Sergio Silva
Enquanto observa o núcleo gestor do
golpe derreter – três ministros deixaram o cargo em 34 dias por
denúncias de envolvimento em esquemas de corrupção –, Michel Temer
busca acelerar o pagamento a quem financiou o impeachment.
Para o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, a declaração do
ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, de que é preciso
flexibilizar os direitos trabalhistas para dar conta da
“competitividade que se estabeleceu para se ter emprego” apenas
confirma o que a Central já alertava desde o início do
impeachment.
“Os golpistas perderam a vergonha de dizer a que vieram. A CUT
sempre alertou que o grande objetivo ao tirar a presidenta Dilma
Rousseff era tirar da frente qualquer empecilho ou resistência para
acabar com a carteira assinada e os direitos trabalhistas. Se já
ficou claro que a luta contra a corrupção era uma mentira, e vimos
aí o terceiro ministro cair em um mês, agora também não resta
dúvidas de que esse governo trabalha exclusivamente para os
empresários”, apontou.
A falácia do custo da mão de obra
Um estudo do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e
Estudos Socioeconômicos), de 2016, ressalta que há outros fatores
que impactam muito mais o custo para o desenvolvimento do que os
encargos trabalhistas. Além da conta ser um ‘jeitinho’ de arrumar
argumentos para a tese.
Além do elevado nível da taxa básica de juros (taxa Selic), o
chamado spread bancário brasileiro, a diferença entre as taxas de
captação e a taxa de empréstimo dos bancos, está entre os mais
elevados na comparação internacional. Fator que determina uma forte
contenção do crédito ao consumidor e às empresas e afeta a
atividade econômica, ressalta o levantamento.
Em relação aos encargos, propriamente ditos, e ao discurso de nomes
como o do professor José Pastore, assessor empresarial e fonte
preferida da velha mídia, “o Brasil é um país de encargos altos e
salários baixos, o que faz o trabalhador receber pouco e custar
muito para a empresa".
Pastore aponta que um trabalhador contratado por R$ 1.000 custaria
R$ 2.020 para o empregador por conta dos encargos sociais. Mas o
Dieese e pesquisadores da Unicamp (Universidade de Campinas),
concluem que o peso dos encargos sociais é de 25,1 % sobre a
remuneração total do trabalhador. Por esse raciocínio, salário é a
remuneração total recebida integral e diretamente pelo trabalhador
como contraprestação pelo seu serviço ao empregador.
A remuneração, define o estudo, é dividida em salário contratual
recebido mensalmente, inclusive nas férias, o salário diferido (ou
adiado), recebido uma vez a cada ano (13º salário e 1/3 de férias)
e o salário recebido eventualmente (FGTS e outras verbas
rescisórias).
A partir dessa avaliação, dentro de um custo total do trabalho de
R$ 1.538, R$ 1.229,11 corresponderiam à remuneração total e somente
R$ 308,89 aos encargos sociais, muito aquém dos 102% do cálculo de
Pastore.
Contribuição social
Outro ponto definido pelo levantamento
do Dieese é que esses encargos ajudam a financiar a Previdência
Social e programas educacionais. Além de serem fundamentais para a
geração de trabalho decente em toda a cadeia produtiva que se
beneficia de desonerações.
Como a competitividade é o principal ponto para desonerar a folha,
é importante que os benefícios desta proposta não sejam apropriados
somente pelos empresários, mas por toda sociedade. Ainda, devem ser
debatidas contrapartidas sociais.
Produtividade aumentou
Ao contrário do que repete a velha mídia, a produtividade não caiu
no Brasil, ao contrário. Nos anos 2000, tem crescido sempre acima
da folha de pagamentos por pessoal assalariado.
De acordo com o Dieese, no ano de 2010, essa diferença ficou em 7%,
acomodando com folga ganhos reais nos salários, que ficam sempre
entre 1% e 3%. De 1989 a 2011 a produtividade praticamente
dobrou, aponta o departamento, enquanto o rendimento médio do
trabalhador na indústria acumulou queda de 35% no mesmo
período.
Segundo a secretária de Relações do Trabalho da CUT, Graça Costa, o
empresário busca absorver recursos do Estado, mas não investe em
formação e qualificação dos trabalhadores. Ao contrário, prejudica
a própria produção ao investir no achatamento da qualidade de seus
empregados.
“As empresas não vão conseguir competir de forma igualitária, ou
melhor, se fizerem terceirização como estão querendo, sem limites,
porque os terceirizados não são contratados por serem
especialistas, mas sim porque o custo é menor. A maior parte está
submetida a jornadas longas, salários menores, péssimas condições
de trabalho, com risco de saúde e morte. Não vejo como fazer melhor
competição com condições assim”, avalia.
O avanço desse modelo de contratação é uma ameaça concreta à classe
trabalhadora. Após ser aprovado na Câmara dos Deputados por 324
votos favoráveis contra 137, o PL 4330, de autoria do ex-deputado
federal Sandro Mabel (PR-GO) foi para o senado como PLC
30/15.
Antiga reivindicação dos empresários para afrouxar a legislação
trabalhista, o texto aprofunda um cenário nocivo aos trabalhadores.
Segundo o dossiê “Terceirização e Desenvolvimento, uma conta
que não fecha”, lançado pela CUT e pelo Dieese (Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), os
terceirizados ganham 25% menos, trabalham quatro horas a mais e
ficam 2,7 anos a menos no emprego quando comparados com os
contratados diretos.
Favorece ainda situações análogas à escravidão. O documento aponta
que, entre 2010 e 2013, entre os 10 maiores resgates de
trabalhadores escravizados, nove eram terceirizados.
Conforme aponta Graça, se com as conquistas que ocorreram nos
últimos 70 anos ainda a situação dos trabalhadores é ruim, não é
difícil imaginar como seria o cenário sem a existência da
CLT.
“Se com a legislação que temos, aliada às negociações coletivas,
ainda convivemos com uma rotatividade tão grande, em que o
empresário opta pela demissão para pagar menos, ao invés de
investir em formação, imagina se a carteira-assinada perder a
importância”, pondera.
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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