A covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus, já deixa 161.106 mortos no Brasil. Nas últimas 24 horas foram 610, segundo boletim da noite desta quarta (4) do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Desde março, a pandemia impõe ao país um morticínio sem precedentes. O Brasil é o segundo país com mais mortos por covid no mundo. A expectativa é de que o desenvolvimento de vacinas e sua aplicação em massa coloque fim neste período.
Entretanto, a presidenta da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, admitiu, em entrevista ao Estadão que não deve haver vacinação em massa no Brasil, ao menos não imediatamente após haver uma vacina aplicável à população. Estima-se que, sejam quais forem, as vacinas contra a covid deverão estar disponíveis a partir de março de 2021. Isso, tanto a elaborada pela Fiocruz, como a Coronavac, do Instituto Butantã. Contudo, “terá que haver algum critério de priorização, mas isso ainda não foi definido”, disse Nísia.
Entre os desafios, estão questões de logística e produção, além da politização do tema por radicais, incluindo a base do governo do presidente Jair Bolsonaro. Nísia explica que a vacina da Fiocruz, elaborada em parceria com a farmacêutica Astrazeneca e a universidade de Oxford, deverá ter produção de 100 milhões de doses nos seis primeiros meses do ano que vem, o que seria insuficiente para cobrir a população do país, de 240 milhões de pessoas.
Já nos seis meses seguintes, a previsão é de mais 210 milhões de doses produzidas; desta vez com toda a produção no Brasil, com transferência de tecnologia. Além disso, estima-se que para uma imunização efetiva, será necessário aplicar mais de uma dose por pessoa. Os parâmetros da vacina da Fiocruz são muito similares aos da vacina do Instituto Butantã, que está em desenvolvimento com parceria entre a instituição e a farmacêutica chinesa Sinovac.
Em entrevista para o Sputnik Brasil, o médico e professor da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), Gonzalo Vecina Neto, concorda com a análise da não imunização massiva em 2021. “Não iremos aumentar a velocidade de produção das vacinas contra a covid. Muito provavelmente, em janeiro, teremos a vacina chinesa. Em março, teremos a inglesa. As duas, no entanto, não serão suficientes para cobrir a população brasileira. Não há doses para isso”, disse.
Neste cenário, a explosão de uma segunda onda de mortes e casos é muito provável, como já adianta a RBA há semanas. “Portanto, a probabilidade de uma segunda onda existe e é grande (…) Isolamento, higiene e máscaras. E vamos esperar pelas vacinas”, recomenda o professor.
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