foto: SNA
Quase que por unanimidade, os trabalhadores e as trabalhadoras
aeroviários da Latam Airlines aprovaram nesta sexta-feira
(27) um Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) de Licença Não
Remunerada de até 15 dias por mês entre os dias 1º de abril e 30 de
junho, podendo ser prorrogada até o fim de setembro e antecipada
sem necessidade de autorização do sindicato ou da categoria.
O acordo é uma das formas que a empresa e os
trabalhadores encontraram para enfrentar as consequências
da pandemia do novo coronavírus (Covid-19) que vem provocando
milhares de desmarcações de passagens por causa do isolamento
recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para conter a
disseminação do vírus. De acordo com a proposta aprovada, os
trabalhadores e as trabalhadoras terão que trabalhar pelo menos 15
dias por mês, escolhidos pela Latam, conforme a quantidade de voos
da semana, receberão o pagamento apenas do salário base, com
descontos de acordo com faixa salarial e dias de trabalho. Todos
terão benefícios garantidos. Entre eles, vales alimentação e
refeição e plano de saúde, além de terem estabilidade durante o
período do acordo.
“Como a Latam nos procurou para negociar a gente conseguiu melhorar
bastante a proposta inicial e chegamos nesta, que estamos afirmando
que foi o melhor acordo até agora”, afirmou a secretária de
Finanças do Sindicato Nacional dos aeroviários (SNA) e da Federação
Nacional dos trabalhadores da Aviação Civil (Fentac), Selma
Balbino.
Segundo a dirigente, as assembleias aconteceram presencialmente nos
22 estados em que o sindicato representa, e foram bem
representativas. Ela também destaca que, como reconhecimento do
trabalho da entidade, auxiliares de serviços gerais e de manutenção
de aeronaves, agentes de proteção, operadores de equipamentos e
mecânicos de aeronaves assinaram fichas para se sindicalizarem ao
SNA.
“Nós optamos por ser presencial para sentirmos o clima, dar o ombro
para nossos trabalhadores e ajudá-los na questão emocional, que
está bem abalada, como uma entidade de classe e cidadã deve fazer.
E a reação dos trabalhadores tem sido de reconhecimento e isso nos
mostra que estamos indo no caminho certo”, ressaltou Selma.
Gol e Azul
A Gol e a Azul em nenhum momento procuraram o sindicato para
negociar acordo trabalhista para este período de pandemia do novo
coronavírus, apenas enviaram informações sobre as medidas que
seriam tomadas.
Ainda assim, a direção sindical questionou a possibilidade de
licença sem nenhum auxílio e conseguiu garantir alguns direitos,
como plano de saúde e vale refeição.
De acordo com Selma, depois que viu as assembleias da Latam sendo
realizadas, a Gol caiu em si sobre uma possível judicilização da
proposta e procurou o sindicato para tentar um acordo.
“A proposta enviada pela Gol está sendo avaliada pelo jurídico do
sindicato e depois iremos levar à assembleia para os trabalhadores
e as trabalhadoras decidirem”, explicou a dirigente.
A azul até agora não apresentou nenhuma proposta de negociação e,
entre as companhias aeras internacionais, só a Air Europa
apresentou uma proposta, que também está sendo analisada pelo
jurídico.
“A direção do sindicato tem contornado algumas situações nestas
propostas, olhando com cuidado e tirando todas as pegadinhas que as
empresas estão usando pra mexer na convenção coletiva e o sindicato
não estava deixando barato. Além disso, a gente está fazendo todos
os esforços para aumentar a assistência da empresa ao trabalhador”,
explica Selma.
Equipamento de Proteção Individual (EPI)
Outra tema importante que vem sendo tratado pelo sindicato é o uso
de equipamento de segurança, EPI. Desde que começaram os primeiros
casos de coronavírus no país, o SNA tem cobrado das empresas a
disponibilidade de equipamentos para proteger os trabalhadores,
trabalhadoras, seus familiares e até os passageiros.
Após muita insistência do sindicato e até ameaças de que levaria
esta denúncia para a imprensa, a Gol divulgou comunicado interno em
que autoriza o uso de máscaras e luvas nos aeroportos durante
atendimento realizado pelos funcionários, se assim desejarem.
Patrícia Gomes, diretora do SNA responsável pela coordenação da
Região Sul, conta que o comunicado da Gol é mais uma vitória da
direção sindical, que emprega todos os esforços na manutenção da
saúde da categoria.
“Em tempos de grande comoção, em que todos estamos sensibilizados
com a situação atual, o emocional dos aeroviários e aeroviárias
deve ser preservado ao máximo. Sabemos que a máscara não garante
100% de proteção, mas fazemos o possível para diminuir nossa
exposição”, declara Patrícia Gomes.
Selma pontua que o uso dos EPI é de muita importância já que 80% da
categoria fica na pista, carregando bagagens manipuladas por
pessoas que podem estar contaminadas, puxando e cuidando da limpeza
do avião.
“São trabalhadores e trabalhadoras que têm acesso direto a
passageiros e passageiras. E vale lembrar que foram a partir dos
aeroportos que os primeiros casos da doença surgiram”, ressaltou
Selma.
“Inclusive recebemos hoje a informação de que um trabalhador que
limpa avião foi testado positivo ao novo coronavírus”, afirma.
Dirigentes sindicais também orientam que esses EPIs, incluindo
álcool em gel, sejam distribuídos à categoria pelos empregadores,
já que não cabe aos funcionários arcar com o custo do material
utilizado durante o horário de trabalho.
Terceirizados
Todos os dias o SNA tem recebido denúncia de que empresas
prestadoras de serviços coagem funcionários a assinarem Acordo
Coletivo de Trabalho de licença não remunerada de 45 dias, podendo
ser estendido para mais 45 dias, conforme desenvolvimento da
pandemia do COVID-19, sem receber qualquer tipo de auxílio.
“As empresas terceirizados são as que têm de pior porque querem que
as pessoas assinem afastamento sem verba nenhuma, dando vale
alimentação nos valores que variam entre R$400 e $600 reais e se
precisarem de remédios vão comprar como?”, questiona Selma.
A direção do Sindicato orienta profissionais a não assinarem este
acordo, considerado desumano pelos representantes da categoria.
Para Selma, as terceirizadas demonstram total falta de
sensibilidade quando não oferecem nenhum tipo de auxílio aos
funcionários que serão temporariamente dispensados de suas
atividades laborais.
“Vamos tomar todas as medidas cabíveis junto ao MPT (Ministério
Público do Trabalho) e a Secretaria de Relações do Trabalho para
denunciar empresas terceirizadas que insistem em uma licença não
remunerada sem qualquer tipo de auxílio”, declara Selma.
O setor jurídico do SNA já foi acionado para tomar as devidas
medidas nas bases de representação desta entidade. “Fora as
demissões”, destaca Selma.
“As empresas terceiras estão demitindo em massa, só no Rio de
Janeiro 103 auxiliares foram mandadas embora e em Brasília mais 145
demissões de trabalhadores e trabalhadoras com cinco ou seis meses
de casa”, denuncia a dirigente.
FGTS
A direção do sindicato também está articulando com o Congresso
Nacional para que seja liberado parte do FGTS, principalmente para
quem vai ficar de licença sem remuneração.
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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