Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula
“Sinto que está faltando política em nossa ação sindical. O economicismo só não é suficiente”, disse Lula na manhã desta terça (11), durante reunião da Executiva Nacional da CUT, realizada no auditório do Sindicato dos Químicos de São Paulo. Em sua opinião, o sindicalismo não pode ficar restrito à conquista de cláusulas econômicas durante as campanhas salariais. “O movimento sindical tem de sair do chão de fábrica, do chão das lojas, do chão dos locais de trabalho, pois o limite de representatividade passa do chão”, desafiou.
Frente ao processo deliberado e contínuo de negação da política que vem sendo comandado por setores oposicionistas e da mídia, “temos de colocar um pouco de política na cabeça deles”, segundo o ex-presidente. “Hoje me espanto quando vou na porta de fábrica e vejo muito jovem que quer fazer faculdade, não quer ser mais apenas um peão. Esse jovem sabe qual foi o papel do pai e da mãe dele? Ele sabe qual foi e qual é o papel da CUT?”, questionou, ao lembrar que a construção das condições políticas e econômicas de vida custou muito sacrifício.
Fundador da CUT e ex-presidente do Brasil, Lula lembrou que parcelas da população não têm associado as conquistas sociais recentes ao processo políticos e por isso, muitos não fazem a diferenciação entre partidos e movimentos que organizam ou dão respaldo às mudanças. “Outro dia ouvi um amigo me dizer que o filho dele se formou em Jornalismo com a ajuda do Pro Uni, mas que não vota no PT e é contra o Bolsa Família”, disse.
“Qual a mensagem?”
Com o uso de uma metáfora, Lula lembrou que a conjuntura é mais complexa do que um canteiro de obras onde uma placa se dirige às pessoas com os dizeres “Desculpe, governo trabalhando”. Para ele, promover a conscientização e a conquista da opinião pública exige um questionamento: “Qual a mensagem? Qual a ideia-força para motivar e entusiasmar as pessoas?”.
Sugeriu que a CUT e seus sindicatos deem destaque a pautas e ações no âmbito municipal, estadual e federal, valorizando a construção de políticas públicas que toquem a vida dos trabalhadores e trabalhadoras fora do horário de serviço. Desafiou o movimento sindical a também representar as parcelas que realizam novas formas de trabalho, como os autônomos. “Eu não acho que a gente tem de já ter todas as respostas. Eu só estou dizendo que a gente tem de estudar”, disse.
Antes de fazer essa análise, Lula destacou o que considera papel decisivo desempenhado pelo movimento sindical e os movimentos sociais na eleição de Dilma. Citou alguns momentos dessa atuação que, em sua opinião, representaram marcos da campanha: o ato político em defesa da Petrobrás realizado no Rio de Janeiro (15 de setembro), a manifestação em Petrolina (22 de outubro) e ações sindicais como a empreendida pelo SindUte (Sindicato Único dos Trabalhadores em Minas Gerais), na denúncia das más condições de trabalho, remuneração e ensino na rede pública do estado. “O trabalho que a Bia (Beatriz Cerqueira, coordenadora do sindicato) fez para desmistificar o que o Aécio fez em Minas foi extraordinário”, afirmou.
Mais diálogo e negociação
Ele também disse que as últimas eleições representaram para o governo e os partidos da coalizão “uma lição de humildade, conversação e negociação”. Defendeu que os novos mandatos que se iniciam devem ouvir mais os movimentos sindical e sociais para estabelecer suas ações. E pontuou: “Toda a política de desoneração tem de passar por negociação com os sindicatos, para saber se vai haver ganhos para os trabalhadores do setor beneficiado”.
Vagner Freitas, presidente da CUT, já havia cobrado ampliação de diálogo com o governo reeleito. “O terceiro turno está em curso. A oposição, a direita, perdeu no voto e agora tenta ganhar a agenda política. A Dilma não foi eleita para acalmar os bancos ou promover ajuste fiscal que retire direitos. Ajustes são necessários, mas com prioridade ao olhar da classe trabalhadora”, disse.
Em seguida, elencou algumas propostas de ajustes redistributivos. “Ajuste significa taxar grandes fortunas para obter recursos para financiar investimentos. Ajuste é promover uma política nacional de negociação permanente e de valorização dos funcionários públicos para dinamizar o Estado, é implementar uma reforma tributária que desonere o trabalhador”, citou Vagner.
Vagner deu especial destaque à reforma política. “Ajuste que queremos é convocar um plebiscito nacional para pedir uma assembleia constituinte exclusiva que vai elaborar uma reforma política”. Lula concorda. “Constituinte exclusiva é a única forma de fazer uma reforma democrática. Não dá mais para fazer política com essa estrutura podre. A reforma política é fundamental para realizarmos as outras mudanças que queremos”.
Defender a Dilma
Lula exortou os dirigentes das CUTs estaduais, das confederações, federações e sindicatos a estarem prontos para enfrentar dura resistência da oposição e ajudar Dilma a fazer um bom governo. “Esses que nos atacam são os mesmos que nunca aceitaram política social neste País. Mas o que os incomoda é o que me dá mais prazer”.
Para exemplificar o comportamento da oposição, Lula criticou o candidato derrotado Aécio Neves. “O Aécio está se achando. Teve 48% dos votos, com toda a mídia ajudando ele. Eu, em 1989, contra toda a imprensa e contra a maioria dos partidos, tive 47% e nem por isso me achei. E esse cidadão está lá, numa trincheira, não quer diálogo, não quer conversa. Deixa pra depois o que vai acontecer com ele”.
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