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O anúncio do Produto Interno Bruto (PIB), hoje (1º), fez o presidente Michel Temer gravar um vídeo anunciando que o país "venceu a recessão". Para o economista João Sicsú, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a recuperação é ainda algo distante. "O Brasil vive uma depressão e está longe de sair", afirmou Sicsú, para quem o crescimento de 1% do quarto trimestre de 2016 para o primeiro deste ano "não tem a mínima relação com qualquer iniciativa do governo", algo que também foi apontado pelo professor Marcio Pochmann.
O resultado trimestral "foi puxado pela demanda externa, que nenhum governo é capaz de controlar", observa o professor da UFRJ. Ele lembra que os setores que registraram alta, como agropecuária, transporte e armazenagem, são ligados à atividade externa. No mercado interno, pelo contrário, o consumo das famílias e os investimentos caem.
"Na verdade, existe uma longa trajetória de queda. Cada trimestre que passa, cai mais ainda", afirma Sicsú. Segundo ele, desde o último trimestre de 2014 o consumo caiu aproximadamente 10% e os investimentos, 24%. "Não existe nenhuma trajetória de recuperação consistente. Não existe nenhuma indicação de recuperação."
O professor observa que o resultado do trimestre é característico de economias que estão em depressão, com alguns pequenos "saltos", seguidos de quedas. Ele aponta indicadores que já permitiam esperar o comportamento deste início de ano, como o crescimento das vendas de papelão ondulado e do consumo de energia. Por outro lado, caíram o consumo de óleo diesel e o emplacamento de veículos. Dados contraditórios que, segundo o economista, "mostram a inconsistência de um suspiro".
"A economia suspirou apesar do governo e não por causa deste governo", define Sicsú. "Aliás, o governo se manteve até agora paralisado, distante, do problema macroeconômico do país", acrescenta, também refutando a tese de Temer de que é preciso implementar as reformas para crescer, vendo uma "questão ideológica" no discurso. "Nenhum empresário vai investir, ou não, se fez a reforma da Previdência, se fez a reforma trabalhista. Investe se tem perspectiva de lucro." De 2007 a 2010, acrescenta, o país cresceu sem reformas.
O economista considera um equívoco atribuir aquele crescimento à expansão do consumo. Refere-se ao período como "a era do investimento", tanto público como privado. "Cresceram muito mais do que o consumo", afirma.
Ele contesta outro argumento governista, de que a inflação em queda faz aumentar o consumo das famílias. "De fato aumenta. Mas para esse raciocínio ser completo, as famílias deveriam consumir mais. Mas estão consumindo cada vez menos", argumenta, apontando o elevado desemprego como causa: parte da população está sem renda e outra parte, receosa de perder seu posto de trabalho, economiza.
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