No dia 31
de março de 1964, os militares iniciavam um golpe contra o governo
legalmente eleito do ex-presidente João Goulart, conhecido como
Jango, que assumiu o poder após a renúncia de Jânio Quadros. O que
viria a seguir se tornou uma das maiores manchas na história do
Brasil, com o Estado comandado pelas Forças Armadas à frente de
perseguições, torturas e assassinatos.
Na tarde de sábado, 1ᵒ de fevereiro, o grupo de trabalho (GT)
“Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da
Comissão Nacional da Verdade” promoveu no Teatro Cacilda Becker, em
São Bernardo do Campo, um ato em homenagem aos trabalhadores
vítimas da ditadura. (Foto: Roberto
Parizotti)
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para ler a carta final do encontro.
Logo na entrada, homens e mulheres indicados pelas centrais
receberam um diploma como forma de agradecimento pela luta em
defesa da democracia no Brasil. Um dos homenageados pela CUT foi o
jornalista e diretor do grupo Oboré, Sérgio Gomes, que escapou por
pouco da morte pelas mãos dos militares.
No início da década de 1970, Gomes integrou uma comissão de
jornalistas e artistas que fundaram o Oboré para fazer a
comunicação das entidades sindicais e ajudá-las a organizar uma
imprensa própria. “Eu fui preso em 1975 e só não fui morto porque
antes mataram o Vladimir Herzog, que estava preso junto comigo e
era uma pessoa importante, muito bem relacionada, que comandava o
departamento de jornalismo da TV Cultura. Ao matarem o Vlado, se
produziu uma grande revolta na sociedade e aí várias pessoas foram
salvas”, lembra.
Empresas colaboraram com a ditadura
Ex-funcionário da Mercedez, preso com o ex-presidente Lula, em
1980, e um dos organizadores do encontro, o diretor da Associação
dos Metalúrgicos Aposentados Anistiados do ABC (AMA-A/ABC), Djalma
Bom, defendeu que a classe trabalhadora foi a maior vítima dos
crimes praticados pela ditadura.
Para desestabilizar o movimento sindical, lembrou, o regime militar
utilizou entre seus mecanismos o fim da estabilidade no emprego,
intervenções nos sindicatos, arrocho salarial e prisões de
lideranças. Além disso, infiltrava agentes nas empresas. “Vários
diretores do sindicato foram cassados, presos e enquadrados na Lei
de Segurança Nacional. E algumas empresas de São Bernardo
tornaram-se verdadeiros quartéis do exército. A Mercedez Benz tinha
o general Queiroz para fazer contato com a diretoria do nosso
sindicato. A Mercedez tinha como chefe de segurança o major
Saturnino Franco. Se fala muito em Lula, Djalma Bom, em Vicentinho
e Zé Ferreira, mas não podemos esquecer que centenas de ativistas
foram perseguidos, presos e demitidos por justa causa de seus
empregos por conta das malditas listas negras das empresas”,
recordou.
Djalma Bom conta que quando foi preso por conta da militância,
encontrou vários agentes da Polícia Federal na cadeia. “Eles
estavam infiltrados no movimento com carteiras assinadas e
esquentadas pelas empresas. Quando fomos presos perguntamos, 'mas,
como? Vocês estavam conosco fazendo piquete!' E eles diziam, “aqui
é outro caso, vocês ficam para lá e nós para cá, porque vocês são
nossos presos.”
Ex-ajudante de produção da Volkswagen e da Mercedez e atual
dirigente do PCdoB, João Batista Lemos contou como era atuar no
movimento sindical antes da redemocratização. “Em 1980, como tinha
relação com o sindicato (Metalúrgicos do ABC), fui orientado a
morar longe da fábrica da Volks para a repressão não controlar a
gente. Eu não era nem diretor, era da base, mas, mesmo assim, soube
que era o segundo nome em uma lista de 30 ativistas sindicais
entregue pela empresa ao DOPS (Departamento de Ordem Política e
Social, onde ocorreram muitas das torturas de militantes contra a
ditadura). Minha militância fez com que eu fosse demitido da Volks
e depois consegui entrar na Mercedez. Quando descobriram quem eu
era, me deslocaram no pátio da fábrica, onde recebia as peças e
ficava isolado dos demais trabalhadores. Até ser demitido de novo”,
lembrou.

