Da CUT/RS
A 20ª Marcha dos Sem, realizada na tarde de sexta-feira (11), em Porto Alegre, foi marcada por manifestações contra o pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT), aberto pelo presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), no final do mês de novembro.
Organizada pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS), integrada pela CUT -RS, a marcha iniciou na Rótula das Cuias, passou por ruas centrais e terminou em frente ao Palácio Piratini, com o canto do Hino Nacional.
Sob muito calor, os manifestantes com camisetas “Fora Cunha, não vai ter golpe” e muitas bandeiras de diferentes entidades sindicais e de alguns partidos foram se juntando na Rótula das Cuias. Na avaliação da CUT-RS, mais de 10 mil pessoas participaram da marcha. A Brigada Militar calculou somente 2 mil.
Para se proteger do sol, muitos abrigavam-se debaixo das árvores, enquanto no carro de som lideranças sindicais se revezavam no microfone, intercalando com cantos de “Não vai ter golpe, vai ter luta”, “Não vai ter golpe, fora Cunha”.
Denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por desvio de recursos da Petrobras na Operação Lava Jato e por manter contas secretas na Suíça, o presidente da Câmara foi o principal alvo dos manifestantes. “O Cunha sai, a Dilma fica, “1, 2,3, o Cunha no xadrez”, “Cunha Fora daqui, vai embora e leva junto o Levy”, gritavam os participantes, fazendo também uma referência ao ministro da Fazenda, Joaquim Levy.
Contra a política econômica
Em cima do caminhão, lideranças afirmaram que não concordam com a política econômica do governo Dilma, contudo o mais importante neste momento é a defesa da democracia e a manutenção do mandato da presidente. “Nós temos críticas à política econômica, mas os que estão propondo o golpe não querem fazer uma política melhor para os trabalhadores”, disse uma das lideranças, ao microfone. E prosseguiu: “O que está em jogo são os direitos dos trabalhadores, não só as conquistas dos 12 anos.”
Não ao golpe e ao retrocesso
“Vocês têm de ir para a rua defender os seus direitos”, desafiou o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas. Em caso do afastamento da presidente Dilma, segundo ele, os trabalhadores “serão perseguidos”. “Mas isso não vai acontecer”, afirmou.
Ele acrescentou que as centrais sindicais têm críticas à política econômica adotada pelo governo, defendendo uma plataforma voltada para os trabalhadores, que elegeram a presidenta. “A luta não é só pelo mandato da Dilma, é também contra retrocessos,” frisou Vagner.
“A direita pensa que nós somos ingênuos. Eles são contra os trabalhadores. São aqueles que são a favor da terceirização, que são contra a valorização do salário mínimo e que querem acabar com a previdência social”, alertou o presidente nacional da CUT. “Eles querem derrotar a classe trabalhadora”, enfatizou ao criticar também “o clima de ódio e violência” que os golpistas vêm espalhando no país. “Vivemos um momento de luta de classes. São os trabalhadores contra a burguesia”, disse.
“O Collor era corrupto e foi cassado. O corrupto hoje é o Cunha”, comparou ao salientar que não há motivo para o impeachment de Dilma, mas sobram razões para cassar o presidente da Câmara.
Vagner lembrou que a história do Brasil mostra que, quando o país foi governado por presidentes que tinham compromissos com os trabalhadores, as elites apelaram para romper com a democracia. “Quando avançamos com João Goulart, fizeram o golpe”, citou.
“Nós temos condições de enfrentar o golpe”, apontou. Ele convocou os trabalhadores a participar do dia nacional de mobilização que ocorrerá na próxima quarta-feira (16). “Já estão marcadas grandes manifestações em São Paulo e em Brasília”, anunciou Vagner. “Dia 16 é dia de luta”. Em Porto Alegre haverá manifestação às 17h na Esquina Democrática. Também ocorrerão protestos em cidades do interior do Estado.
“Vamos tomar as ruas e impedir o retrocesso”, conclamou. “Saio do Rio Grande do Sul com muita energia porque a marcha foi extraordinária”, resumiu Vagner
As manifestações foram encerradas por João Pedro Stédile, integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). “O Brasil vive uma grave crise econômica, política, social e ambiental e o responsável é a lógica de exploração do capitalismo que não tem limites”, disse. “O Brasil está sendo extorquido pelo capital internacional”.
“Defender a Dilma não significa defender os erros da política econômica”, afirmou. Ele disse que o que está em jogo “são os rumos do país” e que o processo de impeachment aberto pelo presidente da Câmara foi “um salvo conduto” para Cunha evitar a prisão, “largando a bomba para o lado da Dilma”. “O diabo faz a panela, mas não faz a tampa”, observou ele, dizendo que a estratégia de Cunha não funcionará por muito tempo e motivou os movimentos sociais a saírem às ruas para pedir seu afastamento.
“Querem ganhar no tapetão para implantar o neoliberalismo, que foi adotado pelo governo FHC nos anos 90 e foi derrotado nas urnas”, apontou Stédile.
Vigília
Stédile convocou os movimentos sociais para continuarem fazendo mobilizações, com muita agitação e propaganda, e mais próximo da votação no Congresso a fazer acampamento na Praça da Matriz e a viajarem em caravana a Brasília, permanecendo em vigília contra o golpe e para “impedir que canalhas como Eduardo Cunha estejam fora da cadeia.”
O ato se encerrou da mesma maneira que começou, aos gritos de “não vai ter golpe, vai ter luta.”
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