Marcos Corrêa/PR
São Paulo – Os depoimentos dos ex-ministros da Saúde Luiz
Henrique Mandetta e Nelson Teich, na CPI da Covid, confirmaram a
obsessão do presidente Jair Bolsonaro em defesa do uso da
cloroquina para pacientes contaminados pela covid-19.
Eles destacaram que tanto naquele momento como agora, não há
estudos científicos que comprovam a eficácia dessa substância no
tratamento da doença.
Também confirmaram que a ordem para a ampliação da produção de
cloroquina pelo laboratório do Exército não partiu do ministério. A
partir desta quinta-feira (6), quando serão ouvidos pela comissão o
atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, e o presidente da
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), os atrasos no
Plano Nacional de Imunizações (PNI), em função da falta de vacinas,
devem ser o foco principal das investigações da CPI da Covid.
Na semana que vem, prestam depoimento o ex-chefe da Secretaria de Comunicação Fabio Wajngarten e representantes da farmacêutica Pfizer. Também comparecerão a presidenta da Fiocruz, Nísia Trindade, e o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas. E ainda o ex-ministro das Relações Exteriores Ernesto Araújo e o presidente da farmacêutica União Química, Fernando de Castro Marques, empresa que tenta obter autorização para a utilização no Brasil da vacina russa Sputnik V.
Crime contra a humanidade
De acordo com a professora da Ciência Política da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Mayra Goulart, as investigações da
CPI devem focar na obtenção de documentos que comprovem que o
governo Bolsonaro deliberadamente recusou a compra de vacinas. Pelo
menos 11 ofertas por parte das farmacêuticas internacionais foram
rejeitadas pelo governo federal, desde agosto do ano passado.
Para ela, se as recusas forem confirmadas, trata-se de “crime contra a humanidade”. “Centenas de milhares de pessoas morreram porque as vacinas foram rejeitadas. O governo federal adotou política cética contra as vacinas. E certamente continua mantendo essa postura. Esse caráter errático do PNI é um crime contra a humanidade”, afirmou em entrevista ao Jornal Brasil Atual.
Diversionismo
Acuado diante das investigações, Bolsonaro voltou a insinuar que o
novo coronavírus teria sido criado pelos chineses. “É um vírus
novo. Ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser
humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares
sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será
que não estamos enfrentando uma nova guerra? Qual o país que mais
cresceu o seu PIB? Não vou dizer para vocês”, disse o presidente
nesta quarta-feira (5), durante cerimônia no Palácio do
Planalto.
O deputado federal Fausto Pinato (PP-SP), presidente da Frente Parlamentar Brasil-China, reagiu a tais declarações. Em nota, ele disse estar preocupado sobre “possível desvio de personalidade da maior autoridade do Brasil”. “A meu ver, não se trata de uma pessoa irresponsável, desequilibrada e sem noção de mundo”. Ademais, o parlamentar chegou a cogitar “grave doença mental”, recomendando a “interdição civil” do presidente.
Para Mayra, trata-se de mais uma “manobra diversionista” para tentar atrapalhar as investigações da CPI. Nesse sentido, ela disse se tratar de um “factoide” já ultrapassado. Além disso, uma comissão da Organização Mundial de Saúde (OMS), esteve na cidade de Wuhan, para investigar as origens da pandemia. Os investigadores, inclusive norte-americanos, descartaram, no entanto, a hipótese de que o vírus tivesse escapado de um laboratório chinês.
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