Lula: “Crime é chegar ao poder sem eleição”

Em ato com metalúrgicos do ABC, ex-presidente enfrenta o golpe e reafirma compromisso de novo modelo de econômico

Por: Da CUT
Publicação: 05/04/2016
Imagem de Lula: “Crime é chegar ao poder sem eleição”

Roberto Parizotti

Em mais um ato pela defesa da democracia, desta vez organizado pela Frente ABC Contra O Golpe, em São Bernardo do Campo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a apontar o caráter golpista do impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff, na segunda-feira (4).

Para cerca de cinco mil pessoas, que se reuniram diante da sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula falou sobre a atitude irresponsável de paralisar o país em nome de um projeto de poder.

“Se é verdade que o impeachment está na Constituição, também é verdade que só pode ser colocado quando há crime de responsabilidade e a Dilma não cometeu nenhum crime de responsabilidade. Eles (golpistsa) é que estão cometendo ao tentar chegar ao poder sem disputar eleição e sem respeitar o voto popular que elegeu a Dilma”, falou o ex-presidente.

O fator Lula           

Para ele, o que amedronta os setores conservadores é justamente a continuidade de um modelo pautado pelo desenvolvimento com distribuição de renda.

“O país tem 500 anos e só temos 31 anos de democracia. Mas setores conservadores já se cansaram da democracia, não porque não seja boa, mas porque permitiu que, sem dar um único tiro, fizéssemos a mais importante revolução social da história desse país. O que deixa eles horrorizados é a possibilidade de o Lula voltar em 2018”, falou.

Mais de cinco mil foram a São Bernardo em defesa da democracia Lula voltou a alertar sobre as consequências do acirramento do ódio a partir do clima criado para desestabilizar o país. “Estavam abrindo champanhe em Minas Gerais, quando o Nordeste, que um cientista político chamou de ignorante e atrasado (referindo-se a Fernando Henrique Cardoso), convocou Dilma para cumprir seu mandato. E, a partir dai, eles passaram a infernizar esse país. O que estão fazendo é não deixar a Dilma governar, é criar todo tipo de caso para o caos. Mais grave, estão destilando o ódio. Nunca vi o ódio que está estabelecido contra o PT, contra os trabalhadores.”

O ex-presidente sugeriu que movimentos como a CUT questionem de onde vêm os recursos utilizados pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) para a campanha pelo golpe.

“Paulo Skaf está fazendo campanha pública na Paulista e o movimento sindical precisa perguntar se aquele é dinheiro público do sistema ‘S’. O movimento sindical deve cobrar, porque sistema ‘S’ cobra 2,5% da folha de pagamento para se sustentar”, ressaltou.

Mudanças econômicas e mais diálogo

Enquanto, por um lado, Lula falou à militância sobre a importância de defender a democracia, por outro, como ministro convocado para a Casa Civil por Dilma, tratou de apontar que enxerga necessidade de ampliar o diálogo com movimentos como a CUT e de mudanças nos rumos da política econômica.

“Quando cheguei ao governo, saímos de 2 milhões para 3 milhões de veículos vendidos ao ano. Colocamos mais de 100 mil trabalhadores  dentro dessa categoria e estamos perdendo outra vez. Por isso, disse para a Dilma, venho pra cá, mas é preciso dar uma consertada na política econômica. É importante saber conversar com mercado, mas nosso mercado é o povo trabalhador, o povo consumidor, a dona de casa. É para esses que devemos governar prioritariamente.”

Ao mostrar que não acredita em possibilidade de conciliação, Lula afirmou que, a determinados setores, quanto mais se agrada, mais toma bordoada e aproveitou para lembrar o tratamento que sempre teve da velha mídia, ainda pior neste momento de crise.

