sede da OIT em Genebra
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) cobrou novas
explicações do governo brasileiro sobre a reforma trabalhista,
depois das críticas e acusações de "jogo político" feitas na última
terça-feira pelo ministro do Trabalho, Helton Yomura, na 107ª
Conferência Internacional do Trabalho, em Genebra. A organização
incluiu o Brasil na lista de países suspeitos de descumprir normas
internacionais de proteção aos trabalhadores e começou a analisar o
caso brasileiro esta semana. A decisão de exigir mais explicações
foi anunciada, nesta quinta-feira (7), pela Comissão de Normas da
OIT.
O governo terá que responder antes de novembro deste ano, quando
acontece a próxima reunião do Comitê de Peritos da OIT. Segundo a
decisão, o Brasil precisa dar mais informações sobre a Reforma
Trabalhista, principalmente em relação ao respeito aos princípios
da negociação coletiva entre empregadores e empregados. No início
do ano, o Comitê do Peritos da OIT expressou o entendimento de que
a reforma trabalhista violava a Convenção nº 98 da OIT, sobre
direito de sindicalização e de negociação coletiva, ratificada pelo
Brasil. A reforma trabalhista estabelece a possibilidade do
negociado prevalecer sobre o legislado, inclusive para redução de
direitos. Prevê também a livre negociação entre empregador e
empregado com diploma de nível superior e que receba salário igual
ou superior a duas vezes o teto do Regime Geral de Previdência
Social (RGPS).
Além disso, a OIT também cobra explicações sobre a falta de
consulta aos interlocutores sociais, durante a tramitação da
reforma.
A falta de diálogo social, a aprovação açodada da reforma e a
violação à Convenção n. 98 da OIT foram alguns dos pontos alertados
pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) durante todo o processo
de tramitação da reforma trabalhista no Congresso e após sua
promulgação. Além de participar de audiências públicas, o MPT
divulgou oito notas técnicas onde listou inconstitucionalidades e
afrontas a normas internacionais ratificadas pelo país da reforma,
todas publicadas e entregues aos representantes dos Poderes
Executivo e Legislativo brasileiros.
O Procurador-Geral do Ministério Público do Trabalho, Ronaldo
Fleury, que participa da Conferência Internacional do Trabalho em
Genebra, destaca os alertas feitos pela instituição para evitar que
a reforma fosse aprovada e entrasse em vigor. "O MPT, sempre que
chamado, alertou o Congresso Nacional e o governo acerca das
previsões constantes na Convenção nº 98, da OIT, ratificada pelo
Brasil, esclarecendo que não houve o necessário prévio diálogo
social e que o negociado sobre o legislado ofende a Convenção.
Lamento a exposição internacional do Brasil, que poderia ter sido
evitada se as nossas ponderações fossem consideradas".
O procurador do Trabalho e assessor internacional do MPT, Thiago
Gurjão, que também acompanha os trabalhos na Conferência, ressaltou
que as conclusões da Comissão de Normas são fruto de negociações
das quais participam representantes de trabalhadores e
empregadores. "As conclusões adotadas mantêm a reforma trabalhista
sob o monitoramento das instâncias próprias da OIT, o que
lamentamos,pois o respeito a direitos fundamentais no mundo do
trabalho e às convenções ratificadas pelo país deveriam ser o
patamar mínimo a partir do qual se desenvolve a legislação
nacional", disse. Ainda segundo o procurador, o governo deve
observar as diretrizes técnicas da OIT e adequar sua legislação. "A
nenhum país é dado o direito de editar leis em contrariedade com
convenções internacionais por ele ratificadas. É uma postura que só
gera insegurança jurídica e abalo à própria imagem".
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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