“A infraestrutura nos aeroportos não está saturada. Na realidade ela tem sido mal utilizada”, afirma Lemos
O Portal da CNTT-CUT entrevistou o presidente do SINA, confira a seguir.
Publicação: 05/07/2010
Um estudo
divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA)
sobre a estrutura aeroportuária brasileira deixou irritados os
trabalhadores do setor de aviação civil. Um dos pontos polêmicos do
estudo afirma que a “infraestrutura aeroportuária do País está
saturada e impede o setor aéreo nacional de crescer no ritmo da
demanda”. O presidente do Sindicato Nacional dos
Aeroportuários (SINA-CUT), Francisco Lemos (foto),
não concorda e explica que o problema não é esse. “Na realizada, a
infraestrutura oferecida pela Infraero (empresa aeroportuária
brasileira) tem sido mal utilizada pelas companhias aéreas”,
frisa. Lemos citou alguns problemas que
acontecem no dia-a-dia como: as esteiras de bagagem funcionando sem
malas; boxes de check-in subutilizados; a demora no atendimento nos
check-in e têm lojas que vendem passagens que não têm profissionais
e também não há investimento em treinamento e capacitação. E os
problemas não param por aí. O Portal da CNTT-CUT entrevistou o
presidente do SINA confira a seguir:
CNTT-CUT: Por que o senhor
não concorda com a avaliação do IPEA sobre a infraestrutura
aeroportuária?
Francisco Lemos: O fato do IPEA ter assinado esse tipo de
estudo me causou espanto, considerando a capacidade técnica
desta entidade de
pesquisa. Mas se formos analisar pelo contexto histórico, não é
difícil de acreditar, já que na época da Ditadura Militar o
IPEA era privilegiado por divulgar somente aquilo que lhe
favorecia, já que a maioria dos seus quadros eram ditadores.
Lamento que um Instituto de tal envergadura se preste a divulgar e
a assinar um estudo que tem ótica míope e propósitos duvidosos e
tendenciosos em benefício de interesses descarados do
neoliberalismo privacionista.
CNTT-CUT:Então, quais são os
pontos negativos?
Lemos: Não é verdade quando o estudo do IPEA aponta que a
infraestrutura aeroportuária do Brasil está saturada e isso tem
impedido o setor aéreo de crescer. Na realidade, a infraestrutura
oferecida pela Infraero é mal utilizada pelas companhias aéreas.
Cito alguns exemplos que tem acontecido no dia-a-dia nos
aeroportos: esteiras de bagagem funcionando sem malas; boxes de
check-in subutilizados; demora no atendimento nos check-in; lojas
de vendas de passagens sem pessoal capacitado. E o mais grave: a
segunda maior companhia aérea brasileira não disponibiliza o
Certificado de Habilitação Técnica/CHT para os seus pilotos
pousarem por instrumentos e, contraditoriamente, cobram da Infraero
a instalação do ILS (Instrument Landing System - equipamento que
permite pouso com pouca visibilidade). A Infraero está passando por
um momento de muitas especulações e o estudo do IPEA só mostrou a
ótica das companhias aéreas, que em conjunto com a ANAC (Agência
Nacional da Aviação Civil) têm interesse em privatizar os
aeroportos brasileiros, que são um rico patrimônio da nossa
população.
CNTT-CUT:Mas os
aeroportos não precisam de estruturação? E a ANAC tem
feito o seu papel?
Lemos: Lógico que os aeroportos precisam de estruturação, não
digo por causa da Copa do Mundo (o Brasil vai sediar os jogos em
2014) ou Olimpíadas (2016), mas porque a demanda tem crescido
diariamente. Acontece que a infraestrutura já existe, só que
não é utilizada; quantas vezes as minhas malas já demoraram de
chegar, sendo que a esteira estava rolando sozinha? A Gol,
por exemplo, não usa o aparelho que permite o avião estacionar com
visibilidade para não ter que pagá-lo, sendo que ela pode! Na
verdade, a grande vilã desta história é a ANAC (Agência Nacional de
Aviação Civil), cujos papeis são: reprimir e sancionar infrações quanto ao direito
dos usuários e manter a continuidade na prestação de
um serviço público de âmbito nacional. A Infraero não pode se meter ou multar uma
companhia áerea que não investe.
CNTT-CUT: Quais ações o senhor defende para melhorar o atendimento
nos aeroportos brasileiros? Lemos: Defendo a implantação de
penalidades, por exemplo, os passageiros que permanecerem por mais
de 20 minutos na fila do aeroporto poderiam exigir que a companhia
fosse multada. Aqui em São Paulo existe uma lei aplicada aos bancos
neste sentido. Com relação aos funcionários, seria importante
investir na qualificação e treinamento. Reforço mais uma vez que o
problema não está no investimento da infraestrutura, considerando
que de 68% dos lucros oriundos dos aeroportos, apenas 12% é
utilizado.
Viviane Barbosa, editora
do Portal da CNTT-CUT, com a colaboração de Geisi
Santos.