O
presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), Rui Falcão,
realizou uma entrevista ao Fórum Nacional pela Democratização da
Comunicação (FNDC) destacando o fato de que a proposta de regulação
dos meios de comunicação foi resolução de conferência nacional e
afirmando que a discussão do marco regulatório representa ampliar a
democracia.
Para Falcão, a resistência à regulamentação será vencida por meio
da formação do conjunto da sociedade sobre o tema, e que as ações
dos movimentos sociais pela democratização da comunicação devem
dialogar com a população e conseguir assinaturas para o projeto de
Lei de Iniciativa Popular – esclarecendo a opinião pública sobre as
mudanças “difíceis”, pois “mexem com interesses poderosíssimos e
que hoje estão interditando o debate político mais livre na
sociedade”.
Confira abaixo a íntegra da entrevista.
FNDC – Por que precisamos de um novo
marco regulatório no Brasil?
Rui
Falcão –
Todos os países têm algum tipo de regulação sobre os meios
eletrônicos e não é cerceamento, ao contrário, procuram
corresponder ao fato de que o direito à informação, à liberdade de
expressão, é também um direito individual. Mas, com os meios
modernos de comunicação, com a convergência das mídias, cada vez
mais esse direito é interativo, coletivo e social. É preciso que o
Estado, em nome da sociedade, fixe parâmetros e regras que não
implicam a restrição de conteúdo, mas normas de funcionamento para
esses meios, que são cada vez mais poderosos, formam opiniões e
difundem interesses. Em todos os países há alguma regulamentação
para os meios eletrônicos.
No Brasil, a Constituição
fixou algumas regras para os meios de comunicação: os artigos 220,
221,222 e 223. O que temos defendido é que o marco regulatório deve
se restringir ao que está escrito na Constituição e carece de
regulamentação. Sei que na sociedade há propostas que extravasam
isso. Esse debate foi feito na Conferência Nacional de Comunicação,
que estabeleceu uma série de compromissos para o governo, você
tinha a Lei de Imprensa, de 1969, que foi derrubada pelo Supremo,
tem o Código Brasileiro de Telecomunicações, que já completou mais
de 50 anos e é de uma época em que não havia nem internet. Até para
atualizar a legislação você precisaria de um marco
regulatório.
O que o PT defende na
prática?
Primeiro, que se cumpram os
artigos da Constituição que proíbem a existência de monopólios e
oligopólios e a aplicação da complementaridade, a convivência de
três tipos de sistema de comunicação: o privado, que predomina no
Brasil e não vai ser desapropriado, nem seus conteúdos serão
cerceados; o estatal e o setor público, que também deveria conviver
nessa tríade. É preciso estimular o surgimento de um setor público,
ter novas normas e leis que protejam as rádios comunitárias para
que não aconteça como atualmente, em que boa parte funciona
ilegalmente.
A própria normatização das
TVs abertas exige um percentual de conteúdo nacional e, para isso,
precisa produzir um conteúdo que atenda à complexidade do país, as
culturas, os sotaques.
Com relação à mídia impressa, não há nenhuma interferência do marco
regulatório, a não ser a discussão se é necessário ou não uma lei
específica para o direito de resposta, que não tem relação direta
com o marco regulatório. A revogação da Lei de Imprensa deixou um
vazio jurídico.
Pessoalmente, entendo que
deveríamos ter uma lei específica que não jogasse sobre o
jornalista e sim sobre as empresas a responsabilidade sobre
reparações financeiras. Também seria importante os jornalistas
apoiarem esse movimento, que significa mais empregos e melhores
condições de trabalho e permitiria estabelecermos um código de
ética que fosse aceito nas empresas com direito de objeção de
consciência – o jornalista não ser obrigado a fazer determinadas
matérias que violem suas convicções.
E é importante enfatizar cada
vez mais que isso não diz respeito a nenhum cerceamento de
liberdade de expressão, não estamos propondo orientar as matérias
que os jornalistas produzem e nem suprimir a oposição pela
regulamentação dos meios. Se pode haver algum tipo de restrição, é
aquilo que está previsto na Constituição.
O secretário-executivo do
Ministério das Comunicações, Cesar Alvarez, disse que o governo não
discutirá o marco regulatório. Como fazer para o governo mudar de
opinião?