Crédito: Roberto
Parizotti
Responsabilizar os patrões
Com a comprovação de que o golpe foi cívico-militar e não apenas
responsabilidade das Forças Armadas, o deputado estadual e
presidente da Comissão Estadual da Verdade “Rubens Paiva” Adriano
Diogo (PT-SP) destacou que a Comissão Nacional da Verdade (CNV)
deva apontar a responsabilidade também dos patrões. “Sem as
multinacionais que preparam, financiaram, usufruíram do golpe e
fizeram listas de trabalhadores e dirigentes sindicais para
entregar aos militares, o regime não teria a força que teve e nem
durado quanto durou. Pela punição aos torturadores, pela
identificação do papel das empresas na ditadura e pela abertura
definitiva dos arquivos dos militares”, cobrou.
A coordenadora do grupo dos trabalhadores dentro da CNV, Rosa
Cardoso, alertou que, para isso, seria necessário uma atuação mais
ampla da comissão. “Estamos lutando por um processo de
Justiça, mas é preciso ter clareza de que não alcançará empresas,
porque apenas podemos criminalizar pessoas. Precisaríamos fazer
uma construção especial como Argentina e Chile estão fazendo,
para buscar reparação das empresas”, explicou.
Diante de um auditório tomado por cerca de 500 pessoas com vários
anos de serviços prestados à classe trabalhadora, o prefeito de São
Bernardo, Luiz Marinho (PT), ressaltou a responsabilidade da
imprensa em mostrar à juventude quantos trabalhadores pagaram com a
vida pela democracia brasileira, uma maneira de impedir que novas
ditaduras tomem conta do país. Ele tratou também da importância de
combater as heranças do período de repressão. “É fundamental
olharmos as ditaduras vigentes, porque somos vítimas de uma
ditadura da comunicação. Não é possível dar continuidade a um
monopólio tão grande em nosso país. Devemos lembrar do passado para
nunca mais termos uma ditadura militar, mas também devemos olhar
para o presente para que garantirmos o acesso à informação. Outro
segmento que precisa passar por um processo de democratização é o
Judiciário brasileiro, que determina ao Congresso Nacional e aos
partidos políticos como agir e impõe barreiras ao movimento
sindical por meio de penalidades e multas, como forma de impedir a
luta”, criticou.
Secretário-Geral da CUT, Sérgio Nobre, destacou os avanços da
democracia brasileira, mas ponderou que ainda é um processo
inacabado. “Avançamos na democracia política, no direito de votar,
mas esta luta estará incompleta enquanto não houver democracia nos
locais de trabalho, onde ainda impera a ditadura do patrão, onde o
trabalhador não pode falar e discordar. E apesar de todos os
avanços sociais nos últimos anos, ainda há muita gente para
incluir. Enquanto um único brasileiro estiver passando fome, nossa
luta não estará completa”, disse.
Reformas pendentes
Homenageado em nome do pai, João Vicente Goulart lembrou que o
Brasil ainda está em dívida com o povo brasileiro ao não promover
as reformas que tiraram João Goulart do poder. “As reformas
tributária, urbana, educacional, bancária, a lei de remessa de
lucros são mudanças que este país, 50 anos depois, ainda precisa
fazer. É necessário que exumemos as reformas de base para que
possamos avançar pelos trabalhadores e por aqueles que ainda são
marginalizados. A democracia venceu, mas ainda fala justiça
social”, afirmou.
Papel da Comissão da Verdade
Secretário de Políticas Sociais da CUT, Expedito Solaney, acredita
que a manifestação em São Bernardo foi a primeira de muitas
mobilizações para marcar um ano em que a Comissão Nacional da
Verdade encerrará o levantamento sobre os atentados aos direitos
humanos durante a ditadura. “Este ato numa cidade que começou a
incendiar as greve e as lutas é um passo muito importante para
enterrar de vez o regime militar. Iniciamos este ano registrando
nossa indignação e nossa exigência de que a Comissão oriente em
seus relatórios a punição aos militares que cometeram crime
lesa-humanidade. Porque é essa impunidade que dá liberdade aos
militares de hoje para torturarem e para que tenhamos péssimas
condições nos presídios. Esperamos que possamos repetir atos como
esse em vários lugares do país”, ressaltou.
Durante os próximos meses, o GT dos trabalhadores já tem
manifestações semelhantes agendadas no Pará, Bahia, Ceará, Goiás,
Porto Alegre e Vale do Paraíba, em São Paulo.
Para as vítimas da ditadura, como o jornalista Sérgio Gomes, o
essencial é que o Estado assuma sua responsabilidade e a punição
alcance os mandantes dos crimes. “O importante é a identificação da
cadeia de comando, perceber que é o regime ditatorial que engrenda
a ditadura, a tortura e que havia pessoas no comando disso. É
essencial mostrar os instrumentos, mas também como as várias forças
na sociedade brasileira ser articularam para dar o golpe”.
Com informações da
CUT
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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