“A chamada liberdade da abolição não assegurou ao povo negro condições de inclusão na sociedade de forma digna”

Para a secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia Nogueira, a exclusão social imposta ao negros e negras durante séculos é ainda realidade nos dias atuais


Publicação: 13/05/2015
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Maria Júlia Nogueira Foto: divulgação

Em 2015, completam-se 127 anos da abolição inacabada dos negros no Brasil. Tempo infindo frente à violência e ao extermínio silencioso, especialmente da juventude negra. O dia 13 de maio de 1888 não foi a síntese da liberdade ao povo da diáspora, que permanece fazendo o enfrentamento nas ruas, nas academias, no mundo do trabalho.

Por três séculos, o Brasil explorou aproximadamente quatro dos 10 milhões de africanos que foram trazidos para exercer o trabalho escravo. Situação que só teve fim por conta da resistência dos negros escravizados, somado ao interesse econômico mundial de que o Brasil deixasse o sistema escravocrata. Neste dia em que comemora-se a “libertação” dos escravos com a chamada Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel, o movimento negro prefere não comemorar, mas refletir sobre a resistência que se dá pela cor da pele.

A secretária nacional de Combate ao Racismo da CUT, Maria Júlia Nogueira, afirma que a exclusão social imposta ao negros e negras durante séculos é ainda realidade nos dias atuais. “A chamada liberdade da abolição não assegurou ao povo negro condições de inclusão na sociedade brasileira de forma digna, muito pelo contrário, foram relegados às periferias das cidades, das relações formais de trabalho, ou seja, jogados à margem da sociedade que estava sendo construída”, destaca.

Beatriz Lourenço, do Levante Popular da Juventude, acredita que o Brasil se construiu a partir da exploração dos negros, a qual deixou como heranças uma população marginalizada. “É importante que a gente entenda sempre que não houve libertação dos negros, não houve abolição, não de verdade”, reafirma.

Suor resistente

No mercado de trabalho, os negros enfrentam dificuldades para conseguir emprego e, ainda, recebem salários menores. De acordo com estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) divulgado em 2013, os negros recebem, em média, 63,89% do salários dos não negros e se concentram em sua maioria no setor de serviços sendo 56,1% dos trabalhadores no País.

O estudo mostra também que entre 2011 e 2012, 27,3% dos afro-brasileiros empregados não chegaram a concluir o ensino fundamental e só 11,8% contavam com o diploma de ensino superior. Entre os não negros, esse valor era de 17,8% e de 23,4%, respectivamente.

Maria Júlia ressalta que o resultado da pesquisa é muito mais grave quando retrata questão de raça e gênero porque releva uma exclusão social ainda maior, já que 76,2% das mulheres negras são afetadas. “Elas encontram-se no serviço doméstico e não possuem carteira assinada”, explica.

Genocídio se alastra

No Brasil, a juventude negra permanece sendo assassinada, de modo especial nas periferias. Na última quarta-feira (7), dados do relatório Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência Racial 2014 mostram que a população negra entre 12 e 29 anos é a principal vítima de violência.

Em outros países a violência também dá sinais. Beatriz vê os protestos nos EUA contra mortes de jovens negros mortos por policiais brancos como uma revolta contra a violência, ainda que nos moldes diferentes do Brasil. “O racismo norte-americano é menos ‘mascarado’ do que no Brasil, já que lá não houve uma tentativa de negar a existência do racismo depois da escravidão. Corremos mais risco de violência porque convivemos diariamente com a falta de oportunidade de um lado e, de outro, com um aparelho policial doutrinado pelo racismo, que entra em nossas preferias e favelas para perseguir nossa juventude”, conclui.

Da CUT 



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