A defesa da
valorização do salário mínimo e correção da tabela de imposto de
renda
A história
do salário mínimo é a história de uma luta importante dos
trabalhadores em busca de proteção através de uma legislação que
assegure um valor de remuneração capaz de garantir direitos básicos
como alimentação, transporte, saúde e outros, suprindo as
necessidades básicas das famílias.Este princípio está previsto na
Constituição de 1988, em seu artigo 7º.
Conquistada nos anos 30 durante o Governo Vargas, a legislação
sobre o salário mínimo sofreu muitas alterações desde então,
acumulando distorções e perdas com o passar do tempo e as
oscilações da economia.
Ao longo do período de inflação alta nas décadas de 80 e 90, o
mínimo foi perdendo poder de compra porque a inflação alta
prejudica mais o trabalhador de baixa renda, com menos mecanismos
de proteção. Os demais trabalhadores possuem proteção mediante
mecanismos financeiros. A partir da estabilidade econômica, o
valor do SM passou a ser mais perceptível, pois com a inflação,
mesmo com rejustes constantes, não havia a noção concreta do poder
de compra desse salário.
Entre 1994 e 2003, os deputados e senadores apresentavam projetos
de reajuste do salário mínimo, faziam discursos empolgantes na
tribuna, mas o resultado prático era, na melhor das hipóteses, a
definição do Executivo (que era quem dava a palavra final) de um
rejuste que apenas repunha a inflação, sem ganho real. Ao aprovar o
orçamento, em dezembro do ano anterior, já era definido o valor do
SM, que também balizava as aposentadorias, pois boa parte delas o
tem como parâmetro. O orçamento era aprovado em dezembro, SM era
reajustado em maio e as aposentadorias em junho, significando que
ao receber esse salário, o trabalhador já acumulara perdas.
Neste período, temos duas questões importantes: a luta por um
salário mínimo digno parecia ser somente daqueles trabalhadores que
recebiam o salário mínimo. Esse é o primeiro dado. O outro é que no
período de estabilização, durante o Governo FHC, não havia reajuste
da tabela do IR. Muitas categorias não possuíam reajustes salariais
e aquelas que alcançavam conquistas na data base, com o reajuste da
tabela do IR, perdiam praticamente o conquistado. Então,
havia reivindicações em separado: a luta pela correção da tabela do
IR era da classe média, que pagava IR; e a luta pelo salário mínimo
era daqueles que ganhavam o salário mínimo.
A CUT percebeu isso e em 2004, sob a liderança do companheiro Luiz
Marinho – então presidente da Central, foi feita a proposição às
demais centrais sindicais de uma Marcha a Brasília. Entre os dias
13 e 15 de dezembro, milhares de trabalhadores convocados pelas
centrais caminharam de várias regiões do Distrito Federal até a
Esplanada dos Ministérios para reivindicar a recuperação de um
salário mínimo digno que deveria ter a atenção e a solidariedade de
todos os trabalhadores e a correção da tabela do imposto de renda
para todos. Uma pauta que deveria unificar toda a classe
trabalhadora. O Presidente Lula atende uma reivindicação histórica
e anuncia a elevação do SM e a correção em 10% da tabela do imposto
de renda a partir de 2005.
Para os bancários a luta importante era a correção da tabela do IR.
Para os funcionários municipais a luta era pelo salário mínimo,
pois estes, em sua maioria recebem esta remuneração, havendo ainda
casos que estão abaixo e que necessitam de complementação.
Em 2006, fruto das negociações realizadas durante a 3ª grande
marcha a Brasília, a CUT e as demais Centrais Sindicais finalmente
conquistaram uma política de valorização do salário mínimo. Esta
política foi transformada em lei sancionada pela presidente Dilma
em 2011 (Lei 13.382), estabelecendo que o reajuste deveria ser
feito considerando a correção pelo INPC e aumento real pela taxa de
crescimento real do PIB. Uma política que representou o maior
acordo salarial do mundo, pois atingiu milhões de trabalhadores
ativos e aposentados.
Com essa conquista garantida, houve condições de os sindicatos
discutirem outros temas como a redução da jornada de trabalho, o
fator previdenciário, entre outros. Neste sentido, é importante
destacar que ter uma política de aumento do salário mínimo
propiciou a ampliação da atuação sindical.
Nesse momento da conjuntura, não podemos abdicar da pauta por nós
estabelecida. Não devemos desconsiderar que a direita
brasileira, representada pelos donos do grande capital agrupados no
PSDB, realiza uma crítica à política de reajuste do Mínimo,
alegando que esse formato é prejudicial ao trabalhador
brasileiro. Por isso, precisamos estar atentos porque a atual
política terá seu prazo final agora, pois a lei aplicada pela
Presidente Dilma é válida apenas para seu mandato e se encerra em
2014. Isso significa que novamente precisaremos articular um
pacto entre as Centrais e pressionar para que haja a renovação e a
ampliação da política permanente de valorização do SM, pois
corremos o risco de, em vez de ampliar nossos direitos,
reduzi-los.
