Em entrevista exclusiva à
reportagem da revista e TV Linha Direta, o secretário nacional de
Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, Paul
Singer, avalia a crise da economia norte-americana carrega traços
similares à Grande Depressão de 1929.
Economista, professor da Universidade de São Paulo aposentado e
secretário do Planejamento no governo Erundina, Singer analisa que
há um “aguçamento da luta de classes”, mas está confiante que o
País não será afetado em razão das medidas de controle do capital
especulativo e política do pleno emprego, adotadas pelo governo de
Dilma Rousseff.
Na entrevista, ele falou também à reportagem sobre as
possibilidades da economia solidária no atual cenário.
Confira.
Linha Direta - Qual a sua avaliação do impasse que se criou dos
EUA nesse cenário de crise sobre o teto da dívida? Isso é uma
questão de estratégia eleitoral como dizem os especialistas?
Paul Singer - É mais do que uma estratégia eleitoral nas
eleições do ano que vem para presidente dos Estados Unidos, onde
Barack Obama será candidato novamente. É o aguçamento da luta de
classes. E se trata da presença do Estado na economia americana. A
direita, representada pelo Partido Republicano, defende os
interesses de milionários. Insiste que eles paguem menos impostos
que o resto do povo, por incrível que pareça é exatamente isso que
eles pregam. Na época que eles governavam os EUA, durante oito anos
sob [a Presidência de George] Bush, oito anos, houve uma forte
redução dos impostos aos muito ricos. A ideia é que isso ia gerar
emprego. Quer dizer, os muito ricos iam aproveitar o dinheiro que
eles não pagariam mais ao governo para investir, ampliar a
economia, isso seria bom para todo mundo. Aconteceu ao
contrário.
Veio a crise, o desemprego está alto e os milionários não pagam
impostos. Então, o americano quer deixar terminar essa legislação
do presidente Bush. O que implica no aumento novamente dos impostos
sobre os muito ricos e com isso reduzir o déficit do governo
americano.
O Obama se comprometeu a criar, a estender a saúde pública para
eles. Ele venceu [as eleições], não conseguiu tudo o que queria,
mas bastante. Aí os republicanos dominaram a Câmara dos Deputados.
Os democratas continuam com maioria no Senado. Daí o impasse.
LD - Professor, essa crise na maior economia do mundo tem alguma
semelhança com a crise de 29? E emendando: hoje, vários países da
Europa também vivem um desemprego fortíssimo, cortes sociais...
PS - As crises são análogas, não são exatamente iguais. Quando
a crise de 2008 começou, todos os governos do mundo passaram a
ampliar o seu gasto público, que é uma forma anticíclica. A crise
consiste na queda da demanda. As pessoas não recebem crédito, o
sistema financeiro estava numa crise enorme e a falta de crédito
significa menos consumo e menos investimento. Se não há compra a
prazo encalham as mercadorias, a indústria tem que reduzir a
produção e as pessoas ficam desempregadas. Milhões perderam seus
empregos em 2008 e 2009, em 2010 é que começou a ser superada.
Porque a demanda pública substitui a privada de certa forma. O
Brasil escapou da crise por uma ampliação forte da demanda pública,
principalmente o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e
o Minha Casa Minha Vida. Aqui a repercussão da crise foi muito mais
fraca ou mais limitada do que na Europa e também nos Estados
Unidos.
LD - Numa economia globalizada, financeirizada, de que forma
essa crise pode afetar o Brasil? Em 2008 o Governo Lula disse que a
crise seria uma marola e o Brasil conseguiu sair muito bem daquele
momento.
PS - Foi. Ele [Lula] estava inteiramente certo. Ele blindou a
economia brasileira e a presidenta Dilma fará o mesmo, acredito. Há
duas formas que o Brasil pode ser afetado. Uma é financeira: a fuga
de capitais brasileiros e também não brasileiros do Brasil. Essa
hipótese não acontecerá se tiver o tal calote. Isso enfraquece o
dólar, logo vão querer vender os dólares e comprar real. Isso nos
afeta porque torna nossos produtos muito caros lá fora. Hoje há um
déficit na conta externa na parte industrial. Antes substituíamos o
que importávamos por produto nacional, foi a maneira de nos
industrializarmos. Nos últimos anos, estamos importando e deixando
de produzir aqui.
LD - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou em entrevista
recente que para conter a inflação se preciso for o governo
adotaria medidas de restrição ao crédito. Não é uma situação
perigosa para o governo em relação à população?
PS - É um dilema. A inflação brasileira hoje está acima do
desejado. O plano é de que a inflação se mantenha 4,5% ao ano. O
Governo Lula praticamente obteve isso todos os anos, mas deixou uma
inflação maior para a Dilma que está hoje no limite superior, em
6,5%, chega a 7%. Não é uma inflação alta para quem viveu as
últimas décadas 4,5 ou 6,5% de inflação semanal. Era 50 vezes
maior. Mas essa experiência traumática que tivemos anos e anos é um
dilema.
O diagnóstico no Brasil hoje é de que temos uma economia muito
aquecida.
Se não fizer nada e a inflação for para 8%, 9% isso pode levar a
uma pressão muito grande sobre os salários.
Estamos em pleno emprego. O desemprego está por volta de 6% e
chegou a mais de 20%, conforme a metodologia do Dieese, que é a
melhor porque mede não somente o desemprego explícito, mas o
oculto. É o mais baixo dos últimos 30 anos.
LD - Qual a posição que vai ocupar a economia solidária nessa
economia que parece cada vez mais financeirizada? Há espaço para a
economia solidária?
PS - Tem esse espaço, e ele é necessário...
A economia solidária está crescendo no mundo inteiro. Está
crescendo muito no Brasil, porque tem o apoio do governo brasileiro
desde 2003. Cresce na Argentina, está crescendo na Bolívia,
Equador, Venezuela, no México. Estou falando só dos países da
América Latina, mas está crescendo na África, Ásia e Europa, porque
não depende do desemprego.
A economia solidária cria o seu próprio trabalho. Ela é
autogestionária, então os desempregados, precisamente os jovens se
organizam, se colocam no mercado e conseguem trabalhar, conseguem
ganhar e não ser apenas explorados e alienados.
LD - Quanto a economia solidária cresceu no Brasil?
PS - Estamos fazendo um mapeamento da economia solidária desde
2005. Em 2007, havia um 1,7 milhão de pessoas na economia
solidária. Nossa estimativa é que pelo menos 3 milhões de
brasileiros estão hoje na economia solidária. É 3% da população
economicamente ativa. Considerando que a economia solidária não tem
mais do que 20 anos de desenvolvimento mais forte no Brasil, é
significativo. Será bem maior no futuro.
LD – Professor, fala para gente sobre uma experiência que está
tendo êxito, incentivando outras comunidades em trabalhar?
PS - A Uniforja, que já foi a maior forjaria da América Latina
e depois que entrou em crise, por volta de 1998, os trabalhadores
assumiram [o controle] e estão lá há 13 anos.
Há muitas. Cerca de 150 no Brasil que foram empresas capitalistas,
hoje prosperam sob a autogestão dos trabalhadores. Temos por volta
de 20 a 30 mil empresas de economia solidária de todos os tamanhos.
Só o MST tem por volta de 500 mil famílias assentadas no Brasil e
todas em economia solidária. São dezenas de cooperativas agrícolas.
O governo está ampliando o apoio tecnológico e eles estão se saindo
bem. O MST é um exemplo importante.
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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