Dirigentes cutistas durante uma das mesas do Coletivo de Mulheres da Central - Foto: Roberto Parizotti
Durante os dois dias em que o Coletivo
Nacional de Mulheres da CUT se reuniu, dois pontos tiveram destaque
em todas as discussões: primeiro, a marca do governo golpista de
Michel Temer, a retirada de direitos. Segundo, a resposta a isso, o
retorno da democracia com a volta da presidenta eleita Dilma
Rousseff.
Para as mulheres, outras alternativas serão uma tentativa de
driblar as urnas e dar um verniz legal ao enterro das conquistas
construídas nos últimos 13 anos, por meio do diálogo com os
movimentos sindical e sociais, conforme destaca a secretária de
Mulheres da CUT, Juneia Batista.
“Queremos que a Dilma volte, comprometida com a classe trabalhadora
e com a agenda das mulheres. Acreditamos que, mesmo tendo
dificuldade com o Congresso, será a única forma de dar continuidade
às políticas de transferência de renda. Acreditamos que, apesar de
todas as dificuldades, teremos a nossa agenda atendida,porque o
governo esse governo golpista e interino não representa ninguém
além de quem financiou o golpe”, criticou.
Terra arrasada
Em uma das mesas do encontro que terminou nesta quinta-feira
(16), a secretária de Mulheres da cidade de São Paulo, Denise Motta
Dau, fez um alerta aos setores que acreditam ser possível a
retomada das ações progressistas em 2018 com uma vitória nas
eleições.
Para ela, acreditar nisso beira a ingenuidade, já que o vencedor,
ainda que do campo progressista, encontraria campo arrasado, para
começar do zero por Temer, que aposta em cortes tanto em programas
universais como o Minha Casa Minha Vida, o Mais Médicos e o ProUni
quanto em espaços específicos como a Secretaria de Políticas para
as Mulheres.
“As políticas afirmativas foram estruturadas durante anos de
batalha, inclusive com o parlamento e esses avanços estão
nitidamente ameaçados. O principal impacto é na questão conceitual,
em especial em áreas mais controladas por setores conversadores e
parlamentares mais religiosos, como o aborto legal, já garantido na
Constituição e sob ataque de Cunha”, exemplificou.
Além disso, diz Denise, os movimentos, inclusive de mulheres, têm o
deve moral de enfrentar um golpe com viés machista.
“Junto com a continuidade das políticas públicas, falamos da
valorização das mulheres, levando em conta, obviamente, que foi um
golpe e que a presidenta foi tratada de forma muito machista. Com
revistas que a apontavam como desequilibrada e adesivos criados com
a imagem dela de pernas abertas.”
Para a secretária, o momento é de estreitamento de laços para
construção de uma gestão mais ousada. “A presidenta saiu
fortalecida, cresceu na crise e recompactou com movimentos sociais.
Dialogou e percebeu que não pode contar com a base no Congresso
para o diálogo, por isso, é necessário aprofundar a conversa com os
movimentos sociais”, pontuou.
Gênero e classe
Ex-secretária de Políticas para as
Mulheres Eleonora Menicucci apontou para a importância da oposição
ao golpe não aceitar ‘migalhas’ espalhadas com o ar de fiscalização
a todos os partidos e segmentos.
“O golpe tem caráter de gênero, de classe e é capitalista, por
conta do pré-sal. Se não fizermos essa relação, não entenderemos
como chegamos até aqui. Não pensem que cassação de Cunha (Eduardo
Cunha, ex-presidente da Câmara) foi uma vitória. Não foi porque já
está com três processos, é réu no STF (Supremo Tribunal Federal) e,
após fazer todo o serviço da admissibilidade do impeachment, foi
descartado. Os golpistas teriam que dar uma resposta à sociedade
para darem continuidade ao golpe. A volta da democracia só com a
volta da presidenta Dilma ao poder”, defendeu.
Paridade
As dirigentes sindicais avaliaram durante o encontro que o
empoderamento das mulheres não se restringe ao Executivo. Ao
contrário, para chegarem lá é necessário que instâncias
tradicionalmente machistas, como a CUT, estejam abertas a avanços,
como a paridade, aprovada em Congresso da Central, em 2012.
Para a vice-presidenta da CUT, Carmen Foro, a unidade entre as
dirigentes é fundamental para que a equidade nãos seja apenas uma
regra no papel.
“Quando aprovamos a paridade, começaram a questionar se estávamos
preparadas para isso, porque dividir o poder político significa que
alguns homens teriam de sair para outras chegarem. Da aprovação
para implementação foram três anos de uma batalha diária, teve até
pesquisa para saber se os estados estavam prontos para isso. Não
esperamos que os companheiros abram espaços para nós sem pressão ou
articulação entre as mulheres, seja em nível nacional, seja nos
sindicatos”, disse.
Para apontar o tamanho do desafio, Carmen lembrou que a CUT foi a
única central a aprovar o modelo paritário e acredita que o próximo
passo é ver a relevância dos cargos que serão ocupados.
“Hoje são só oito presidentas de estudais e temos poucas
tesoureiras e secretárias gerais, espaços de maior poder na
Central. Temos que lutar para que as companheiras tenham liberação
para atuar nos sindicatos, estabelecer um projeto de empoderamento
por meio das negociações coletivas. Só vamos fazer política se
fomos parte de um processo que vai nos permitir
um
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