Também é nossa tarefa retomar a correção da tabela do IR. Há que se
considerar que salário não é renda. A partir dessa concepção,
queremos que a tabela do IR seja corrigida de acordo com a
inflação, assegurando uma política de compensação e de equilíbrio,
com base nas correções realizadas no passado.
Porém, não queremos apenas a correção da tabela do IR, queremos que
o grande capital seja taxado. É urgente estabelecer alíquotas de
sobretaxa para os especuladores que vivem como rentistas, sendo
imprescindível um novo formato de IR para que o salário não seja
taxado.
Queremos nos contrapor à crítica que Armínio Fraga faz agora,
presidente do BC durante o segundo mandato FHC, se autonomeando
porta-voz dos capitalistas, com o apoio da grande mídia. A classe
trabalhadora precisa perceber esse jogo, essa tentativa de lavagem
cerebral realizada no início de ano em relação ao salário mínimo e
ao superávit primário.
Se olharmos para os dados macroeconômicos ao final da gestão FHC e
Armínio Fraga, teremos em 2002 uma inflação de 12,53% com a SELIC
fechando o ano em 25% em comparação com os dados de 2013, fechamos
o ano passado com inflação de 5,91% e a SELIC em 10%. Os números
falam por si e colocam em xeque o discurso do ex-presidente do
Banco Central. Não queremos inflação, que é extremamente
prejudicial aos trabalhadores. Mas não podemos aceitar esse
discurso dos que se dizem “arautos” da verdade sobre economia, pois
o ataque é para que haja aumento da taxa de juros beneficiando os
grandes bancos, para que tenham ainda mais lucros.
Em 2013, iniciamos o ano com a SELIC em 7,25% em janeiro e fechamos
com 10% em dezembro, e encerramos o ano com um superávit primário
de R$ 75 bilhões. Destes, R$ 26,1 bilhões foram para o pagamento de
juros aumentados rotineiramente pela taxa básica alterada pelo
Banco Central, sendo que o acumulado total de juros com o pagamento
da dívida público foi de R$ 218 bilhões. Estes valores poderiam ter
sido investidos em infraestrutura e outros itens que propiciam mais
emprego e renda e, em consequência, gerariam mais receita. O que os
“donos do capital” querem é o aumento da taxa de juros e do
superávit primário para pagar juros aos bancos em prejuízo do
investimento em saúde, a educação e nas demais políticas públicas,
em prejuízo da população e do desenvolvimento do Brasil.
O superávit primário é parecido com nossa vida: pagamos aluguel,
mas ao comprarmos uma casa, fazemos um gasto que é um investimento
e deixamos de pagar o aluguel, usando esse valor para pagar a
prestação do imóvel, que é patrimônio. O aluguel vai embora.
O pagamento da taxa de juro vai embora. Nós não queremos
isso. Queremos que esse dinheiro seja investido na produção, que
gera mais desenvolvimento.
Em 2004, na 1ª Marcha da Classe Trabalhadora, a CUT e as demais
Centrais deram inicio a uma série de grandes manifestações que
garantiram importantes conquistas, não apenas para os trabalhadores
brasileiros, mas para o país, confirmando o importante papel que a
luta sindical desempenhou nos últimos 10 anos para a retomada do
crescimento. Por isso, é tarefa nossa, além das pautas já
estabelecidas, defender esta conquista histórica que garantiu a
inclusão de milhões de brasileiros e o incremento da economia, e
unir os trabalhadores em torno da manutenção de uma política
permanente de valorização do salário mínimo.
Defendemos uma política econômica alicerçada no fortalecimento da
classe trabalhadora, com aumento da massa salarial através de
manutenção da política de valorização do salário mínimo,
recuperação do valor das aposentadorias, correção da tabela do
imposto de renda e reforma fiscal, redução da informalidade,
ampliação dos direitos trabalhistas e das políticas de proteção
social. Defendemos uma ação forte do governo, com redução do
superávit primário e aumento dos investimentos públicos como
caminho para mantermos um circulo virtuoso na economia, aumentando
a renda o poder de compra da classe trabalhadora, com consequente
aumento da arrecadação tributária e dos investimentos em políticas
publicas.
Não haverá caminho para o crescimento com desenvolvimento se não
houver investimento na classe trabalhadora. A política neoliberal
já provou sua incompetência para reduzir a desigualdade e promover
o desenvolvimento. Nós já provamos deste remédio e o que estamos
assistindo na Europa confirma o que já sabemos: precarização das
condições de trabalho, abandono do trabalhador à sua sorte e
aumento da concentração de renda. Não é este o futuro que queremos
para o povo brasileiro.
* Jacy Afonso é Secretário de Organização da CUT e
Secretário Sindical do PT de Brasília e Graça Costa é Secretária de
Relações do Trabalho da CUT
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
Redação CNTTL
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