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Em artigo, o analista político destaca que se Dilma cair, o Brasil entrará em uma espiral de crise política, econômica e social ainda mais grave e quem mais perderá será o trabalhador. Leia a seguir no Portal CNTTL:
É tanto que não se viu em nenhuma das manifestações de domingo cartazes contra o desemprego, a alta dos juros, a carestia e o arrocho salarial. Isto demonstra, em primeiro lugar, que esses atos não representam os trabalhadores. E, em segundo, que se forem vitoriosos haverá grande retrocesso nos direitos trabalhistas e sociais. Não é à toa que não se enxerga a cara do povo nesses atos.
Uma massa de gente foi às ruas no
último domingo (13) em todas as capitais brasileiras e em centenas
de cidades Brasil afora. Se foi maior ou menor que a última
manifestação de 2015 isto é absolutamente desimportante. Os fatos
são: o governo está nas cordas e o PT está acossado e desarvorado.
Negar isto é não querer entender o que está acontecendo.
Diante dessa avalanche conservadora em curso, uma coisa é certa: se
Dilma cair por um ‘golpe de mão’, no caso o impeachment, ou cassada
pelo TSE, o Brasil entrará em uma espiral de crise política,
econômica e social ainda mais grave e quem mais perderá será o
trabalhador.
As manifestações convocadas e organizadas pela mídia e financiadas
pelos empresários, o ‘pato’ da Fiesp era a senha que faltava, e a
concentração dos manifestantes na avenida Paulista em frente à sede
do empresariado paulista, não deixam dúvidas quanto a isto. A cada
lance vai ficando mais claro os interesses inconfessos dos
endinheirados por trás da obsessão contra a corrupção.
Os manifestantes, em sua grande maioria, estavam nas ruas e têm ido
aos atos sob o prisma de combate à corrupção. Essa bandeira sempre
mobilizou e ‘escandalizou’ os estratos médios brasileiros. Este,
inclusive, foi o mote contra Getúlio Vargas em 1954 e também foi um
dos combustíveis que alimentou o golpe civil-militar de 1964.
Agora não é diferente. As manifestações até então realizadas contra
o governo, Lula, Dilma, o PT, e qualquer resquício de esquerda tem
essa dimensão de cunho moralista. Não que não esteja correta a luta
contra a corrupção. Mas essa bandeira se transformou num ‘Cavalo de
Tróia’. O embate político em curso, tendo o combate à corrupção
como pano de fundo, tem servido para encobrir uma agenda
escandalosamente conservadora, do ponto de vista político, e
neoliberal do ponto de vista econômico.
É tanto que não se viu em nenhuma das manifestações de domingo
cartazes contra o desemprego, a alta dos juros, a carestia e o
arrocho salarial. Isto demonstra, em primeiro lugar, que esses atos
não representam os trabalhadores. E, em segundo, que se forem
vitoriosos haverá grande retrocesso nos direitos trabalhistas e
sociais. Não é à toa que não se enxerga a cara do povo nesses
atos.
O setor político e socialmente organizado que mais perderá será o
movimento sindical e, por consequência, os assalariados, do setor
privado e público. O roteiro está definido e pode ser mais bem
compreendido por meio da leitura do artigo ‘Ataques ao movimento
sindical à vista’, do diretor de Documentação do Diap, Antônio
Queiroz, publicado no dia 7 de março, no portal do órgão.
Será um processo de desqualificação e criminalização do movimento
sindical. No artigo, Queiroz aponta o roteiro: ‘Para atingir esse
objetivo vão utilizar a grande imprensa, o Ministério Público e o
Congresso. A imprensa será a responsável por publicar denúncias
envolvendo entidades e lideranças sindicais. O Ministério Público
será acionado para fiscalizar e auditar as entidades, especialmente
em relação ao uso dos recursos oriundos da contribuição sindical
compulsória. E o Congresso para instalar comissões parlamentares de
inquéritos para expor negativamente ou criminalizar a atividade
sindical.’
O Congresso também será palco, como tem sido sob o atual presidente
da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de inúmeras propostas para
flexibilizar ou retirar direitos dos trabalhadores, sob o comando
da forte e numerosa bancada empresarial.
