SP: Por Justiça, metroviários e ativistas fazem ato em memória de Luiz Carlos Ruas

Trabalhador foi brutalmente assassinado na estação Pedro II. Má gestão de Alckmin tem precarizado o Metrô

Por: Redação CNTTL com RBA
Publicação: 28/12/2016
Imagem de SP: Por Justiça, metroviários e ativistas fazem ato em memória de Luiz Carlos Ruas

Foto: Agência Brasil

Metroviários, ativistas e religiosos da Pastoral do Povo da Rua realizaram um ato na terça (27) um ato em memória de Luiz Carlos Ruas, trabalhador ambulante covardemente assassinado na estação Pedro II, da Linha 3-Vermelha do Metrô paulista por dois agressores na noite do domingo de Natal (25). 

Durante o ato, que realizado na estação onde ocorreu o crime, foram acesas velas e estendidas bandeiras contra a homofobia. Trabalhadores e ativistas exigiram ações das autoridades para impedir que casos como esse se repitam.

Em entrevista a Rede Brasil Atual, o dirigente do Sindicato Marcos Freire e ativista LGBT afirmou que no momento havia três funcionários na estação, sendo um na bilheteria, outro na catraca e outro no CCO (Centro de Controle Operacional). " Se olhar a escala vai ver que tem dois seguranças em cada estação, mas, na verdade, é a mesma dupla atuando em três estações diferentes", revela Freire.

Segundo o sindicalista, situações de violência vêm se repetindo no Metrô, sendo cada vez menos combatidas, devido ao número insuficiente de trabalhadores no sistema. Segundo dados do Portal da Transparência do governo Geraldo Alckmin (PSDB), responsável pela gestão do Metrô, a companhia tem déficit de aproximadamente 600 funcionários. Outros 632 aderiram ao Programa de Demissão Voluntária lançado esse ano e devem ser desligados em breve.

"Fazemos um apelo para que nos ajudem a denunciar essa situação e exigir do governo Alckmin que contrate trabalhadores para o Metrô. Não é possível ficar desse jeito", disse Freire. Ainda segundo o sindicato, durante a noite, o Metrô tem 68 seguranças para atuar em 63 estações. No entanto, como a atuação dever ser, no mínimo, em dupla, seria possível atuar apenas em 34 estações simultaneamente, necessitando que os agentes transitem entre os pontos de parada. Além disso, estações maiores exigem mais funcionários.

Entenda o caso

Ruas foi brutalmente agredido após tentar defender uma travesti, identificada apenas como Brasil, que estava sendo perseguida por dois homens, após reclamar por eles estarem urinando na rua. Uma outra travesti, que também foi agredida, conseguiu escapar. O ambulante foi espancado até a morte no hall da estação Pedro II, em frente à bilheteria. No vídeo de quase dois minutos divulgado pela polícia, nenhum segurança do Metrô aparece para conter os assassinos.

A polícia já identificou os dois homens filmados agredindo Ruas. Seus nomes são Alípio Rogério Belo dos Santos e Ricardo Nascimento Martins. O velório e o sepultamento do ambulante serão no cemitério Vale da Paz, em Diadema.

Nota de repúdio

O Sindicato dos Metroviários de São Paulo também emitiu uma nota de repúdio contra o crime de ódio cometido contra Ruas e a precarização do metrô protagonizada pelo governo Alckimin. Confira  seguir:

NOTA DO SINDICATO DOS METROVIÁRIOS SOBRE CRIME DE ÓDIO OCORRIDO NA ESTAÇÃO PEDRO II

O Sindicato dos Metroviários de SP manifesta seu total repúdio e indignação contra o assassinato do Sr. Luiz Carlos Ruas, camelô há 20 anos nos arredores da estação Pedro II, vítima de crime de ódio com motivação lgbtfóbica. Luiz Carlos foi vítima na noite deste Domingo (25/12), de mais um crime torpe. O Sr. Carlos ao se deparar com dois agressores a um homem gay, que posteriormente juntou-se a sua outra amiga travesti, dirigiu-se aos agressores dizendo que não havia motivo para tal violência. Os agressores, então, passaram a direcionar os ataques com socos e pontapés no próprio ambulante. Esse correu para dentro da estação Pedro II na tentativa de um socorro, mas infelizmente não conseguiu escapar do ódio dos agressores e faleceu no local. *Os assassinos evadiram-se da estação e estão foragidos.*

