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A revista semanal Der Spiegel, da Alemanha, publicou no último sábado (19) um texto em que analisa a crise política e a tentativa de golpe em andamento no Brasil. Segundo a publicação, havia “cada vez mais golpistas, radicais de direita e reacionários” nos protestos ocorridos contra o governo no último dia 13. O veículo destacou ainda as possíveis motivações políticas do juiz Sérgio Moro e o fato de que acusados de corrupção terão o papel de julgar o impeachment da presidenta Dilma Rousseff.
Leia o texto na íntegra abaixo.
A CRISE INSTITUCIONAL NO BRASIL: UM GOLPE FRIO
Por Jens Glüsing
Os opositores de Lula erigiram, o que sua frágil sucessora não conseguiu desde sua posse: unificar as bases do Partido dos Trabalhadores, dos sindicatos e movimentos sociais com o Governo.
Cem mil simpatizantes de Lula protestaram ao longo da sexta-feira em todo país contra o Impeachment da presidenta, que visa retirá-la do poder. Na Avenida Paulista em São Paulo, onde o termômetro para o protesto é contado, foram ocupados 11 quarteirões. As manifestações foram pacíficas e Lula mostrou uma postura conciliadora. Ele absteve-se de atacar a Justiça e conclamou para o diálogo. As palavras de ódio foram pouco ouvidas nas manifestações de Rio e São Paulo.
O mesmo não ocorreu nos protestos massivos contra o Governo do último final de semana, que juntaram um número cada vez maior de golpistas, radicais de direita e reacionários. Embora eles não sejam a maioria dos manifestantes, têm atraído cada vez mais simpatizantes. Isso tem se mostrado preocupante para ainda jovem democracia brasileira.
Pela primeira vez, desde o fim da ditadura militar em meados dos anos 80, o maior país da América Latina se vê diante de uma iminente profunda crise institucional que pode destruir todos os progressos conquistados nos últimos 30 anos. Parte da oposição e da Justiça age, juntamente com a maior empresa de telecomunicações TV Globo, para estimular uma verdadeira caça às bruxas que tem como alvo o ex-presidente Lula.
Sérgio Moro, ambicioso juiz de Curitiba, Sul do Brasil, persegue um evidente objetivo central: colocar o ex-presidente atrás da grades. Moro dirige as investigações do escândalo de corrupção sobre a empresa semi-estatal petrolífera Petrobras, no qual centenas de empresários, lobistas e políticos estão implicados, entre eles vários membros do alto escalão do partido de Lula, o Partido dos Trabalhadores.
Como num furacão, o juiz Moro varreu a elite política e econômica. Ele revelou desvios da ordem de bilhões de Reais. Mais de cem suspeitos estão na cadeia e, a maior parte, sem estarem ainda condenados. Muitos brasileiros celebram, por isso, o juiz como um verdadeiro herói nacional.
FRACOS INDÍCIOS
Porém, nos últimos meses os sucessos de Moro lhe subiram a cabeça. O juiz faz política, que não é a sua função. A quebra de sigilo das escutas telefônicas entre Lula e a presidente Rousseff, poucas horas depois da nomeação de Lula como Ministro, perseguiu fins políticos e fez com que o juiz fosse questionado, para pelo menos dar explicações.
Até o momento, Moro não foi bem sucedido na elaboração de sua acusação contra Lula, embora dezenas de promotores e policiais federais em Curitiba já há meses realizam uma devassa nas finanças e relações pessoais do ex-presidente. Os indícios são ainda frágeis.
Lula não tem milhões em contas na Suíça, como o poderoso presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, que foi acusado por corrupção e lavagem de dinheiro e chamado de criminoso por um juiz da Suprema Corte. Mas, isso não o fez deixar a presidência e não o impediu de ter o controle sobre a comissão responsável pelo Impeachment da presidente.
Nessa referida comissão, possui lugar o ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf, que foi condenado na França por corrupção, mas que não será entregue pelas autoridades brasileiras, pois é deputado federal.
Essas são as figuras responsáveis por dar a palavra sobre a deposição da presidente, que não teve até agora nenhuma culpa revelada, minando a legitimidade de todo o processo.
À reboque de Lula, adverte-se um golpe frio sobre a democracia brasileira. Há grandes motivos para se preocupar.
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