Arquvio FUP
Considerado essencial para financiar o
desenvolvimento do país, especialmente, a saúde e a educação, o
pré-sal está na mira dos que sempre enxergam na crise uma ótima
oportunidade para se livrar do patrimônio público e atender a
interesses estrangeiros.
Parte do pacote de maldades que deve voltar à pauta no
Congresso Nacional neste ano, o PLS 131 (projeto de lei do Senado),
apresentado pelo senador José Serra (PSDB-SP), em 2015, defende
tirar da Petrobras a obrigatoriedade de ser exploradora exclusiva
dessa riqueza.
Acusado de atuar como lobbista a serviço de companhias como Exxon e
Chevron, Serra usou o argumento de uma suposta falta de recursos da
empresa brasileira para tentar mudar a Lei de Partilha nº
12.351.
Segundo a medida sancionada por Lula em 2010, a Petrobras tem de
participar com ao menos 30% dos investimentos na perfuração dos
blocos e é operadora única da camada pré-sal. Esses pontos são
considerados fundamentais para um mínimo controle sobre o volume de
petróleo extraído. Contrário a isso, o PLS permite a exploração
exclusiva pela iniciativa privada.
Para o Diap (Deparmento Intersindical de Assessoria Parlamentar), a
tendência é que o projeto consiga ser aprovado com alguma mudança
no conteúdo, como a condição de que a participação da Petrobras
seja facultativa e não mais obrigatória.
Manobra repudiada pela FUP (Federação Única dos Petroleiros), que
atuou ao lado da CUT para derrotar os dois pedidos de urgência na
votação do texto propostos por Serra.
“Para nós, deixar facultativo é muito subjetivo, não existe regime
de partilha sem que a Petrobras seja a operadora única e tenha 30%
de participação”, define o coordenador-geral da federação, José
Maria Rangel.
Papel desenvolvimentista
A FUP defende que somente com o monopólio estatal na operação será
possível garantir a política de conteúdo local (aquisição de
equipamentos para a produção a partir de empresas nacionais), a
preservação do modelo de exploração do pré-sal que só o Brasil
domina e a manutenção do Fundo Social, financiado com os lucros da
exploração do pré-sal.
Pela lei de partilha, as companhias gerenciam e operam as
instalações dos campos de petróleo, mas o Estado detém a
propriedade do petróleo. Ganha a concorrência, a empresa que
oferecer maior lucro ao Estado.
No caso dos campos de Libra, por exemplo, que inicia a produção em
2017, 60% do lucro fica com o Estado. Desse montante, 50% vai para
o fundo social, que destina também metade do valor para a educação
e a saúde. Por isso a necessidade de a Petrobras ser a única
operadora como forma de evitar qualquer drible na arrecadação.
“O que está em jogo é a soberania nacional e isso os parlamentares
começaram a enxergar. Você tem o mercado de petróleo aberto há mais
de 20 anos e a Petrobras é a que mais investe neste setor, o
equivalente a 98% da produção. Além disso, se alegam que a
exploração do pré-sal não é viável economicamente para a empresa
brasileira, porque seria para uma estrangeira?”, questionou.
Rangel defende que o momento de baixa do petróleo, influenciado
pela decisão da Arábia Saudita de abrir as torneiras para derrubar
o preço e inviabilizar o gás de xisto americano, é passageiro e
deve ser aproveitado para capitalização.
Desmonte da farsa
O coordenador da FUP não está sozinho em sua avaliação. Logo após a
audiência pública sobre o PLS no Senado, em setembro do ano
passado, o engenheiro aposentado Fernando Siqueira divulgou um
artigo com ao menos quatro pontos que desmentem os argumentos de
Serra sobre recursos e produção.
Siqueira lembrou que o pré-sal já produz
1.050.000 barris de óleo por dia, o equivalente a 40% da produção
nacional. Além de Libra, os campos de Tupi, Iara, área das Baleias
(ES) e Sapinhoá também estão produzindo. Enquanto os de Búzios e
Carcará estão em desenvolvimento.
Ele também questionou a dívida que inviabilizaria a empresa com uma
conta simples. Segundo o engenheiro, a Petrobras tem pendências na
ordem de US$ 125 bilhões. Já descobriu 60 bilhões de barris no
pré-sal e tem ainda 14 bilhões no pós-sal. Multiplicando por US$ 32
por barril, que é o preço Brent atual, o resultado é US$ 2
trilhões, muito acima do montante devido.
Por fim, como a FUP, ele também questiona a participação
facultativa da Petrobras na exploração do pré-sal pelo poder do
lobby das transnacionais. “A Petrobras descobriu o Campo de Libra,
o maior do mundo atual. A então presidente Graça da Petrobras
declarou em audiência publica no Senado que a Companhia queria
muito o campo e não levou. Porque o governo, sob pressão do lobby
internacional, incluindo o vice-presidente americano Joe Biden, fez
um leilão fajuto e entregou 60% do campo para o cartel do
petróleo”, afirmou, numa sinalização de como a decisão do Congresso
pode definir a autonomia do país.
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