Equívoco do parlamentar

Os metroviários continuarão a defender suas conquistas e o transporte público


Publicação: 10/09/2007
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             É lamentável que a passagem do deputado federal Ricardo Izar (PTB-SP) pelo Centro Acadêmico 22 de Agosto, do curso de direito da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), e seus mais de 32 anos de vida parlamentar não tenham lhe acrescentado nenhum aprendizado sobre as relações humanas, o respeito às divergências e a tolerância aos contrários. 

              Os 21 anos de liberdade democrática vividas no Brasil não foram suficientes para mudar a concepção totalitária e truculenta que orientou o início da vida política do deputado Ricardo Izar durante o obscuro período da ditadura militar. Mais lamentável ainda é que o deputado, pós-graduado em direito penal pela PUC-SP, presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara dos Deputados, acostumado a lidar com calúnias, mentiras e difamações, não tenha tido o cuidado de checar as informações a respeito dos reais motivos que levaram os metroviários à greve. 

              É preocupante que um parlamentar com as responsabilidades que tem o deputado Ricardo Izar faça um artigo duro e enfático, com pesadas acusações e taxativas orientações de punições baseado apenas no argumento de que, "pelo que nos consta, a questão maior envolvida seria uma eleição que se avizinha para a renovação da presidência do Sindicato dos Metroviários" ("Terrorismo sindical", "Tendências/Debates", 23/8). 

           Acreditar que uma disputa eleitoral desviaria do caminho da seriedade e do respeito pela população os metroviários -que desempenham seu papel com orgulho e competência e que têm reconhecidas sua eficiência e sua dedicação- é, no mínimo, infantilidade ou má-fé. Como não acredito que o presidente do Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara agiria de má-fé, lamento que tenha sido enganado por pessoas que o assessoram.

            Sobre a paralisação dos dias 2 e 3 de agosto, temos a esclarecer ao senhor deputado, aos demais parlamentares e à população em geral que os metroviários estavam defendendo o recebimento da participação nos resultados (PR) de forma igual para todos, como acontece desde 1995. 

              O que ocorreu dessa vez foi que, em seu primeiro ano de governo, o senhor José Serra, extrapolando suas atribuições, interferiu na organização e na autonomia sindical e tentou impor aos trabalhadores a distribuição da PR de forma proporcional, privilegiando chefes, gerentes e diretores do Metrô, que receberiam até cinco vezes mais do que os demais. 

               Cabe ressaltar que a negociação da PR com a empresa se limita à discussão do montante a ser distribuído e sobre quais metas devem ser atingidas para que os trabalhadores façam jus ao recebimento. A forma de distribuição da PR é prerrogativa dos trabalhadores, que, para isso, discutem com seu sindicato em assembléia.

             O deputado, em vez de destilar sua ira contra os metroviários e suas lideranças, pregando algema, prisão e expropriação da entidade sindical, deveria conduzir sua energias para apurar os massacres do Carandiru, da Castelinho, de Eldorado do Carajás, os assassinatos de sem-terras e pequenos agricultores, as mortes em hospitais públicos por precariedade de estrutura e funcionamento, o abandono do transporte metroviário na cidade de São Paulo nos últimos 12 anos e a entrega de serviços públicos para as "organizações sociais" -verdadeiros ralos do dinheiro público; e ainda deveria ter se indignado com as privatizações criminosas do patrimônio público, como no caso da Companhia Vale do Rio Doce.

             Enfim, deputado, apesar de sua ira e a despeito de sua opinião, os metroviários continuarão a defender suas conquistas, o transporte público e o direito do usuário de ter uma ampla rede de metrô, público, estatal, de qualidade, com tarifas sociais, e não um minúsculo metrô em dia de greve. 

           Não será uma ação truculenta de parlamentares -com sua concepção antidemocrática, que pretende tirar dos trabalhadores o direto de lutar e se defender- que nos intimidará. No condenável período da ditadura militar, diversos trabalhadores morreram torturados, se rebelando contra leis (AI-5) que, hoje, Vossa Excelência quer ver reeditadas, e não será diferente agora.

            Por isso, ameaças de vozes como a de Vossa Excelência não intimidarão metroviários, petroleiros, professores, médicos, metalúrgicos, bancários, condutores e nenhum outro trabalhador que queira diminuir as desigualdades no Brasil e ter seus direitos e conquistas respeitados.

Fonte: Wagner Gomes é vice-presidente da CUT e ex-presidente do Sindicato dos Metroviários de São Paulo.

   



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