Forbes: “Governo golpista pode levar Brasil de volta à dependência do FMI”

Reportagem destaca que "a esquerda livrou o Brasil do FMI”, mas que o “frágil e impopular governo Temer” poderá precisar novamente do Fundo

Por: Com PT no Senado
Publicação: 29/07/2016
Imagem de Forbes: “Governo golpista pode levar Brasil de volta à dependência do FMI”

divulgação

Uma análise publicada esta semana pela revista americana Forbes  aponta o risco de o Brasil voltar à tutela do Fundo Monetário Internacional e de suas políticas restritivas aos investimentos sociais.

A reportagem do jornalista Kenneth Rapoza, divulgada na última quarta-feira (27), destaca que "a esquerda livrou o Brasil do FMI”, mas que o “frágil e impopular governo Temer” poderá precisar novamente do Fundo.

Forbes recorda que foi o ex-presidente Lula quem pagou a última parcela da dívida brasileira com o FMI, feita pelo antecessor Fernando Henrique Cardoso, no valor de US$ 15,5 bilhões, num gesto que foi encarado como um resgate da soberania brasileira.

A reportagem deixa claro que a banca internacional e os representantes dos rentistas veem com alegria a possibilidade de o Brasil retornar ao colo do FMI. 

 

Leia a seguir, a tradução na íntegra da reportagem:

Esquerda brasileira livrou-se do FMI, mas novo governo pode precisar voltar a ele


Por Kenneth Rapoza

Brasil e FMI: juntos outra vez? “Oh, sim!”, diz ninguém

O Partido dos Trabalhadores, de esquerda, chegou ao poder graças ao Fundo Monetário Internacional (FMI). O público, farto de ouvir que os governos não tinham dinheiro para desenvolver o País porque precisava pagar empréstimos externos, afastou as elites governantes pelo voto e escolheu Luiz Inacio Lula da Silva, um sindicalista agitador que jamais frequentou a universidade.

Eleito, Lula chutou o FMI para longe, pagando ao Fundo US$ 15,5 bilhões devidos pelo País, em dezembro de 2015. O governo deixou de se curvar às determinações do FMI e passou a ser um credor da instituição.

Para o povo, o governo Lula devolveu ao Brasil a sua soberania. Os brasileiros odiavam o FMI e se voltaram contra o PSDB por causa da [influência] da instituição. Lula rapidamente tornou-se o presidente mais popular das Américas, se não do mundo, atingindo taxas de aprovação na casa dos 80%. Seu governo não decepcionou. Ele cumpriu suas promessas. O mundo ficou agradavelmente surpreso.

Mas 11 anos depois, uma virada na sorte está em curso. As surpresas no Brasil, em geral, têm sido consistentemente negativas;

Lula & Obama
O Brasil de outubro de 2002 era o equivalente aos Estados Unidos de novembro de 2008. October 2002 Brazil was the equivalent of the U.S. in November 2008. Maltratado pela dívida externa, com os “especialistas” de São Paulo e Washington pressagiando calotes iminentes, Lula, o sindicalista inflamado, bateu o candidato do establishment e tornou-se presidente com nada menos que uma avalanche de votos.

Lula “paz e amo’” conquistou novos admiradores. A classe média do Sul do País votou nele com entusiasmo, mesmo aqueles que acreditaram um dia que ele fosse um comunista. Tribos indígenas sacudiram bandeiras vermelhas do PT às margens do Rio Amazonas. Não era uma batalha ideológica. Era uma postura lúcida. O Brasil estava na sarjeta, seus governantes [até então] tinham falhado. Era a vez de Lula. E mesmo com o universo conspirando a favor dele, Lula fez por merecer.

Em 2008, os EUA estavam maltratados por uma crise que varria bilhões das rendas das famílias. Uma guerra impopular contra o Iraque abalava o Partido Republicano, e um homem negro, criado por uma mãe branca e divorciada foi eleito presidente com 53% dos votos. Os que viam Obama como um socialista furtivo estavam errados. E ainda que tenha cabido ao Banco Central Americano alavancar o Mercado nos últimos oito anos, foi Obaba quem estva no comando dos Estados Unidos quando o país saiu da Grande Recessão.

E agora o pêndulo oscilou.

Seja  bem-vindo, FMI!

O FMI é necessário ao Brasil mais do que nunca, afirma Alicia Garcia-Herrero, ex-economista da instituição e hoje economista-chefe para a área da Ásia/Pacífico do banco francês Natixis. “O governo interino avançou com a nova meta fiscal, mas ela não é transparente nem tem credibilidade. Será impossível para um governo provisório, com baixíssimo índice de popularidade, implementá-la nas atuais circunstâncias”, avalia a economista

O interino Michel Temer era o vice-presidente da governante afastada, Dilma Rousseff. Ele integra o PMDB, um “balaio de gatos”. Os caciques do partido, antes grandes aliados do PT, conspiraram para afastar Dilma quando ficou claro que ela não podia fazer nada para frear as consequências do escândalo de propinas envolvendo a Petrobras. Dilma aguarda o julgamento do Senado no próximo mês, por supostamente ter fraudado a contabilidade governamental.

