Greve Colômbia
“Eu marcho porque esse governo não vai embora”. O recado ao presidente conservador Iván Duque se alastrou pela Colômbia nesta quinta-feira (21), em manifestações que movimentaram as diversas regiões do país em uma vigorosa greve geral.
Multidões foram às ruas em protesto contra a ameaça de reformas trabalhista e previdenciária planejada pelo governo Duque. As manifestações reúnem estudantes, trabalhadores, indígenas, organizações de mulheres, artistas e intelectuais.
No Centro da capital, Bogotá, manifestantes carregaram uma faixa de mais de 100 metros com os nomes de 537 lideranças populares assassinadas nos últimos anos.
Houve concentrações, marchas e protestos por toda a Colômbia. Além da capital, houve grandes manifestações nas grandes cidades de Medelín, Cáli e Barranquilla, e em localidades menores, como a cidade colonial de Popayán, a distante Quibdó, nas franjas do isolado Darién, e na região de La Guajira, próxima ao Mar do Caribe.
Pacotaço
Os manifestantes protestam contra as reformas do chamado “pacotaço
de Duque”. Entre as medidas acalentadas pelo governo conservador
estão a criação de um “salário mínimo para a juventude” equivalente
a 75% do mínimo nacional e a eliminação da previdência pública.
Também estimula os protestos o plano de privatizações cogitado por Duque, que englobaria a Ecopetrol, estatal que é a maior empresa petrolífera da Colômbia.
Com a convocação da greve geral, o presidente Duque se apressou em negar os projetos, que vinham sendo claramente debatidos por autoridades colombianas, como o ex-presidente e senador Álvaro Uribe, líder e principal referência do partido do governo, o Centro Democrático.
“Ouça o povo”
Os principais registros de repressão policial à greve geral vêm de
Bogotá, onde o ESMAD (sigla em espanhol para Esquadrão Móvel
Antidistúrbios, unidade de choque da Polícia Nacional) atacou
manifestantes no Centro da Capital, e em Cáli, onde foi decretado
toque de recolher.
A prefeita eleita de Bogotá, Claudia López, participou das mobilizações e cobrou do governo Duque o respeito ao direito de manifestação e que ouça o povo nas ruas. “A população quer ser ouvida sobre educação, emprego e saúde”, afirmou López, citada pelo site noticioso Semana.
López, que será a primeira mulher a governar Bogotá, foi eleita no último mês de outubro, quando uma onda oposicionista impôs uma dura derrota à direita colombiana na disputa para as prefeituras. Além de Bogotá, Cali e Medelín, entre as grandes cidades, serão governadas por adversários de Iván Duque.
Novo Chile?
A professora de Ciência Política da Universidade de Los Andes
(Bogotá) Sandra Borda explica que os setores envolvidos na Greve
Geral são muito diversos e expressam variadas posições políticas.
“Eles têm razões diferentes, mas estão todos dispostos a
protestar”, afirmou Borda à rede britânica BBC.
“Essa não é apenas uma marcha de sindicatos e setores de esquerda”, aponta a professora. Para quem a greve parte de demandas específicas e tende a convergir para um “movimento antigoverno” com características semelhantes aos protestos em curso no Chile.
Intimidação e ataques
Os dias que antecederam a greve geral na Colômbia foram marcados
pela presença massiva de forças policiais nas ruas das principais
cidades. Houve invasões a sindicatos, intimidações a artistas e a
um jornal alternativo. Essas violações foram justificadas pelo
governo como “invasões preventivas” em supostas buscas por
“material terrorista”.
Só em Bogotá foram realizadas 15 operações desse tipo, como admitiu a própria Polícia Metropolitana da capital colombiana em uma postagem em sua conta no Twitter. A instituição também ficou a cargo de outras 12 “invasões preventivas” na municipalidade de Soacha, na Grande Bogotá, totalizando 27 operações.
Fronteiras fechadas
As fronteiras terrestres e fluviais da Colômbia estão fechadas
desde a meia-noite desta quinta-feira (21) e só deverão reabrir às
cinco horas da manhã de amanhã.
Um decreto presidencial autoriza a governadores de províncias e prefeitos a decretarem toque de recolher em suas jurisdições.
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