"O Brasil tem uma herança maldita em infraestrutura", afirma especialista.

Paulo Resende, professor da Fundação Dom Cabral e da PUC-MG, frisa que esta "herança" é oriunda de 30 anos de descaso.


Publicação: 08/05/2009
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O especialista em logística da Fundação Dom Cabral (Santos-SP), Paulo Tarso Resende, disse que “o Brasil tem uma herança maldita em infraestrutura”. “Acumulamos prejuízos seguidos e são quase 30 anos de paralisação. As características de cada produto e de cada modal devem ser respeitadas e um complementa o outro, mas isso não ocorre no Brasil. Um sistema de transporte tira carga do concorrente, eles se tratam assim. E ainda perdemos muito ao não investir em cabotagem e hidrovias”, criticou. O Portal Porto Gente fez uma entrevista com o professor que é doutor em Logística pela Universidade de Illinois (EUA) e mestre em Planejamento de Transportes pela Universidade de Memphis (EUA). Paulo é professor da Fundação Dom Cabral e da PUC-MG. Considerado uma das referências quando o assunto é integração de modais, ele mostrou que muita coisa ainda precisa ser feita pelas autoridades brasileiras. E a culpa disso está em um descaso de mais de 30 anos. O site da CNTT-CUT reproduz a entrevista, leia a seguir:

PortoGente – O Brasil perde muito ao apostar maciçamente nas rodovias?

Paulo Tarso Resende – A questão principal é se as rodovias representam uma barreira ou uma possibilidade para o aumento de nossa competitividade, tanto no mercado externo quanto no interno. E, para chegar a uma conclusão, fiz um levantamento histórico que levou em conta o desenvolvimento das rodovias, a situação atual delas em termos de custo, serviço e concorrência com outros modais de transporte. E eu as vejo como um elemento fundamental para o crescimento do Brasil. Porém, as rodovias devem ser vistas como peças em corredores logísticos mais amplos. Não podemos só depender delas. 

PortoGente – O Brasil é um país rodoviarista?

Paulo Tarso Resende – Com certeza e não deixará de ser. A concentração rodoviária aqui é muito grande, nossas estradas estão presentes na cultura do empresário e das autoridades há décadas. E não há mal eterno em ser rodoviarista. Os Estados Unidos, maior economia do planeta, também são rodoviaristas. O caso é que a matriz de transporte está desequilibrada. As rodovias abrigam produtos que não deveriam ser transportados por asfalto e, com isso, prejudica-se os outros modais, como o ferroviário e o hidroviário, além de se perder uma excelente chance de fomentar o desenvolvimento da cabotagem. 

PortoGente – Hoje há conflito entre rodovias e ferrovias?

Paulo Tarso Resende – Sim, infelizmente existe. Uma tira carga da outra, quando o certo seria que as duas se completassem. Trata-se do conceito mais básico da intermodalidade, que muitas autoridades pensam em implantar, mas não percebem estes pontos contrários há muito tempo presentes no Brasil. As características de cada produto e de cada modal devem ser respeitadas e um complementar o outro. Aquilo que chamamos de cultura rodoviarista acaba ocorrendo porque o brasileiro tem costume de prejulgar. Pensa que sabe os resultados de determinada decisão antes mesmo de experimentá-la. 

PortoGente – Como assim?

Paulo Tarso Resende – Muita gente diz que não transporta por ferrovia no Brasil porque reclama do prazo de entrega da mercadoria, que ela demora demais para chegar ao destino final. Mas, se os empresários não ampliarem o volume de carga nas ferrovias, claro que as concessionárias jamais acelerarão seu prazo de entrega de produtos. Criou-se, dessa forma, um círculo vicioso que é alimentado pelo Poder Público, que sofre influência direta do setor rodoviário, um dos mais fortes do País. Apesar disso, estou otimista. A escolha de modais com preconceito sobre os demais deve terminar no momento em que as autoridades cumprirem as promessas e investirem nos projetos de ampliação de ferrovias e de hidrovias. 

PortoGente – O senhor trabalha há 25 anos com soluções logísticas. O que mudou neste tempo todo no Brasil?

Paulo Tarso Resende – Destaco duas grandes melhorias, que coincidência ou não, só saíram do papel nos últimos anos. Uma delas foi a concessão da exploração ferrovia e rodoviária, uma atitude fundamental. O Brasil deu um salto qualitativo a partir de 1996, quando o Governo abriu mão da administração destes modais e os repassou para a iniciativa privada. A outra grande melhoria foi o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Se ele vai se concretizar no cronograma previsto eu não sei, mas acho que só o fato do Brasil colocar na pauta de discussão o PAC já foi um salto. A infraestrutura voltou à tona, mas estamos engatinhando.

PortoGente – Perdemos muito tempo sem investir em infraestrutura?

Paulo Tarso Resende – Com certeza. Nossa herança é maldita em termos de infraestrutura, incluindo nesse meio a geração e distribuição de energia, além de todos os modais de transporte. Acumulamos prejuízos atrás de prejuízos por anos seguidos. São quase 30 anos de paralisação, o que torna impossível a recuperação completa em 10 anos. É uma questão de tempo, que, sinceramente, acredito que será superada. Temos tudo para desenvolver, potencial, dinheiro e empresas ávidas em construir. Precisamos é acelerar isso. 

Fonte: Porto Gente (reprodução CNTT-CUT)

 

 



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