As famílias
das quatro vítimas da Chacina de Unaí ainda esperam uma resposta da
Justiça sobre quem mais estaria envolvido no crime, que aconteceu
há exatos dez anos. Em 2013, foram julgados e condenados em
primeira instância três réus do processo que teriam atuado
diretamente no assassinato dos servidores do Ministério do Trabalho
e Emprego (MTE), mas os outros cinco acusados de envolvimento só
poderão ir a julgamento depois de o Supremo Tribunal Federal (STF)
decidir sobre um recurso movido pelos advogados de um deles.
(Foto: José
Cruz/Abr)
Em janeiro de 2004, os auditores do trabalho Nelson José da Silva,
João Batista Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, e o motorista
Ailton Pereira de Oliveira faziam uma operação de fiscalização em
Unaí (município do noroeste de Minas Gerais) quando, segundo a
investigação do Ministério Público Federal (MPF), foram
assassinados por Rogério Alan Rocha Rios e Erinaldo de Vasconcelos
Silva. Os dois foram condenados em setembro de 2013 em primeira
instância junto com William Gomes de Miranda, que teve uma
participação considerada de menor importância. O Dia Nacional de
Combate ao Trabalho Escravo, comemorado todo 28 de janeiro, foi
estabelecido em homenagem às quatro vítimas.
Julgamento suspenso
A segunda sessão do julgamento da Chacina de Unaí estava marcada
para 17 de setembro de 2013 em Belo Horizonte e colocaria no banco
dos réus outros quatro acusados: Norberto Mânica, Hugo Pimenta,
José Alberto de Castro e Humberto Ribeiro dos Santos teriam de se
defender diante de sete jurados que compõem o Tribunal do Júri. Um
dia antes, no entanto, o julgamento foi suspenso pelo STF a pedido
da defesa de Norberto Mânica, que tenta a transferência do júri
para Unaí, onde foi criada uma vara da Justiça Federal em 2010.
A mudança já havia sido pedida outras vezes, mas até então
prevalecera o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ),
para o qual a criação de nova vara com jurisdição sobre o município
onde se deu a infração penal não implica incompetência do juízo em
que se iniciou a ação penal. O STF,
hierarquicamente superior ao STJ, no entanto, ainda precisa
concluir a votação do mérito do habeas corpus acolhido pelo
relator, o ministro Marco Aurélio Mello. A discussão estava
empatada com um voto favorável e outro contrário ao recurso quando
foi interrompida por um pedido de vistas do ministro Dias Toffoli,
em 1º de outubro e não foi retomada desde então.
Prefeito é réu
Além dos quatro acusados que seriam julgados em setembro de 2013,
também é réu no processo Antério Mânica, irmão de Norberto, que só
irá a júri depois dos demais. Com alta popularidade no pequeno
município do noroeste mineiro de Unaí, a família Mânica é uma das
principais produtoras de feijão. Antério foi prefeito por dois
mandatos, entre 2004 e 2012, e, mesmo atrás das grades, foi eleito
com 72% dos votos no primeiro pleito. Ele pretendia se candidatar a
deputado federal neste ano e já havia anunciado filiação ao Partido
da República (PR), mas um processo movido por políticos da oposição
do município pode derrubar seus planos e impedir que ele volte a
ter foro privilegiado na Justiça.
Antério foi condenado em outubro de 2013 na primeira instância da
Justiça Eleitoral a multa de R$ 25 mil por abuso de poder. Durante
a eleição de 2012, enquanto ainda era prefeito de Unaí, ele teria
usado dinheiro público para imprimir panfletos defendendo José
Gomes Branquinho (PSDB), então candidato a prefeito do município, e
seu vice, Zeuman de Oliveira e Silva (PMDB), de acusações da
oposição. Na sentença, a juíza Mônika Alessandra Machado Gomes
Alves escreveu que Antério “beneficiou uma vez mais os candidatos
que representavam a continuação de sua administração, violando os
princípios constitucionais da administração pública, causando dano
ao erário, fatos que inclusive configuram ato improbidade
administrativa”. Pelo caso, Antério teve sua filiação cancelada por
determinação judicial em dezembro de 2013 e, se for condenado em
segunda instância, pode ficar inelegível por oito anos por conta da
Lei da Ficha Limpa.
