pelo PSDB. Nos discursos, elas ressaltaram o quanto a falta de água tem prejudicado o cotidiano das mulheres, principalmente nas periferias.
Cartazes pelo fim da violência doméstica, pela
legalização do aborto e, entre eles, um lembrava que a vida não
deve ser nada fácil a partir deste ano com o Congresso mais
conservador desde 1964. “Felicianos, Bolsonaros e Cunhas estão
passando por cima de nossos cadáveres. Aborto, legalize já!”,
defendia.
Para a militante da Marcha Mundial de Mulheres, Sônia Coelho, a
autonomia feminina é justamente um dos grandes gargalos para o
movimento de mulheres.
“Precisamos avançar nos direitos ligados a nossa autonomia para que não vejamos o que vimos recentemente, uma jovem sendo algemada à cama de um hospital [em São Bernardo do Campo – SP] porque praticou um aborto e teve de ser atendida. Com esse Congresso, corremos muito mais risco que qualquer outro segmento, basta ver que todos os projetos do Eduardo Cunha (PMDB-RJ, presidente da Câmara) são para transformar o aborto em crime hediondo. Ele tem conjunto de maldades para impor a nós”, definiu.
A crise
e as medidas recessivas adotadas pelo governo federal e estaduais
com ataques a direitos trabalhistas também foram criticadas pelas
trabalhadoras. Coordenadora da Comissão de Mulheres do Sindicato
dos Metalúrgicos do ABC, Ana Nice Carvalho, ressaltou a necessidade
de romper com a ideia de menosprezo sobre a atividade desenvolvida
por elas, as maiores vítimas dos cortes no mercado de trabalho.
“Há uma questão cultural de que a mulher pode ser sustentada pelo
homem e, portanto, é prioridade na hora de demitir. O que é uma
contradição, pois quase 40% das mulheres é que sustentam a família.
Temos que lutar para que essa crise não tenha o agravante do
preconceito contra nós”, defendeu.
"Eu mulher negra, resisto!"
A jovem liderança Juliana Gonçalves destacou a luta do povo negro
contra o genocídio, que mata principalmente os jovens de até 24
anos no Brasil, e convocou as participantes para a Marcha da Mulher
Negra Contra o Racismo e pelo Bem Viver, que ocorrerá dia 18 de
novembro, em Brasília, num marco de ação política organizada das
mulheres negras na rua.
"Para isso temos que sobreviver, as mulheres negras têm que vencer
as dificuldades diárias já que representam os piores índices de
direitos humanos. Só depois de superar a questão da sobrevivência é
que vamos poder lutar contra a opressão de raça e classe que recaem
sobre a mulher negra".
Da CUT/SP
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