foto: Christo Anestev por Pixabay)
Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do ABC e da Universidade de Bristol construiu um software que simula diferentes cenários de evolução da transmissão comunitária do Coronavírus (Covid-19).
Sob determinadas condições de confinamento, de reintrodução do vírus no ambiente, imunidade ou mutação das cepas do patógeno, as análises apontam que o novo Coronavírus pode perpetuar-se, provocando surtos de epidemia recorrentes por tempo indeterminado. Isso submeteria a população a novos períodos de confinamento e a impactos econômicos ainda mais profundos até a criação e popularização de vacinas e outros tratamentos.
Segundo a constatação dos acadêmicos, a saída da quarentena e do isolamento representa um fator decisivo, pois caso isso ocorra de forma antecipada pode reiniciar um processo agudo de contaminação.
José Paulo Guedes, um dos autores do trabalho, economista e professor da UFABC conta que todos os casos simulados reforçam a eficácia da estratégia de confinamento máximo, extremo, como a melhor forma de achatar a curva de dispersão do vírus. “A eficácia mais garantida depende de uma alta porcentagem de isolamento de aproximadamente 90% das pessoas durante os surtos de contaminação”, aponta o pesquisador.
Segundo ele, como um agente contaminado é reintroduzido a cada três meses no ambiente, mesmo que tenhamos alta imunidade ao vírus, um comportamento cíclico de contágio só cessaria caso fosse estabelecido o isolamento nesse nível durante os surtos. O draft do artigo acadêmico avaliou diferentes cenários, em que o mais pessimista considera a inexistência de confinamento e isolamento: nessa condição, enfrentaríamos uma recorrência de surtos de contaminação social (crescimentos seguidos de baixas) em curtos períodos de tempo e a convivência com o Coronavírus por tempo indeterminado. “Além do fator social evidente, podemos dizer que a previsão atual de quedas drásticas nos PIBs dos países desenvolvidos, algo que pode chegar até -18%, será ainda pior em um cenário cíclico”, comenta Guedes.
A ferramenta funciona on-line e pode ser abastecida livremente por usuários para simulações, usando parâmetros como densidade populacional, imunidade, capacidade e janela de transmissão, dentre outros. A aplicação adaptou um modelo desenvolvido em 1998 que simula a disseminação do vírus da gripe, agora reprogramado com as condições conhecidas do novo “supervírus”.
Os pesquisadores desenvolveram a plataforma de maneira independente e buscam financiamento de agências de fomento para ampliar as variáveis e envolver especialistas de outras áreas. O software é aberto para uso público com objetivo de servir tanto para fins educacionais e de pesquisa, como para, de forma cautelosa, tomada de decisões.
Junto com José Paulo Guedes, assinam a pesquisa e o código do simulador Patrícia Camargo Magalhães (física, pós-doutoranda na Universidade de Bristol) e Carlos da Silva dos Santos (cientista da computação e professor da UFABC).
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