Fiocruz
O vírus Zika é capaz de bloquear a ativação do sistema imunológico da pessoa infecctada. A constatação, publicada na quinta-feira (6) pela Agência Brasil (EBC), veio a partir do mapeamento genético do vírus que circula em Pernambuco, sequenciado pela primeira vez no estado por pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) de Pernambuco em parceria com profissionais da Universidade de Glasgow, no Reino Unido.
O artigo com os resultados foi publicado na quarta-feira (5) na revista PLOS Neglected Tropical Disease. O sequenciamento genético foi realizado a partir de uma amostra coletada de um paciente infectado em 2015, no início da epidemia.
De acordo com o pesquisador da Fiocruz Rafael França, um dos responsáveis pela pesquisa, uma pequena parte da carga genética do Zika pode bloquear a ativação de um componente do sistema imune considerado importante para combater infecções virais: o interferon, que combate a replicação do vírus. “Se o Zika bloqueia a produção desses interferons ele vai conseguir replicar, então ele vai ter um processo infeccioso melhor, vai conseguir infectar muito mais a célula, vai ser mais agressivo”, disse França.
Essa característica é encontrada em outros vírus da mesma família, como o vírus da dengue, segundo o pesquisador. No caso do Zika, porém, a habilidade é ainda maior: “É um vírus que tem uma vantagem evolutiva em relação ao vírus da dengue”.
A descoberta deve ajudar outros pesquisadores a formular possíveis métodos terapêuticos, já que se identificou uma característica do vírus que pode ser combatida. “A gente pode interferir no [gene] que o vírus bloqueia no sistema imune, e tentar bloquear essa capacidade do vírus como uma forma de terapia”, exemplifica Rafael.
Vírus mutante
Com o mapeamento, os pesquisadores identificaram que o vírus Zika de Pernambuco tem semelhanças com o vírus encontrado na Ásia, como outras pesquisas já haviam mencionado. Eles também descobriram que a assinatura genética é a mesma de vírus Zika isolados em outras regiões do Brasil. “Ou seja, é o mesmo vírus que circula no país todo, provavelmente”, indica Rafael França.
Apesar de similar, o Zika analisado sofreu mutações em relação ao encontrado na Ásia. Questionado se essas mutações poderiam se relacionar ao maior número de casos de síndrome congênita de Zika identificados em Pernambuco e no nordeste, Rafael França afirma que nessa fase da pesquisa não é possível identificar se há vínculo.
“Ainda é cedo, porque a gente ainda não tem os genomas completos dos outros lugares. A partir do momento que outros pesquisadores forem sequenciando os vírus e fazendo a leitura do genoma, a gente vai poder comparar”, explica.
O próximo passo da pesquisa, que já está em curso, é estudar a evolução do vírus até agora, a partir de outros mapeamentos genéticos de amostras mais recentes. “A gente já sabe como fazer, já tem um quantitativo de amostras grande. O que a gente pretende fazer agora é um comparativo dos vírus que a gente tem desde o início de 2015 até o fim de 2016, para ver se ele está se adaptando ou se está havendo mutação e se a mutação poderia estar relacionada com uma adaptação na população”.
Recursos
O artigo publicado é o primeiro da pesquisa da Fiocruz e da Universidade de Glasgow. Em maio, a Agência Brasil noticiou a dificuldade de liberação de recursos para o estudo. Na ocasião, Rafael França citou os problemas estruturais e de pessoal enfrentados para dar prosseguimento às análises. Segundo ele, os repasses já estão ocorrendo. Outras fontes de financiamento também foram usadas para garantir o andamento da pesquisa.
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