Graziella Baggio - reprodução: Facebook
Há 32
anos, a comissária de voo aposentada da extinta Viação Aérea São
Paulo (VASP), Graziella Baggio,
atua no movimento sindical na aviação. Ela foi diretora e
presidente do Sindicato Nacional dos Aeronautas, no período de 1999
a 2013. Atualmente, Graziella é porta-voz da FENTAC na luta dos credores (aposentados,
pensionistas e participantes) do Aerus (Fundo
de pensão dos ex-trabalhadores das empresas Varig, Transbrasil, entre outras).
A sindicalista participou da Série Mulheres no
Transporte, produzida pela CNTTL/CUT em homenagem ao mês internacional das
mulheres. Confira a sua entrevista que traz
informações históricas e aponta as principais conquistas e desafios
para as mulheres aeronautas.
CNTTL/CUT: Quando você
entrou para o movimento sindical?
Graziella Baggio: Eu entrei na aviação em
1977 e em 1979 eu já comecei a participar da Associação de
Tripulantes da extinta Viação Aérea São Paulo (VASP). Comecei a participar da direção sindical na
década de 80. Em 1984, a nossa Chapa foi vitoriosa nas eleições do
Sindicato Nacional dos Aeronautas, fui diretora e cheguei à
presidência, atuando até 2013.
Na época em que você voava quais eram as exigências na
profissão e hoje o que mudou?
Graziella: Eu comecei na década de 70 e as
exigências eram: boa aparência, ter 1 metro e 65 de altura, peso de
acordo, 2º grau completo e de preferência um idioma. Hoje os
padrões de exigência mudaram. As empresas exigem uma altura mínima,
abaixo de 1,65; não falam mais sobre aparência ou peso de acordo.
Eles não citam isso, mas continuam dando preferência para quem tem
idioma. Agora com relação ao serviço de bordo, há cinco
décadas atrás era 10 vezes mais trabalhoso em relação a hoje.
CNTTL: Quais são as principais conquistas para as
mulheres aeronautas?
Graziella:Uma das maiores -- que beneficiou
tanto as mulheres como os homens -- foi a acomodação
individual. Quando eu comecei a voar, a gente dormia junto com
outra colega de trabalho.
Outro avanço foi a redução das horas de voo para a mãe --
importante porque há necessidade da amamentação e isso está
precisando até aumentar ! Hoje elas têm quatro meses de licença e
eu acredito que agora já tem que aumentar! Temos que
conscientizar de que a criança precisa do cuidado da mãe nos
primeiros seis meses principalmente.
Outro ponto positivo foi a redução da jornada para a mãe aeronauta
e o auxílio creche. Garantimos na nossa Convenção Coletiva o
pagamento da creche para as mães aeronautas com crianças de até 6
anos .
CNTTL: Qual a porcentagem de gênero na base dos
aeronautas?
Graziella: As mulheres cerca de 70% , considerando
somente os comissários. Temos a mulher piloto também, que não passa
de 10%. A participação da mulher como piloto é bastante
tímida e esse é mais um motivo para a mulher participar mais, para
poder garantir uma formação para que ela também possa seguir essa
carreira que muitas adoram, mas em virtude dos custos e das
condições acabam abandonando no meio do caminho. Embora, as
empresas estão mais dispostas a contratar mulheres como
piloto.
CNTTL: Por que tem pouca
mulher da aviação no movimento
sindical?
Graziella: A mulher aeronauta que é mãe e dona
de casa tem muitas jornadas em um dia só. Por exemplo, ela acabou
de ter neném, vai para uma jornada reduzida, que são seis horas ou
sete no máximo, mas ao chegar em casa tem que amamentar,cuidar do
neném, da família, marido e etc. É uma jornada bastante puxada para
quem faz parte da aviação.
Ela não pode pegar a criança na creche no mesmo horário sempre, a
aviação não lhe dá essa condição embora tenha essa jornada
reduzida.
E esse seja talvez alguns dos motivos da falta de uma participação
mais intensa das mulheres no movimento sindical do setor
aéreo.
CNTTL: Qual a sua
mensagem para as mulheres trabalhadoras?
Graziella: Eu vejo como importantíssimo que elas
continuem lutando pelos seus direitos. A cada dia que passa está
mais evidente da necessidade da mulher estar participando da vida
ativa, política, sindical, trabalhista, porque somente ela
efetivamente pode apresentar aquilo que é de interesse do
gênero.
Nós já tivemos algumas conquistas, mas quanto mais as mulheres
participarem, melhores serão as conquistas e com mais
conteúdo.
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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