O jogador
Tinga entrou no segundo tempo da derrota do Cruzeiro para o Real
Garcilaso, do Peru. A cada vez que tocava na bola, uma sonora vaia
formada por gritos que imitavam o som de macacos vinha das
arquibancadas.
O ocorrido esta semana ao jogador não foi nenhuma novidade, ele
mesmo já havia sido vítima de racismo em outra ocasião, quando
jogava pelo Internacional. O meio-campista declarou que preferia
não ter conquistado nenhum título em sua carreira se pudesse viver
sem o preconceito. “Eu queria, se pudesse, não ganhar nada e ganhar
esse título contra o preconceito. Trocava todos os meus títulos
pela igualdade em todas as áreas”.
No decorrer da história do futebol o racismo tem se manifestado em
diversos momentos e os que mais sofrem quando um jogador é vítima
da intolerância são seus familiares. Em entrevista, o jogador Tinga
disse que o que realmente o abalou foi saber a reação do filho, que
chorou bastante com o que aconteceu e não quis ir à escola no dia
seguinte.
O Ministério da Cultura peruano, em nota divulgada no dia 13 de
fevereiro, condenou os atos de racismo praticados em seu país
contra o jogador e renovou seu compromisso contra a luta
étnico-racial e chamou a Federação Peruana de Futebol e a
Associação Desportiva de Futebol Profissional a renovar seu
compromisso e divulgar a Campanha "Coloque-se alerta contra o
racismo".
O que ocorreu no Peru levou grande parte da sociedade brasileira a
mostrar sua indignação, pois para muita gente, não existe racismo
no Brasil, existe no Peru e em outros lugares e gera revolta, mas,
no Brasil, nem pensar.
O Brasil concentra a maior população afrodescendente fora da
África, e mesmo assim negro continua sendo o maior alvo da
violência e sofrendo a maior desigualdade no mercado de trabalho. É
lastimável que manifestações racistas ainda ocorram nos dias
atuais, e não apenas no futebol.
Convivemos com a desigualdade entre negros e brancos e muitos
pensam que é fruto somente de um problema social, não do
preconceito, o que legitima que o preconceito se mostre em nosso
cotidiano. Mas esta teoria da igualdade racial em nosso País é
desmentida por casos como os que ocorreram na semana passada e que
foram amplamente noticiados.
No primeiro caso, durante uma pane em um ônibus em Taguatinga, uma
cobradora foi chamada de negra ordinária e preta safada. A
passageira que a ofendeu ainda completou que não adiantava ligar
para a polícia para denunciá-la porque, segundo ela, a polícia não
vem para preto.
O segundo caso de racismo aconteceu em um salão de beleza no
Distrito Federal. Uma australiana, que vive legalmente no Brasil há
cinco anos, disse que não queria ser atendida por uma manicure
quando viu que ela era negra e que não queria ficar perto destas
pessoas de raça ruim. Ela também ofendeu o policial negro que a
levou até a delegacia. Segundo a polícia, a australiana já tinha
várias passagens pela polícia por dirigir bêbada. O mais incrível
foi, depois de ter sido encaminhada a um presídio por um crime
inafiançável como é o racismo, ela ter conseguido um habeas corpus,
em pleno final de semana, mesmo não sendo ré primária.
A Lei Caó, que este ano completou 25 anos, pune crimes contra o
racismo define como crime o ato de praticar, induzir ou incitar a
discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou
procedência nacional. Também regulamentou o trecho da Constituição
Federal que torna inafiançável e imprescritível o crime de
racismo.
O crime de racismo atenta contra os princípios nos quais se erige e
se organiza a sociedade humana, baseada na respeitabilidade e
dignidade do ser humano e de sua pacífica convivência no meio
social. Não podemos seguir dizendo que isso foi uma coisa menor,
para deixar pra lá. Episódios como este podem causar um sentimento
de inferioridade, forjado coletivamente, que destrói os anseios e
fortalece os estigmas raciais. Queremos ver a situação finalmente
mudar. A democracia é incompatível com crimes de racismo.
O movimento sindical cutista seguirá atento e denunciará os casos
de discriminação que ocorram contra os trabalhadores, sejam eles
jogadores de futebol, manicures, policiais ou em quaisquer funções
que desempenham e permanecerá empenhada em eliminar o racismo em
todas as suas formas.
*Maria Júlia Nogueira é secretária Nacional de Combate
ao Racismo da CUT
Secretário Nacional de Comunicação da CNTTL: José Carlos da Fonseca - Gibran
Redação CNTTL
Mídia Consulte Comunicação &Marketing
Editora e Assessora de Imprensa: Viviane Barbosa MTB 28121
WhatsApp: 55 + (11) 9+6948-7450
Assessoria de Tecnologia da Informação e Website: Egberto Lima
E-mail: viviane@midiaconsulte.com
Redação: jornalismo@midiaconsulte.com
Siga a CNTTL nas redes sociais:
www.facebook.com/cnttloficial
www.twitter.com/cnttloficial
www.youtube.com/cnttl
Mídia
Canal CNTTL