A Chacina de Unaí de acordo com as
investigações
Um dos fiscais assassinados em 28 de janeiro de 2004, Nelson José
da Silva, já era bastante conhecido em Unaí. Seu trabalho
incomodava os fazendeiros da região e ele já havia aplicado cerca
de R$ 2 milhões em multas resultantes de diversas fiscalizações nas
terras da família Mânica, conhecida como “reis do feijão” e dona da
Fazenda Bocaina, onde a chacina ocorreu. Um ano antes do crime,
Nelson relatara ao MTE ter sofrido ameaça de Norberto Mânica:
durante uma operação, Norberto teria insinuado interesse em matar o
auditor para que cessassem as fiscalizações. Devido às ameaças, o
então delegado do trabalho de Minas Gerais, Carlos Calazans,
ofereceu a transferência de Nelson para outro município. Ele
recusou: “Se você me tirar daqui, vão dizer que você me tirou por
pressão [dos fazendeiros]”.
Infográfico com as relações entre os acusados da Chacina de Unaí
(Por Stefano Wrobleski)Dos quatro funcionários do MTE assassinados,
Nelson era o único que morava em Unaí. Os outros dois fiscais, João
Batista Lage e Eratóstenes de Almeida Gonçalves, e o motorista
Ailton Pereira de Oliveira haviam saído de Belo Horizonte para
acompanhá-lo em uma ação de fiscalização. No dia 28 de janeiro de
2004, eles partiram às sete horas da manhã do hotel em que estavam,
em Unaí, em direção à Fazenda Bocaina. Uma denúncia apontava que os
empregados da fazenda dos Mânica não tinham registro em carteira e
recebiam salários inferiores ao mínimo. De acordo com a denúncia,
os patrões também não estariam cumprindo leis de segurança e
higiene e estariam submetendo seus funcionários a alimentação
precária.
O crime
Assim que a equipe saiu do hotel, José ligou para Erinaldo,
informando-o. Logo depois, outra ligação: o primeiro alertaria o
segundo que os funcionários do MTE estavam próximos de Erinaldo e
Rogério. William seguiria as vítimas depois, em outro carro. Ele,
contudo, não chegou a tempo por conta de um pneu
furado.
Erinaldo e Rogério fariam, então, o caminho das vítimas, que se
perderam, dando a chance de os jagunços as encontrarem em um local
à frente delas, já numa estrada de terra que dá acesso à Fazenda
Bocaina. Ainda sem mostrar armas, os pistoleiros pediam informações
a Ailton, que parara o carro. Em seguida, anunciaram um assalto,
recolheram celulares e o relógio do fiscal Eratóstenes e atiraram
nos quatro. Mas, como admite Rogério em depoimento, aquilo não era
um assalto: “Era só pra acalmar, né?”.
Com duas balas alojadas na cabeça, Ailton ainda conseguiu fugir e
dirigir por sete quilômetros com as outras três vítimas, já
desacordadas, no carro. Ele foi socorrido e levado ao hospital,
onde chegou a contar o que lhe acontecera antes de morrer, horas
depois. Enquanto isso, Erinaldo ligava para informar a José que o
serviço estava feito.
Os irmãos Norberto e Antério Mânica teriam sido os mandantes da
chacina. Os empresários Hugo e José Alberto teriam intermediado a
relação dos Mânica com o já falecido Francisco Élder Pinheiro, que
as investigações concluíram ter sido o contratante dos
executores.
Valores
Antes de o crime acontecer, os executores entraram em contato com
Francisco para informar que Nelson estava acompanhado de mais três
pessoas. Sua morte já havia sido “orçada” em R$ 25 mil e o contato
com Francisco resultaria na autorização do assassinato dos quatro
funcionários do MTE, mediante aumento no valor oferecido. O
dinheiro viria do “patrão” de Francisco, Hugo, que era amigo de
Norberto e devia a ele R$ 180 mil. Depois do
crime, Francisco chamaria Erinaldo para que ele distribuísse o
dinheiro aos demais. O próprio Francisco ficou com R$ 16 mil,
enquanto Erinaldo recebeu R$ 17 mil, Rogério, R$ 9 mil, e William,
R$ 5 mil. Outros R$ 3 mil foram para Humberto, que ficara
responsável por arrancar a folha de registro do hotel em que os
pistoleiros ficaram, na qual Rogério havia escrito o seu nome
verdadeiro.
Já Antério Mânica foi considerado mandante porque fez ligações à
Subdelegacia Regional do Trabalho em Paracatu (a 100 quilômetros de
Unaí) e à Polícia Civil indagando sobre a chacina logo em seguida
ao crime. Além disso, em depoimento, William fez referência a um
homem que ocupava um carro com as mesmas características do veículo
da mulher de Antério.
Redação com Repórter
Brasil
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