Imprensa denuncia descaso de Equipamentos de Proteção na Gol

Após a chegada da pandemia Covid-19 no Brasil, a empresa só autorizou o uso de EPIs após insistente contato do SNA (Sindicato Nacional dos Aeroviários).

Por: Claudia Fonseca/Agência Amora
Publicação: 13/04/2020
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foto: GOL

O portal Brasil de Fato denunciou no dia 10 de abril o descaso com equipamentos de proteção na Gol para uso dos funcionários e funcionárias. Após a chegada da pandemia Covid-19 no Brasil, a empresa só autorizou o uso de EPIs após insistente contato do SNA (Sindicato Nacional dos Aeroviários). Porém, a companhia aérea apenas liberou a utilização, mas não forneceu. Segundo denúncias recebidas por dirigentes sindicais, recentemente a Gol disponibilizou o álcool em gel, mas as máscaras e luvas ainda são compradas pelos trabalhadores e trabalhadoras.

A matéria intitulada “Trabalhadores da Gol foram proibidos de usar máscaras e luvas durante a pandemia” gera repercussão e já é reproduzida por diferentes veículos. Entre as fontes da matéria, o jornalista Marques Casara entrevistou a coordenadora da Região Sul do SNA, Patrícia Gomes; o advogado trabalhista responsável pela assessoria jurídica do Sindicato, Álvaro Quintão; além de reproduzir declarações de funcionários impedidos de usarem máscaras quando o período de distanciamento social já havia sido determinado no país. A direção da Gol também foi entrevistada, mas negou todas as denúncias do SNA.

Leia a reportagem:

Trabalhadores da Gol foram proibidos de usar máscaras e luvas durante a pandemia”

Funcionários relatam ameaças de punições administrativas caso utilizassem equipamentos de proteção
Por Marques Casara

A chegada do novo coronavírus ao Brasil foi negligenciada por uma das maiores companhias aéreas da América do Sul, a Gol, que opera uma média de 700 voos diários e tem 16 mil funcionários.

Em áudios obtidos pelo Brasil de Fato, trabalhadores relatam que foram proibidos pela empresa de usar máscaras e luvas no ambiente de trabalho. Se o fizessem, seriam punidos administrativamente. A proibição ocorreu inclusive depois da decretação da pandemia, pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

A proibição foi mantida mesmo após o afastamento, por determinação médica, de funcionários suspeitos de estarem com a covid-19. Colegas que tiveram contato direto com as pessoas doentes não foram afastados e tampouco receberam autorização para usar máscaras e luvas, o que contraria todas as normas em vigor.

O Sindicato Nacional dos Aeroviários (SNA) confirma a proibição imposta pela empresa e também as ameaças de punição. “Tivemos várias notificações de trabalhadores que estavam sendo punidos por usar luvas e máscaras nos aeroportos”, relata Patrícia Gomes, coordenadora da regional Sul do SNA. “Nós enviamos um ofício solicitando providências à empresa, nas áreas de saúde e segurança, mas nada foi feito.”

O envio do ofício foi confirmado pelo advogado do sindicato, Álvaro Quintão. “Algumas empresas não estão nem um pouco preocupadas com a saúde e com a vida dos seus empregados. Estão ignorando. O sindicato encaminhou, há mais de um mês, pedido de equipamento de proteção”, acrescenta.

Segundo Quintão, ocorre “descaso com a vida dos empregados”. Ele diz que apenas recentemente começaram a oferecer os equipamentos, mas ainda de forma precária e não para todos os funcionários.

Passageiros em risco

A falta de equipamentos de proteção ocorre também em outras companhias aéreas. As ameaças de punição, contudo, foram registradas na Gol. “As pessoas estavam sendo punidas por tentarem proteger a si mesmas, aos colegas de trabalho e aos passageiros”, relata Patrícia Gomes.

A Gol foi procurada. Enviou uma nota na qual nega o problema: “a Companhia vem acompanhando de perto a distribuição adequada de luvas e máscaras. Importante informar que no dia 20 de março, como resultado do nosso esforço diário, novos lotes dos itens foram disponibilizados à tripulação”. A informação não é confirmada pelo sindicato. “Nosso ofício foi enviado depois do dia 20, precisamente no dia 24, solicitando urgência e considerando a imperiosa necessidade de se evitar a contaminação em larga escala”, relata Patrícia.

Trabalhadores em pânico

Os áudios dos trabalhadores relatam preocupação e medo. Em um deles, uma funcionária de terra conversa com outra funcionária e relata até mesmo a falta de álcool em gel nos locais de trabalho e de contato com passageiros:

“Cara, eu liguei pro Pará agora. Ele falou que o pessoal de São Paulo, a Priscila falou que não pode usar máscara. Cara, isso é um absurdo. A gente não está pedindo para a empresa comprar. A gente tá querendo comprar. E aqui a gente está com falta de álcool em gel. Hoje eu fui à farmácia comprar álcool em gel e não tinha. Comprei um pacote de luvas. Ai o Pará veio falar que não pode”.

Em outro áudio, também entre duas trabalhadoras, uma delas diz o seguinte:

“Eu vou ver se converso com a gerente, entendeu? Porque é um negócio muito sem lógica. Punir o funcionário por isso. Não existe. Se eles fizerem realmente isso, o Brasil não está levando a sério o que está acontecendo. Isso dai vai piorar. A gente não tem estrutura nenhuma para conseguir, caso alguém fique doente, a gente não tem, vive em um país sem estrutura nenhuma pra isso”.

Em um terceiro áudio, um funcionário da Gol comenta a contaminação de um colega pelo novo coronavírus.

“Aqui em Salvador, funcionário está de coronavírus. A gente aqui já tem o atestado dele confirmado. Desde o dia 24 que ele está afastado, que ele foi para a emergência e fez o exame e a Gol não informou aos funcionários… São medidas preventivas. Se ele ficou em casa tínhamos que estar tomando medidas preventivas aqui em Salvador…”

A Gol nega as denúncias. “Reafirmamos que todas as medidas tomadas por nós colocam em primeiro lugar a segurança e o bem-estar dos nossos Clientes e Colaboradores”, diz em nota enviada ao Brasil de Fato.

Coação

Além dos problemas ligados à saúde e segurança dos trabalhadores, outra denúncia contra Gol diz respeito ao que o sindicato chama de “coação” para que os trabalhadores assinem uma Licença Não Remunerada (LNRv), por conta da diminuição no número de voos, causados pela quarentena.

A medida, segundo o advogado do SNA, está sendo tomada de forma arbitrária e sem consultar o sindicato. “A Gol é onde mais acontece os relatos de coação para que aceitem os acordos individuais”, diz o advogado Álvaro Quintão. “O que seria um acordo individual está virando uma imposição das empresas. E isso está acontecendo muito”.

A Gol nega a coação, diz que preza pelo diálogo e que está propondo a LNRv por conta da crise imposta pela pandemia.



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