RICARDO STUCKERT / INSTITUTO LULA
Leia a seguir no Portal CNTTL, o artigo do sociólogo e cientista político, Emir Sader
Depois da multiplicação espetacular de governos progressistas no continente, entre 1998 e 2006, marcando toda a primeira década do século 21 com o sucesso dos seus desempenhos, especialmente no plano social e da soberania externa, a América Latina passou a viver uma virada conservadora desde 2015. Esta se expressou na derrota parlamentar na Venezuela, na presidencial na Argentina, no referendo na Bolívia, no golpe brasileiro.
Esta virada encontrou obstáculos muito rapidamente, seja no fracasso das tentativas de recuperação econômica na Argentina e no Brasil, com a aplicação a qualquer custo do velho programa de ajustes fiscais, seja com um contexto internacional que não correspondeu às expectativas dos projetos de restauração neoliberal. Como acontece em todas as partes em que esse programa econômico é aplicado, se aprofunda a recessão e nunca se recupera a capacidade de retomada do crescimento econômico.
No plano internacional, a direita latino-americana aguardava o triunfo de Hillary Clinton, que vinha colher os resultados dos seus projetos de golpes brancos em países do continente, assim como do apoio a governos de restauração neoliberal. Sua derrota e o triunfo de Donald Trump deixaram atônitos governos como os de Mauricio Macri e de Michel Temer, que trabalharam para enfraquecer os processos de integração latino-americana e fortalecer a Aliança para o Pacífico. O protecionismo de Trump a retirada dos EUA da Aliança para o Pacífico deveriam apontar na direção oposta, o que contradiz a política externa desses dois governos, assim como sua ideologia de livre comércio.
Esses dois fatores apontam para um possível novo cenário latino-americano em 2018. Por um lado, no Brasil, se reforça a possibilidade de que Lula volte a ser o presidente do país nas eleições presidenciais do próximo ano. Enquanto que, as portas fechadas com que a política de Trump atua em relação ao México, possibilita que nas eleições presidenciais de 2018 triunfe um candidato que promova uma virada radical na política externa do país na direção do sul do continente, como única forma de reagir frente à ofensiva norte-americana. Por outro lado, a Argentina terá eleições presidenciais logo em seguida, em 2019, em que as dificuldades do governo Macri e os próprios eventuais resultados das eleições presidenciais em países como o Brasil e o México, podem favorecer a que os três maiores países do continente cheguem a coordenar, pela primeira vez, na direção da soberania, suas políticas externas.
A isso se podem somar as evoluções internas no Equador e na Bolívia, o primeiro na dependência do segundo turno, que apontam, em principio, para a continuidade dos governos da Aliança Para o Pacífico. O segundo, com a decisão de Evo Morales e seu partido, o Movimento ao Socialismo (MAS), de que o presidente boliviano volte a se candidatar em 2019 e seu favoritismo para se reeleger. A esse quadro se agregam as eleições no Paraguai com a possibilidade de que Fernando Lugo volte à presidência do pais, assim como no Uruguai, no Chile e na Colômbia. Todos esses processos se verão afetados por esse novo marco geral: o fracasso da restauração econômica neoliberal e o protecionismo norte-americano. Pode se chegar a reconstituir assim, em boa medida, o marco geral de governos progressistas na região, esta vez, caso se confirmem as previsões apontadas, com a integração do México.
Entre seus corolários, estariam os efeitos para os países centro-americanos, hoje abandonados pelo México e pelos próprios EUA. O outro aspecto, de extrema importância, seria a possibilidade de uma integração mais ampla e profunda da América Latina com os Brics, o horizonte de um mundo multipolar que começa a despontar. É a vida que resta para a América Latina diante do protecionismo norte-americano, o fracasso da Aliança para o Pacífico e o esgotamento da globalização neoliberal.
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