Fotos: Ricardo Stuckert Filho
Quando se aproximou da grade que
separava o governo deposto do povo, a presidenta eleita Dilma
Rousseff viu braços abertos e gritos de “força” e “estamos com
você” de quem trazia no rosto suado a indignação diante do
golpe.
Após ser recebida dentro do Palácio do Planalto pelo ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva e por lideranças dos movimentos sindical
e sociais, a presidenta fez um breve discurso ao lado de ministros
e parlamentares para mais de 15 mil pessoas, num palco improvisado
ao nível da rua, a poucos metros da multidão. Em lugar de descer a
rampa, saiu pela porta lateral que utilizou diariamente durante
seus dois mandatos e, dispensando o tradicional parlatório, foi ao
microfone.
Diante das pessoas que foram apoiá-la, Dilma lembrou que enfrentar
golpes e a injustiça faz parte de sua história. “Ao longo da minha
vida, eu, da mesma forma que todas as mulheres, sempre enfrentei
desafios. Enfrentei o desafio da tortura e do combate à ditadura.
Enfrentei a dor invisível da doença. Mas o que mais dói é essa
situação que vivo agora, a inominável dor da injustiça e da
traição”, falou. Dilma classificou este 12 de maio como o dia mais
triste de sua vida.
A presidenta eleita ressaltou, porém, que não abandonará a defesa
do mandato dado por mais de 54 milhões de brasileiros e
brasileiras. “Nesse momento em que as forças da injustiça e da
traição estão soltas por aí, estou pronta para resistir”,
garantiu
O alvo é o povo
Dilma relembrou que o suposto crime pelo qual foi afastada, as
chamadas ‘pedalas fiscais’, eram ações rotineiras em governos que a
antecederam e isso não gerou afastamento de outros presidentes.
Também destacou mais uma vez que o golpe é o resultado da recusa do
PT em defender o ex-presidente da Câmara dos Deputados e réu na
Operação Lava Jato, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no Conselho de Ética
da Casa.
A presidenta eleita alertou ainda os brasileiros de que o
impeachment nada mais é do que uma forma de combater as políticas
que elevaram a renda dos mais pobres e da classe média, colocaram
jovens nas faculdades por meio de cotas, defenderam o pré-sal e
fizeram virar realidade o sonho da casa própria via Minha Casa
Minha Vida.
Conquistas que agora estão em risco sob a gestão do vice Michel
Temer. ”Quando falam em focar, reduzir, na verdade, querem dizer
que vão diminuir até acabar com elas (políticas públicas).”
Dilma ressaltou também que os 180 dias em que ficará afastada até o
impeachment ser julgado definitivamente pelo Senado servirão para
defender um modelo de governo baseado na democracia.
“Agradeço a todas as pessoas que foram às ruas dar um não imenso ao
golpe, que estão do lado certo da história. Somos aqueles que sabem
como é a luta cotidiana e não desistem nunca.”
CUT pelos trabalhadores
Presente ao ato, o presidente Nacional da CUT, Vagner Freitas,
disse que esse é o momento mais perigoso para a classe trabalhadora
desde a ditadura e que o cenário exigirá dos movimentos sindical e
sociais a manutenção da unidade e da capacidade de se manterem nas
ruas.
“Além do afastamento da presidenta legitimamente eleita, teremos
agora o início de um governo que tem em seu DNA a retirada de
direitos dos trabalhadores. Nossas conquistas nunca estiveram tão
em risco como agora, por isso, nos próximos 180 dias, vamos fazer
greves, manifestações e denunciar o golpe dentro e fora do Brasil.
Para voltarmos à normalidade democrática e termos novamente um
governo escolhido nas urnas por 54 milhões de eleitores”,
apontou.
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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