Nas
primeiras semanas de janeiro, os chamados “rolezinhos” – encontros
de jovens da periferia de grandes cidades para passear, ou “dar um
rolê” – tomaram o centro dos debates sobre desigualdade, racismo e
espaços para lazer no Brasil.
Organizado pela Internet desde dezembro de 2013 e escolhendo os
Shopping Centers como locais de reunião, o movimento se tornou
símbolo da ocupação de um ambiente tradicionalmente reservado à
classe média. Alcançou a maior repercussão após a rápida e violenta
repressão policial no Shopping Metrô Itaquera, no sábado, 11, que
incluiu balas de borracha e bombas de gás lacrimogêneo.
Apartheid social
Para Alfredo Santos Junior, Secretário Nacional de Juventude da
CUT, a reação de setores mais conservadores da sociedade em relação
aos “rolezinhos” representa o medo das elites de ter seu espaço –
historicamente baseado na desigualdade – ameaçado por setores que
são sistematicamente excluídos desta realidade. “É preciso pensar o
Shopping também como meio de apartheid social”, afirma o dirigente.
“Ele materializa a desigualdade histórica no acesso aos bens e, com
a ascensão financeira vista nos últimos anos, é um ambiente que
sofre impacto. E outra coisa: Shopping é considerado local de
divertimento individual, para que não haja riscos de ações e
encontros organizados que possam levar ao questionamento do status
quo. Quando se vai a esses lugares em grandes grupos, há o medo de
quebra da lógica atual”, lembra.
A lógica atual, para Alfredo, passa pelas contradições inerentes ao
Capitalismo e à segregação, pela discussão do direito à cidade e da
Mobilidade Urbana, pela Cultura e, ainda, pela questão do racismo.
“Durante os rolezinhos, até agora, não foi registrado nenhum caso
de furto, roubo ou assalto. Nada. Mesmo assim, a imprensa aborda
como se fosse algo prestes a acontecer. Isto é uma questão racial,
onde se classifica os cidadãos perigosos ou não por meio da cor de
sua pele e classe social. Quando o público não é visualmente
caracterizado como da periferia, quando não é negro, não é
criminalizado”, destacou.
Como exemplo, Alfredo cita eventos ocorridos no Nordeste no final
da década de 90, chamados de “bondes”. Nos “bondes”, jovens de
classe média agiam de forma violenta em encontros coletivos
acontecidos em espaços públicos e privados. “Como se tratava de um
público mais de classe média, a ação até era reprimida por
seguranças particulares do Shopping, mas nunca criminalizada. Não
havia Polícia Militar. E aí devemos incluir o componente social e o
racial”, disse.
Para o Secretário, a grande violência, na visão das elites, é a
presença da periferia nas regiões mais centrais da cidade. Um vídeo
que circula na Internet mostra jovens alunos da USP no Shopping
Eldorado, em São Paulo, cantando e subindo em mesas da praça de
alimentação. Os seguranças não interferem no movimento.
Prisão para averiguação
Alfredo lembra também que, na periferia, quando não há testemunhas
e mídia, as repressões são ainda mais violentas do que as ocorridas
no Shopping de Itaquera. As balas não são de borracha, são
verdadeiras, e as vítimas têm características específicas. “A
violência do Polícia Militar, que não deveria nem mesmo estar
fazendo a segurança de ambiente privado, passa pelo estereótipo do
que ofereceria risco: negro, jovem e pobre”.
O assunto dialoga com outra questão trabalhada pelos movimentos
sociais em relação à Juventude: os autos de resistência. Desde
2012, o Projeto de Lei nº 4471, pelo fim dos autos de resistência -
uma medida da época da Ditadura que dificulta a investigação de
mortes e lesões corporais cometidas pela polícia – está em
discussão. Alfredo lembra que algumas ações ainda hoje utilizadas
em abordagens policiais são originadas no período militar e não são
leis. “Reter alguém sem motivos é criminalização prévia, com base
em aparências. Vimos isso na ditadura militar e nas manifestações
de junho. Não está no ordenamento jurídico brasileiro”, afirma o
dirigente.
Música
Depoimentos publicados na imprensa apontam que os jovens dos
“rolezinhos” entoavam letras de Funk, gênero musical, no Brasil,
associado à criminalidade e às regiões de periferia. Alfredo lembra
as origens da música e reafirma que a questão central das reações
contra o movimento é a aparência do público. “O preconceito não é
exatamente com a música em si, mas com a população que ouve essa
música. Se vemos a letra de algumas músicas de Sertanejo
Universitário e compararmos com Funk Ostentação, por exemplo, há
conteúdos bem parecidos. Mas o biotipo de quem ouve, as vestimentas
e o ambiente das músicas são diferentes. Se um grupo negro,
cantando Funk, assusta, será que um grupo branco, cantando música
de outro padrão, assustaria?”, questiona o dirigente, que não deixa
de lado o fato de que várias letras são relacionadas ao acúmulo de
capital. “É importante questionar o Capitalismo, mas a questão
central, nesse caso, é a não criminalização do direito de ir e
vir”.
O Estado
A reação aos encontros movimentaram as redes sociais. Um dos
argumentos mais frequentes é o de que o Estado precisa garantir
espaços de lazer e cultura nas regiões mais afastadas para evitar
esse tipo de atitude, que seria uma reação à inexistência de
políticas públicas para a juventude da periferia.
Alfredo lembra que, apesar de parecer um argumento bem
intencionado, é preciso cuidado com a lógica subentendida na
questão. “Claro que não podemos nos esquecer da importância de
valorizar espaços da periferia. É importante termos equipamentos
públicos perto de nossas casas. Mas todos temos o direito de ir e
vir em qualquer espaço. Esse é o ponto central. Não podemos cair na
lógica da grande imprensa e da classe média, que buscam, com uma
adaptação deste discurso, confinar a periferia na periferia. A
cidade é de todos.”
A repressão e perseguição policial não são as únicas consequências
sofridas pelos jovens, lembra o Secretário de Juventude. Há também
a perseguição social. “Muitos organizadores e participantes dos
“rolezinhos” estão sendo perseguidos socialmente. Perdem seus
empregos pela estigmatização do movimento alimentada, inclusive,
pela mídia. Como os patrões dessas pessoas, via de regra, não
concordam com os ‘rolezinhos’ – até por serem de outra classe
social – eles sofrem represálias sérias como essas”, afirma
Alfredo. “O que se diz a esses jovens é que eles não podem ocupar
este espaço quando, na verdade, podem”, conclui.
Com informações da CUT
Nacional
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