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A ofensiva contra Luiz Inácio Lula da Silva e o governo de Dilma Rousseff reflete os anseios de uma elite que não quer perder seus interesses. A análise é do ex-presidente do Uruguai, José “Pepe” Mujica. “A direita perdeu toda a racionalidade. Não quer entender que, comendo um pouco menos, ainda assim segue comendo muito, não quer Lula e o PT porque rechaça a necessidade de repartir, ainda que seja um pouco”, diz.
Em entrevista ao jornal argentino Página 12, Mujica aprovou a escolha de Lula para a chefia da Casa Civil. Para ele, a decisão de Dilma foi acertada. “Lula no governo é algo positivo, é um líder muito importante, oxalá vá bem, mas não será fácil”. Um dos desafios, diz, será mudar a política econômica. “Sei que em sua cabeça ele pensa que há de se colocar em marcha um plano brutal de crédito para os mais endividados e a classe média”, diz.
Na quinta-feira (17), a presidente Dilma deu posse a Lula como ministro-chefe da Casa Civil. Em todo o país, manifestantes realizam protestos contra e a favor do governo.
Mujica acredita ainda que há interesses pesados na ofensiva contra o governo de Dilma Rousseff e o Partido dos Trabalhadores. “Não posso dizer se é esse ou aquele grupo que está jogando, mas digo que há gente que está interessada em tirar Lula da carreira política, e da carreira para as eleições”.
Além de lutar contra a direita, outro desafio do governo será buscar o apoio dos brasileiros que não foi para as ruas. “É verdade que os que pagam o pato da crise não são os que vão gritar contra Dilma e contra Lula, é o povo pobre. É preciso trabalhar por esse povo”.
Mujica também entende que a situação do Brasil influencia toda a região, que pode ser “contagiada” pela onda conservadora e que pede a derrubada de governos democráticos. Para o ex-presidente uruguaio, é hora de os países sul-americanos mostrarem sua solidariedade. “É preciso estender uma mão para o Brasil desde fora, desde os países irmãos temos que rodeá-lo para que a legalidade democrática não caia”.
Questionado se é otimista ou pessimista a respeito do cenário brasileiro, Mujica afirma sentir uma certa “amargura”, especialmente em relação ao grande número de jovens que não vivenciaram a ditadura militar. Diz que a juventude não tem ideia do que significa uma ditadura e das consequências de um possível golpe militar. “Quando há ditadura a imprensa não escreve essas coisas. Não há liberdade de imprensa quando tiram os governos democráticos do poder, é isso que tem que se colocar na cabeça dos jovens brasileiros nesses dias”, diz.
A atuação do Judiciário também é alvo de críticas de Mujica. Ele entende que, no caso de Lula, há um esforço “incomum” para encontrar algo que o comprometa nas investigações da Operação Lava Jato. “Dá a impressão de um certo vedetismo jurídico no Brasil”. Diz. “Há gente na Justiça que cria denúncias muito chamativas para aparecerem nos meios de comunicação e fazer seus negócios”, diz.
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