Qual a cara do déficit?

O déficit orçamentário do Brasil subiu para 2,5% do PIB em maio, ou 10% do PIB em termos nominais. A nova meta para o déficit deste ano é de 2,6% do PIB, acima da modesta estimativa de 1,5% feita por Dilma. A desaceleração da economia vem reduzindo significativamente a arrecadação.

Restrições constitucionais já impõem rígidos limites de gastos no Brasil, o que dificulta ainda mais os cortes no Orçamento. Algumas dessas são obrigatórias (segurança social) e se refletem na inflação. A inflação atual no Brasil está acima de 8%, abaixo dos 9,5% do primeiro trimestre. O novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, já declarou que o “Plano A” para enfrentar a crise econômica é cortar despesas sem prejudicar programas sociais populares, como o ‘Bolsa Família’. O “Plano B” é deflagrar novo processo de privatizações. E o pior plano de todos, o “C”, seria adotar a austeridade à moda do FMI e aumentar os impostos.

“A boa intenção pode se frustrar, pois não há dúvidas de que será preciso aumentar impostos o quanto antes”, diz Garcia-Herrero. “O retorno ao FMI poderia ser a porta para essa medida tão antipática, já que [o Fundo] poderia ser usado como bode expiatório pelo governo. Basta culpar o FMI pelo aumento dos impostos”.

Outros problemas podem surgir de mega estatais como o BNDES e a Petrobras. A petroleira está particularmente vulnerável devido a vultuosos processos que correm nas cortes dos EUA e do Brasil, e ela tem dívidas superiores a US$130 bilhões.

Se Dilma derrotar o impeachment, o melhor cenário, para ela, seria convocar novas eleições. Se ela permanecer no governo, o País vai cair em um impasse. E isso pode tornar um recurso ao FMI ainda mais premente. Economia estagnada, nada de dinheiro novo para o governo, o encargo da dívida piorando. Alguém vai ter que botar ordem nessa bagunça.

“Se Dilma voltar, vamos viver um impasse,” acredita Chris Probyn, economista-senior da consultoria State Street Global Advisors, baseada em Boston (EUA e administradora de US$2 trilhões em investimentos. “Dilma prolongaria a crises e teríamos uma nova dose de incertezas”.
A consultoria State Street prevê um desempenho da economia brasileira pior em 2016 do que o de 2015. Probyn acredita que o PIB do Brasil vai e retrair em 4%. O FMI projeta uma retração de 3,8%, baseado em seu relatório World Economic Outlook, editado em abril. O Banco Central do Brasil aponta uma retração de 3,3%, com base em pesquisa mais recente.

O escândalo da Petrobras é o Brexit brasileiro
A turbulência política o Brasil continua a atrasar a retomada econômica. A guerra de palavras entre os apoiadores de Dilma e os que querem seguir adiante não arrefeceu. Temer permanence altamente impopular. Seu governo é, no mínimo, tão frágil quanto o de Dilma, com uma exceção: o Congresso gosta bem mais dele do que dela.

As reformas [de Temer] são mera retórica. O mercado está esperançoso, mas isso é tudo. Se o FMI entrar em cena, isso pode mudra os humores para pior.

A consultoria FocusEconomics projetou esta semana uma pequena recuperação na economia, com crescimento de 0,9%.

Há 11 anos, quando o Brasil surpreendeu o mundo ao pagar sua dívida com o FMI, o Paístrilhava um caminho inteiramente novo. O esquerdista Lula não iria se tornar o novo Hugo Chavez. Ele iria respeitar os contratos com emprestadores estrangeiros. Ele era confiável. Mas, claro, o escândalo da Petrobras mudou tudo isso.

Como a crise dos imigrantes que levaram ao Brexit—a decisão do Reino Unido de deixar a União Europeia—e que pode eleger Donald Trump nos EUA, a crise da Petrobras pode levar o Brasil aos velhos tempos, nos quais uma organização estrangeira dita ao País como deve gastar seu dinheiro.

Ironicamente, uma das coisas que o FMI elogiava em Lula era seu compromisso com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Essa é a mesma lei que pode condenar Dilma ao impeachment daqui a menos de um mês.

O Brasil deu uma guinada de 180 graus. Tudo que o País precisa é voltar a 2002. E é bem capaz de isso ocorrer, se Lula decidir se candidatar mais uma vez. Embora as intenções de voto em Lula tenham despencado, o vazio de liderança vivido pelo Brasil faz dele o único político visto com alguma boa vontade por uma larga parcela da população.

Ainda assim, do mesmo jeito que Lula chutou o FMI para longe da política brasileira, o escândalo da Petrobras pode fazer o mesmo com o ex-presidente. Lula voltando aos braços do FMI seria um sacrilégio. Para outros políticos, isso seria um bom pretexto. E a não ser que a economia brasileira cresça no próximo ano, essa pode ser a tábua de salvação.

 



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