No Brasil um LGBT é assassinado a cada 28h, segundo estatísticas e, infelizmente, nos espaços físicos do metrô, seja nos trens, estações ou seus arredores, acontecem atos de violações aos direitos humanos como racismo, agressões e assédio sexual às mulheres e lgbtfobia, aqui chegando aos crimes de ódio como esse ocorrido na estação Pedro II.

*Os Metroviários se solidarizam e se juntam aos familiares de Luiz Carlos, assim como a toda comunidade e militância LGBT, contra esta e todas as violações aos Direitos Humanos, agressões e mortes que tem vitimado milhares de Brasileiros simplesmente por serem o que são na sua orientação sexual e identidade de gênero.*

Sabemos que os crimes de ódio e os crimes com requintes de crueldade atingem principalmente a comunidade LGBT, negros e mulheres. Sabemos também que infelizmente, esses crimes têm crescido por conta de setores da sociedade que a todo tempo destilam seus discursos de ódio e intolerância nas redes sociais, nos meios de comunicação e em setores importantes da sociedade brasileira que não consegue enxergar na maioria das vezes tais falas preconceituosas, que incentivam assassinatos como esse ocorrido em um espaço público, como são as estações do Metrô. O Sindicato dos Metroviários também se manifesta e esclarece que no momento da ocorrência _não havia nenhum_ segurança do Metrô no local. E não havia por um simples motivo: *Não há funcionários nas estações e no corpo de segurança para atender as ocorrências, não há quadro funcional suficiente para cobrir todas as estações em todos os turnos de trabalho em todas as 20h em que o Metrô permanece aberto nos 365 dias do ano.* _Responsabilizamos o governo Alckmin e a direção da empresa por esse trágico episódio._ Este Sindicato há muito vem solicitando ao governo do estado que haja mais contratações de funcionários, para que possam atuar nas centenas de ocorrências com os usuários que utilizam o transporte Metroviário todos os dias. E neste sentido conclamamos a sociedade paulistana para que se engaje nesta importante solicitação, pois os usuários e metroviários correm risco de morte e têm o serviço negligenciado pelo governo do estado com a drástica redução do quadro de funcionários. Não se trata de corporativismo, estamos lutando por um serviço de qualidade para os nossos usuários, para que crimes como esses possam ser evitados nas portas de nossas estações e trens, que o usuário possa novamente ser transportado com segurança numa cidade cada vez mais caótica do ponto de vista da segurança pública.

*Enquanto saem matérias na grande mídia, mostrando déficit de funcionários, enquanto pesquisas apontam que os usuários do Metrô pedem mais funcionários, mais investimentos, Alckmin com sua pressa para privatizar o Metrô, deixa de investir, precariza, e ao invés de contratar pretende demitir mais de 600 metroviários através de PDV, tudo para justificar a privatização*. E quem sofre com isso, principalmente, são os usuários que cotidianamente se deparam com situações dramáticas, caóticas, chegando a esse ponto de brutalidade dentro de uma estação do Metrô, que também coloca em risco os funcionários devido às condições de trabalho e pouco quadro.

Para finalizar, reafirmamos nosso empenho em lutarmos por um transporte cada vez mais rápido, seguro e confiável, lema que este sindicato espera não seja a marca de um passado longínquo.

Oferecemos nossos sentimentos e nosso apoio aos familiares da vítima e apresentamos aqui nosso repúdio a essa atitude brutal dos assassinos e a essa atitude omissa do Governo Alckmin e da Cia do Metrô também, pois no Decreto 61.466 de setembro de 2015, que proibe contratações, há um parágrafo que autoriza contratação se os dirigentes do órgão público justificar e fundamentar a necessidade.

*Sindicato dos Metroviários SP.*

 



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