Vanessa Barboza - Mídia Consulte
A Avenida Paulista mais uma vez foi palco da mobilização da classe
trabalhadora na quarta-feira (15), Dia Nacional de Paralisação
contra o PL 4330, projeto que amplia a terceirização para todas as
áreas da empresa e retira direitos trabalhistas.
O ato, que reuniu milhares de pessoas, começou em frente à Fiesp
(Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), por volta das
15h30. Bonecos representando o presidente da Câmara federal,
Eduardo Cunha, o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o
Paulinho da Força (SDD-SP), e o empresário Paulo Skaf sofreram a
‘malhação de Judas’ e foram queimados em seguida. Um dos
protagonistas da mística foi o bancário Nelson Canesin, ferido na
última semana, em Brasília.
Nada mais lúdico do que usar do simbolismo para dar o recado direto
ao Congresso e aos patrões de que os trabalhadores não aceitarão o
retrocesso. Foi assim que os militantes saíram em caminhada para
formar um bloco ainda maior com os movimentos sociais, como o de
moradia. Enquanto isso, um terceiro bloco partiu do Largo da Batata
rumo à unidade na luta pela democracia.
O ponto de encontro foi a Caixa Econômica Federal, que teve sua
frente ocupada no instante da chegada dos sindicalistas. A bandeira
mesclava o fim do PL da “precarização da mão de obra”, como
chamavam alguns, com o direito à moradia digna.
Foi neste momento, embaixo de uma chuva fortíssima, que o
presidente da CUT Nacional, Vagner Freitas destacou que as
paralisações e atos ocorreram nas 27 capitais brasileiras. “Os
parlamentares estão reunidos pensando o que vão fazer com relação
ao 4330. Eles achavam que iriam passar o trator em cima da classe
operária e que iríamos ficar apenas ouvindo. Mas estamos e
continuaremos nas ruas fazendo o enfrentamento”, alertou.
Informações chegavam até os militantes de que, muito provavelmente,
a sessão seria adiada na Câmara. E foi o que aconteceu. “Até o
PSDB está revendo a sua opinião com relação ao projeto. Não porque
eles querem defender o trabalhador, mas porque eles sabem que nós
podemos derrotá-los nas ruas”, afirmou Vagner.
O presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI), João
Felício, alerta que o ataque do empresariado acontece no Brasil,
mas também faz parte de uma prática dos empresários
latino-americanos. “Cada país tem uma legislação que garante
direitos. Mas aqui querem reformar a CLT [Consolidação das Leis do
Trabalho] o que é péssimo porque sabemos o papel de liderança que o
país tem aqui no Continente. Mas acredito na nossa capacidade de
força para impedir que isso avance”.
Coordenador Estadual da CMP (Central de Movimentos Populares),
Raimundo Bonfim explicou que a luta contra o PL 4330 está na pauta
da Jornada Nacional de Luta por Moradia Digna, o chamado Abril
Vermelho, realizado neste período pelos movimentos sem-teto que
cobram direitos sociais.
“Hoje vários estados estão se dirigindo até a capital federal.
Amanhã terá um ato da reforma urbana em Brasília e, com essa força
e pressão dos movimentos populares urbanos, vamos cobrar uma
reunião com a presidenta Dilma. Queremos dizer que não aceitaremos
o PL 4330, nem a privatização da Caixa e nem o corte de verbas para
programas de regularização fundiária e de saneamento básico".
Enfrentamento
permanente
Os petroleiros, uma das categorias em que a terceirização se faz
presente em forma de acidentes fatais, também esteve no ato e
alertou que o crescimento desse modelo de contratação é sinônimo de
péssimas condições de trabalho, conforme apontou
a coordenadora do Sindicato dos Petroleiros Unificado de São
Paulo, Cibele Vieira.
“A Petrobrás tem hoje 300 mil trabalhadores terceirizados e esse
número, caso o PL 4330 não caia, só vai aumentar e piorar muito a
vida desses trabalhadores e trabalhadoras”, explicou.
Secretária de Imprensa da CUT São Paulo, Adriana Oliveira Magalhães
avalia que com as manobras do Congresso Nacional em relação ao
4330, os trabalhadores que elegeram a composição atual percebem que
muitos são os parlamentares que não os representam.
Também bancária, a dirigente aponta quais prejuízos a lei
representa para a categoria. “Significa que os bancos podem
terceirizar caixa, central de atendimento e tecnologia da
informação. O acordo coletivo de vinte anos que representa todos os
bancários do país e garante uma elevação salarial e negociações a
cada ano será rasgado”, disse.
Representante da Consulta Popular, Paola Strada avaliou que é
urgente uma mudança do sistema político. “Com esse Congresso não
dá, ele não fará a reforma política. Esse Congresso coloca o PL
4330 e daqui a alguns semanas vai votar o financiamento privado de
campanhas eleitoral e vai querer impor, através dessa figura do
Eduardo Cunha, mais uma derrota do povo brasileiro. Precisamos
estar juntos, mobilizados”, finalizou.
No final da tarde, outra parte dos movimentos sociais e sindical
chegou à Avenida Paulista com rojões. A Polícia Militar
intensificou sua frota neste momento. Às 20h30 todas as
organizações se encontraram para o encerramento final do intenso
dia de mobilizações.
Da CUT
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
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