“Primeira capa que ganhei da Veja foi quando, em 1980, fui cassado e tirado do sindicato. Não lembro de uma capa boa que a Veja me deu. Minha sorte é que está ficando cada vez mais magra, porque o povo também está aprendendo a discernir o que é verdade e mentira. Os meios de comunicação que deveriam ser para informar com sobriedade, hoje estão ocupados em desinformar e provocar o caos”, afirmou.

Recado a Temer

O ex-presidente relembrou como a democracia foi capaz de um transformação na cara da América Latina e voltou a mandar um recado a ao atual vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP): quem quer assumir o posto, tem que ganhar nas urnas.

“A democracia permite que pessoas como eu, como Evo Morales, um índio genuíno, seja presidente da Bolívia, que um negro seja presidente dos EUA, que uma mulher seja presidente da Argentina, que Pepe Mujica, após 14 anos preso, sete desses dentro de uma solitária, seja presidente do Uruguai. Não tenho nada contra Michel Temer, mas quem quer ser presidente, disputa eleição. Vai para rua pedir voto, esse negócio de encurtar caminho para chegar lá não dá certo.”

Pato de Tróia

Em sua intervenção, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, repudiou a capa da revista Isto É, que tratou de supostas explosões nervosas de Dilma para reforçar a ideia machista de que mulheres são desequilibradas e incompetentes em cargos de grande responsabilidade.

Vagner relembrou entrevista de vice da Fiesp para provar: empresários querem golpe na CLT“Isso é machismo! A mulheres convivem o tempo todo com o estereótipo de que são desequilibradas e incapazes, quando é justamente o contrário, conseguem se equilibrar em duplas, triplas jornadas de mães, trabalhadoras e militantes. Se a União não processar essa revista, nós, movimentos organizados, temos que abrir processo”, defendeu.

Vagner também falou de uma entrevista do atual vice-presidente da Fiesp, Benjamim Steinbruch, que circulou no último final de semana nas redes sociais. O dirigente da entidade patronal comenta que “você vai nos Estados Unidos e vê o cara almoçando com a mão esquerda, comendo sanduíche com a mão esquerda, e operando máquina com a direita, e tem 15 minutos para o almoço.”

Para o dirigente, a afirmação ajuda a desvendar o real interesse dos patrões no impeachment. “Golpe não é contra a Dilma, peão, é contra você. O que eles querem é acabar com férias remuneradas, CLT, terceirizar tudo para que você não tenha emprego e acabar com a política de valorização do salário mínimo que o Lula e o Marinho (Luiz Marinho, atual prefeito de São Bernardo e ex-ministro do Trabalho) fizeram no Brasil.”

Golpistas não passarão – Da mesma forma que Lula, o presidente da CUT também alertou que um governo de golpistas não administrará o país impunemente. “Temer é golpista, não vai ser presidente, mas se alguém achar que será, saiba que nós vamos combatê-lo e parar o Brasil. Não adianta quem não tem voto querer ganhar no tapetão. Não vai ter golpe”, definiu.

Em defesa do Brasil

Prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), também apontou que, mais do que a defesa de Dilma, a luta pela democracia é uma batalha por um modelo de desenvolvimento.

“Estamos lutando para construir o país como o direito ao salário, das domésticas, à moradia, com o Minha Casa, Minha Vida. Uns tentam inventar todas as artimanhas com diversas facetas do golpe. Dizem agora que é preciso antecipar as eleições gerais, mas que história é essa? Neste ano vai ter eleição, sim, mas para prefeito apenas”, disse, repudiando a antecipação de novas eleições como uma espécie de alternativa ao golpe.

Uma modelo, porém, que não pode perder o povo como referência, alertou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Rafael Marques. 
“De ato em ato vamos construir a resistência para promover a continuidade do espetáculo democrático e a volta do crescimento econômico. Foi isso que levou mais de cinco milhões às urnas para eleger Dilma. Mas ninguém falava em reforma trabalhista e previdenciária, o que tem de ser cumprido é o compromisso de distribuir renda, é um Brasil para trabalhadores, para o povo mais humilde desse país.”

 

 

 



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