O ex-ministro das Relações Exteriores (2003-2011) e da Defesa (2011-2015) Celso Amorim prevê que o isolamento internacional do Brasil, “que já era enorme”, deve aumentar com a chegada do democrata Joe Biden à presidência dos Estados Unidos. O alinhamento “servil” do presidente Jair Bolsonaro a Donald Trump, com a recusa, até o momento, em parabenizar Biden pela vitória na disputa eleitoral, impede que o Brasil possa ser visto como um interlocutor preferencial dos norte-americanos na região.
“Os Estados Unidos não vão romper relações com o Brasil. Não vão desprezar o mercado brasileiro. Mas tudo aquilo que depender de boa vontade do governo norte-americano, não se pode contar com ela”, afirmou Amorim, em entrevista ao programa Revista Brasil TVT, neste domingo (8).
Amorim afirmou que a “submissão total” do governo brasileiro a Trump trouxe “grande prejuízo” para o Brasil. Como exemplo, ele citou o estremecimento das relações do Brasil com a China. Além disso, nos organismos internacionais, o Brasil se afastou dos países em desenvolvimento, preferindo atuar como “cão de guarda” dos interesses norte-americanos.
Ele prevê que o governo Biden deve privilegiar mais o
multilateralismo e o diálogo nas relações com os outros países, na
comparação com Trump. Na América Latina, o ex-chanceler acredita
que, num primeiro momento, é “improvável” que a nova administração
adote postura menos intervencionista na região.
“Estamos assistindo a um movimento e a um momento de recuperação das forças progressistas da América Latina. Primeiro foi a Argentina, depois a Bolívia. E também o plebiscito no Chile. Tudo isso prevê que seja menos provável uma intervenção norte-americana, no sentido de apoiar um golpe. Pelo menos, não agora”, detalhou.
Política interna
A eleição de Biden não apenas reforçaria o isolamento
internacional, como deve provocar mudanças, inclusive, nas
políticas internas do governo brasileiro, segundo Amorim. Ele
citou, por exemplo, como “bem-vindas” as pressões por mudanças na
condução da política ambiental. Biden prometeu, por exemplo,
articular um fundo internacional para a proteção da Amazônia.
Contudo, Amorim disse ser contra eventuais ameaças de retaliação por parte do governo norte-americano. Esse tipo de posição, de acordo com o ex-ministro, ajudaria a reforçar uma postura “pseudonacionalista” do governo Bolsonaro.
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