Lidyane Ponciano
Foi uma aula o discurso do economista Marcio Pochmann sobre a economia brasileira e as alternativas para que ela volte a crescer, durante o 12º Congresso Nacional da CUT (CONCUT), realizado em São Paulo.
Para o economista, um ponto é fundamental. “Não é possível crescer na recessão, precisamos dizer ‘não’ à recessão e formular um novo projeto de crescimento para o País, que promova o crescimento”, afirmou Pochmann, que criticou o pacote de ajustes do Ministro da Fazenda, Joaquim Levy. “Os trabalhadores brasileiros não querem mais ser dirigidos, eles querem dirigir um outro projeto. Os trabalhadores não pode continuar pagando a conta.”
Durante sua palestra, o economista, que também é presidente da Fundação Perseu Abramo, pediu maior zelo com a indústria brasileira, pois “não é possível haver um País desenvolvido sem ela.”
De acordo com Pochmann, há um processo de mudança na correlação de forças na economia mundial. “Hoje, temos um esgotamento do centro dinâmico e produtivo do mundo, dos EUA para a China. Movimento similar só vivemos quando houve a migração, no fim do século 19, da Inglaterra para os EUA. Os EUA vive um momento de subdesenvolvimento, eles só conseguem investir 14% do PIB”, falou o economista, usando os americanos como exemplo de que a crise é mundial.
Porém, mesmo diante de um cenário de pouco crescimento, ele disse ser essencial ter um programa definido para estimular a economia. “O projeto chinês é ter, entre as 500 maiores empresas do mundo, 230 chinesas. Qual o projeto brasileiro? Temos que nos importar com essa pergunta”, alertou.
Trabalho, sindicalismo e as diretrizes para o crescimento
Pochmman pediu também um sindicato mais atuante para que a classe trabalhadora possa ser protagonista das mudanças que o País precisa. De acordo com o economista, há uma estagnação no trabalho de base das categorias.
“O modelo sindical brasileiro é uma máquina de pelegos. Temos uma estrutura sindical ociosa, com mais de 70 mil dirigentes licenciados. Onde estão essas pessoas? Infelizmente, não conseguimos transformar a classe trabalhadora no eixo de mudança do País”, criticou.
O economista lembrou que a mudança no formato de trabalho, agregando as novas tecnologias à sua rotina, se configuram em outra relação com o trabalhador e, portanto, um desafio para a CUT.
“As pessoas trabalham mais de casa, o que contraria as promessas do capitalismo, que era uma sociedade do tempo livre, uma sociedade do conhecimento. Isso se confirmou como mentira, pois vivemos cada vez mais em função do trabalho. As novas tecnologias tornaram o trabalho portátil, explicou Pochmann.
Para Pochmann, o Brasil precisa seguir cinco diretrizes para que o País volte a crescer. A primeira delas é combater o clima de recessão que “desmobiliza a classe trabalhadora”, e “não coloca o País na rota do crescimento.”
Ainda de acordo com as propostas do economista, é preciso rever a política de inflação, “ampliando o período de meta da inflação de 12 para 24 meses. Também, reprogramar a função do Banco Central, para que ele deixe de se preocupar apenas com a moeda, mas também com o emprego.”
Concluindo o segundo ponto de suas diretrizes, Pochmann falou sobre sonegação fiscal, que pode render recursos ao País que hoje são furtados. “Precisamos melhor a arrecadação e criminalizar os sonegadores, isso precisa ser crime no Brasil.”
O crescimento alinhado com questões ambientais, a construção de políticas sociais de segunda geração e o reposicionamento do Estado, como provedor de políticas que estimulem a participação popular e democrática, inclusive na construção do orçamento, completam a lista de diretrizes de Marcio Pochmann
Fora, Levy!
Após o prefeito de São Bernardo, Luiz Marinho, apontar a necessidade de a CUT defender a classe trabalhadora e pressionar o governo em defesa de direitos e do emprego, mas sem deixar de defender a democracia, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, ressaltou diretrizes de um novo modelo econômico que a Central defende e deve apresentar em breve.
“Até agências internacionais que dão notas aos países estão dizendo que o ajuste de Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda) é inadequado. Nós não temos concordância porque paralisa a economia, gera recessão e paralisa emprego, enquanto a Dilma perde popularidade. E o mercado não têm concordância porque dizem que ajuste é ineficaz. Então, que Levy está fazendo no governo?”, questionou.
Vagner questionou ainda qual a mensagem embutida na recente afirmação do ministro de que sem a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) o país terá problemas para financiar a Previdência.
“O que ele quer dizer com isso? Se não aprovar, vai ter reforma da Previdência. Ninguém mexe na Previdência, ninguém vai retirar nossos direitos e não aceitaremos chantagem”, alertou, com os gritos ao fundo de “Fora, Levy”, que já virou um mantra desse 12º CONCUT.
O presidente da CUT destacou, ainda, outros pontos que estarão na proposta para o desenvolvimento econômico da Central, como redução de juros, expansão do financiamento do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para pequenas e médias empresas – que mais empregam no país –, o direcionamento dos compulsórios do banco para financiar a habitação popular e a taxação de heranças.
“Não precisa fazer um debate sobre teoria econômica para implementar isso. E essas são boas notícias diferentes do ajuste do Levy.”
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