Roberto Parizotti
Dirigentes da CUT ministraram uma aula pública sobre as reformas da Previdência e trabalhista na ocupação do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), na Avenida Paulista, na última sexta (24). O acampamento luta por mais recursos para a habitação popular segue firme há cerca de 15 dias.
Durante a aula, o presidente Nacional da CUT, Vagner Freitas,
falou sobre o desmonte dos direitos sociais que tem sido vendido
sob o verniz de modernização, mas que representa um grave ataque à
democracia e a quem mais precisa de políticas públicas.
Vagner, que fez também uma doação de colchonetes para os acampados,
apontou que organizações como a Central e o MTST têm obrigação de
não deixar a elite passar por cima da classe trabalhadora.
“Nem a ditadura de 1964 teve coragem de fazer o que esse impostor
do Michel Temer está fazendo. Querem sociedade para homem branco e
de elite e acabar com política pública de saúde, educação,
transporte, segurança. O mesmo vale para a Previdência, para os
banqueiros, financiadores do golpe, possam ganhar dinheiro com
Previdência privada”, apontou.
Segundo Vagner, a CUT priorizará o diálogo nos municípios, onde a
vida acontece e que serão os maiores prejudicados com a recessão
imposta pelos cortes nas aposentadorias. Ele destacou, porém, que o
movimento sindical, sozinho, não conseguirá reverter o
retrocesso.
“Tem que conversar nas escolas, com a família, nas igrejas porque
essa mídia sem vergonha não mostra o que está acontecendo. Vamos às
cidades, bairros, aeroportos, padarias, lugares onde os
parlamentares frequentam para cobrar quem quer votar a favor da
reforma da Previdência. Só que sindicalista não faz isso sozinho,
precisada ajuda do poder popular, o poder que vem de todos vocês, o
poder das ruas”, disse.
No contato com o povo, ressaltou, a prioridade deve ser escancarar
os traços de crueldade da reforma. A definição da regra de 65 anos
para homens e mulheres como critério obrigatório para a
aposentadoria vai impedir a muito o acesso a esse direito.
“Não se vive até essa idade num país onde se passa fome, tem baixo
acesso à saúde, educação. E não precisa ir longe, 80% da população
de São Paulo morre antes dos 65 anos. Além disso, precisa
contribuir por 49 anos sem parar e ninguém fica empregado direto
durante esse tempo.”
De acordo com Vagner, o momento é de levar a reflexão especialmente
aos mais atingidos. “Só um jeito de impedir que isso avance: o povo
na rua. O 8 de março é dia de mostrar como o ataque à Previdência
afeta principalmente as mulheres quem têm de trabalhar fora e em
casa, cuidando dos filhos e da família. E no dia 15 é vamos
promover o Dia Nacional de Paralisação contra a reforma proposta
pelo Temer.”
Rolo compressor avança
O presidente da CUT-SP, Douglas Izzo, apontou que a reforma da
Previdência é um novo passo num plano que já têm prejuízos em vigor
para a classe trabalhadora.
“A proposta de reforma é resultado direto da aprovação da PEC 55
(proposta de emenda à Constituição), que congela investimentos
públicos pelos próximos 20 anos. A população nos próximos 20 anos
vai crescer, mas os recursos não vão aumentar. Isso vai colocar o
Brasil num colapso. Não vai ter recurso para saúde educação e há um
estudo que aponta que se já estivesse em vigor, já teríamos 40% a
menos de investimento em saúde e 50% em educação. Essa foi a
primeira fase, a próxima é a retirada de direitos trabalhistas”,
disse.
A aula pública da CUT foi uma das inúmeras que o acampamento
recebeu. O ex-ministro Renato Janine Ribeiro, o rapper Emicida e a
cartunista Laerte Coutinho já passaram pelo coração financeiro de
São Paulo e, segundo o coordenador do MTST, Guilherme Boulos, o
objetivo é promover a formação em paralelo à luta.
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