Na reunião do diretório no
início de março, fizemos um apelo ao governo para que reconsidere
essa decisão. E o próprio Congresso Nacional, se quisesse, poderia
regulamentar os artigos da Constituição independentemente do
Executivo. Mas não parece ser esse o quadro no Congresso, tanto que
tivemos, um dia depois da nossa decisão de apoiar a iniciativa
popular da CUT e do FNDC de um Projeto de Lei de Iniciativa
Popular, um dirigente do PMDB dizendo que é totalmente contrário a
esse tipo de política que defendemos. Há setores do Congresso que
se opõem a essa regulação e por isso não se faz. Há propostas, por
exemplo, de que político não seja proprietário de meio de
comunicação. É evidente que se isso fosse lei você precisaria de um
tempo para que o político ou desistisse do mandato ou transferisse
para outra pessoa a propriedade. Porque o argumento é que quem
autoriza e renova concessão, no caso dos meio eletrônicos, não pode
conceder pra si mesmo, mas sabemos que há resistência.
E como se vence essa
resistência?
Através da pressão da
sociedade. É uma luta de muitos anos que vem sendo travada por
dezenas de entidades e acho que ganhou novo impulso porque parece
que há o desejo de grandes entidades de levarem essa campanha pra
rua. E é bom que se diga, ninguém vai mexer com o futebol na TV,
ninguém vai acabar com as novelas. Ao contrário: em vez de acabar
com o futebol, tem que democratizar a possibilidade de mais gente
transmitir as partidas.
São coisas assim de senso
comum, mas acho que a campanha da CUT, do FNDC, do Intervozes, das
dezenas de blogueiros e entidades que lutam pela democratização da
comunicação têm de dialogar com a sociedade e conseguir assinaturas
e ganhar opinião pública para essas mudanças que são difíceis,
mexem com interesses poderosíssimos e que hoje estão interditando o
debate político mais livre na sociedade.
Estamos vivendo o período
mais longo de democracia no Brasil e há mudanças que são urgentes e
inadiáveis, e uma delas é o alargamento da liberdade de expressão.
Estamos há anos falando da democratização da comunicação e fica
parecendo que não vamos conseguir isso tão cedo, mas a pressão da
sociedade e a influência das mídias digitais, a sociedade em
movimento, uma grande ascensão social pode mudar a cabeça das
pessoas. Por isso a importância dessa campanha ir pra rua, pedir
assinaturas, porque cada assinatura requer uma informação, é a
sociedade fazendo política.
Qual a avaliação que o
senhor faz a partir dos governos Lula e Dilma sobre o interesse em
democratizar a comunicação?
Primeiro, de que não há
repressão sobre jornalistas e imprensa. Não há uma atividade de
censura, uma invasão de empresa jornalística, um jornalista
perseguido. Segundo, aprovamos a Lei de Acesso à Informação, que é
um passo importante para democratizar a comunicação oficial, que
sempre foi muito fechada. Terceiro, a veiculação de publicidade
oficial se espalhou bastante. Essa também é uma postura que
favorece ter mais liberdade de expressão no Brasil. Diminuiu muito
a perseguição às rádios comunitárias, algumas TVs tiveram
autorização para funcionar, como a TVT, que está prestes a
conseguir instalar uma antena na Paulista e poderá atingir toda a
região metropolitana. Houve a criação da TV Brasil. São avanços
ainda insuficientes, mas que, comparados ao período anterior, são
avanços. Como a realização da Conferência Nacional da Comunicação
que, apesar da oposição de setores da grande imprensa, foi um
sucesso. Uma das propostas era, inclusive, a construção de um marco
regulatório. E isso o governo está devendo, sua própria
deliberação.
Em evento recente da CUT,
o presidente Lula defendeu que os movimentos sociais se
articulassem para a construção de uma mídia própria. Mas como é
possível vencer esse gargalo se os critérios técnicos de
publicidade federal acabam ainda beneficiando os monopólios e o
acesso às concessões de rádio e TV por essas organizações ainda é
muito difícil?
Quanto mais o campo popular
puder reunir suas publicações, seus veículos eletrônicos para ter
conteúdo semelhante, eu acho positivo. Mas não creio que esse seja
o caminho alternativo à criação de um marco regulador. Cada
publicação e cada veículo tem sua linha, representa seus segmentos,
representa categorias profissionais, fica difícil ter pauta
unificada. Quanto mais sinergia puder haver entre esses veículos,
melhor, mas não creio que isso seja um contraponto ao monopólio. Eu
acho que deveriam ser revistos os critérios para termos a
possibilidade de novas concessões, e é preciso reorientar, sem
favorecer, os critérios de veiculação.
Com informações do
PT
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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