Qualquer saída agora para debelar a crise econômica terá alto custo
para os trabalhadores, haja vista que os empresários travam a
economia por não acreditarem na capacidade de o governo construir
soluções razoáveis para o País.
Ameaças a direitos no Congresso
Matéria prima não falta no Congresso Nacional que ameace direitos
dos trabalhadores. Tanto na Câmara, quanto no Senado.
Em levantamento, cujo número é simbólico, pois há outras tantas
proposições com o mesmo escopo, o assessor parlamentar do Diap
Neuriberg Dias identificou mais de 50 matérias em tramitação na
Câmara e no Senado, que demonstram que os empresários e sua bancada
legislativa aguardam apenas um ambiente mais favorável para avançar
sobre os direitos dos assalariados.
As propostas versam sobre terceirização total das relações de
trabalho (PLC 30/15), passando pelo impedimento de o empregado
demitido reclamar na Justiça do Trabalho (PL 948/11 e PL 7.549/14),
até a prevalência do negociado sobre o legislado (PL 4.193/12).
No Senado, tramita a regulamentação e retirada do direito de greve
dos servidores (PLS 710/11 e PLS 327/14), a privatização das
empresas públicas (PLS 555/15), e, ainda, a proibição de indicar
dirigente sindical para conselheiro dos fundos de pensão públicos
(PLS 388/15).
Clareza de objetivos
A massa que tem ido às ruas, sob a influência da pauta difundida e
defendida pela mídia, não tem noção do papel que desempenha nesse
processo de negação da política. Cega de ódio, a chamada ‘classe
média’ não consegue ou não quer enxergar que o País melhorou e o
povo mais pobre, a imensa maioria, se empoderou, melhorou de vida.
Ampliou direitos, renda, educação e tantos outros benefícios
negados ao longo de décadas.
A crise econômica prejudica, sobretudo, o setor mais pobre da
sociedade, que ao não ser superada, perderá o que conquistou em
razão do travamento da economia por falta de investimentos do
governo e do setor produtivo.
Mas o mercado sabe, pois foi o principal beneficiário dessa
melhoria. Entretanto, sob o comando dos banqueiros, dos donos da
mídia, e dos empresários representados pela Fiesp-CNI, nunca se viu
ou quis ser representado por um presidente e agora uma presidente
que não são do seu meio ou defendam mais diretamente os seus
interesses. Muito embora, a bem da verdade, esses interesses nunca
terem sido ameaçados. Pelo contrário, foram preservados e
protegidos.
Ao fim e ao cabo, os que detêm e manipulam os cordéis estão pouco
se lixando para a corrupção. A narrativa é apenas e tão somente
para mobilizar os estratos que lhes apoiam e sustentam política e
eleitoralmente.
Referências históricas
A tão festejada operação ‘Mãos Limpas’, na Itália, na década de 90,
embora legítima, redundou em 20 anos de retrocessos e populismo
conservador com Berlusconi.
No Brasil, para que não pairem dúvidas quanto aos interesses
inconfessos do mercado, basta voltar meio século, pós 1º de abril
de 1964. Não se trata de comparação, pois os tempos são outros.
Entretanto, é possível e plausível traçar um paralelo entre aquele
tempo e este, cujos atores são os mesmos, com exceção dos
militares, que hoje não têm protagonismo político.
Esses são invocados por aqueles por puro desconhecimento histórico
e ignorância política, pois a corrupção no Brasil teve mais
acolhida e proteção exatamente no período do regime militar, cuja
imprensa não era livre e as liberdades democráticas não
existiam.
Não é coincidência, que uma das demandas dos manifestantes, que a
cobertura da mídia tem vergonha e pudores de mostrar, é a tal da
‘intervenção militar constitucional’.
Uma das primeiras providências da ditadura militar, que durou 21
anos, no plano econômico, foi impor aos trabalhadores um pesado
arrocho salarial, com invariáveis reajustes abaixo da inflação. No
plano político, as entidades sindicais foram inviabilizadas, houve
centenas de cassações, prisões, desaparecimentos, exílios e mortes
de dirigentes sindicais, entre outros que se opunham ao regime de
exceção.
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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